As Aventuras de Nando & Pezão

“Jovem Cientista”

Capítulo 1 – Ele Ainda Nem Sabe

Pensei que Pezão ia sofrer um pouquinho na cadeia. Eu já tinha até título para este novo episódio: "Pezão no Carandiru – Outras Histórias". Mas ... não foi bem assim. A mãe dele é foda. Alguns telefonemas para as pessoas certas e Pezão já estava de volta à sociedade. Pobre sociedade.

A primeira coisa que ele fez quando voltou pra casa foi me ligar. Bom, creio que vocês já fazem uma idéia de como foi o tom da conversa. Vou contar como foi:

— Alô — eu não imaginava que pudesse ser ele.

— Alô o caralho, seu filho da puta!!! O que você fez comigo vai ter volta, viu? Não pense que você vai sair limpo da parada, seu porra!!!

— Calma, brother, eu só estava de zoeira.

— Zoeira o caralho, Nando, você pisou na bola! Por que não disse que o carro era meu? Por que não disse que me conhecia? Você deve ter achado tudo muito engraçado, né?

— Pra ser honesto achei sim.

E comecei a rir feito uma hiena com oniquite. Se você não sabe o que é oniquite eu não posso fazer nada. Procure um dicionário, sua anta!

Pezão ficou ainda mais puto. Deu pra sentir as veias da testa saltarem feito cangurus no cio.

— Meu, você está fodido comigo. Isso não vai ficar assim, não!

— Pezão, fica de boa.

— Ficar de boa o caralho!!! O que você fez ...

— O que eu fiz não chega nem a 10% do que você já aprontou comigo em todos estes anos. Quer que eu numere todas as pisadas na bola que você já deu? Posso não me lembrar de todas, mesmo assim eu ficaria até a semana que vem aqui nesta porra de telefone.

— Não exagera.

— Não exagera o caralho!!! Desde a nossa infância que você me sacaneia. Lembra da vez em que você colocou cocô na gaveta da professora e a culpa caiu em mim? Lembra da vez em que você fez xixi na barraca das meninas e a culpa caiu em mim? Lembra da Marlene Sapinho? Lembra, né? Aquela que você deu um chupão nas tetas, atrás da escola, lembra? O murrão que o namorado dela me acertou dói até hoje, viu? Claro, porque a culpa caiu em quem? No Nando, como sempre.

Pezão começou a rir. Filho da puta.

— Agora você ri, né?

— Marlene Sapinho — disse ele, rindo enlouquecidamente. — Meu, como você foi lembrar disso? Desenterrou do fundo do baú agora.

— Você pode ter esquecido das pisadas na bola, mas eu não. Jamais.

— Porra, mas desta vez eu fui até preso, brother.

— E daí? 

— E daí que você quer comparar uma coisa com a outra.

— Comparar o escambau, eu só estou dizendo que você pisa na bola comigo desde a nossa infância. Não vem dar uma de santo, seu porra!!!

Pezão começou a rir outra vez.

— Marlene Sapinho!!! — disse ele outra vez. — Acho que foi a primeira vez que eu vi dois peitinhos com meus próprios olhos. Eu caí de boca com tanta vontade que a mina ficou apavorada, pensou que eu ia arrancá-los. Meu, por onde será que anda aquela biscate?

— Pezão.

— Hã.

— Enfia o dedão no cu e assovia!!!

E a raiva do Pezão foi passando com o tempo.

Somos amigos há muitos anos, já tivemos muitas discussões, até brigas feias. Lembro-me de uma vez em que saímos no tapa em frente ao colégio. Nem preciso dizer que foi por causa de mulher, né? Foi o maior mico, e pra ajudar ninguém ficou com a mina. É por isso que eu digo: a mulherada faz a gente de trouxa. Sempre foi assim e sempre será.

Ah, só um detalhe, eu ainda não contei pra ele que comi a Maria Rita. E aí, conto ou não conto? O que vocês acham? Hahaha ... Deixa pra lá, né? Mais cedo ou mais tarde ele vai descobrir mesmo. Não compensa colocar mais lenha na fogueira.

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmm!!!!!!

Putz, falando na besta ...

— Fala, Zé Boceta.

— Hã?

Putz! Não é a voz do Pezão.

— Desculpa. Quem é?

— É da casa do Nando?

Estranho. É voz de criança. Será o Rodligo? Hahahaha ... Porra, é claro que não, o guri ainda não tem idade pra isso, né? Dããããã!!!

— Sim, Nando sou eu, mas quem é você?

— Meu nome é Caíque, eu sou irmão da Caroline.

— Irmão da Caroline?

— Sim, você deve ter me visto quando foi lá em casa chamar as minhas irmãs.

— Acho que lembro sim. Mas como você descobriu o meu telefone?

— Eu guardei algumas coisas da minha irmã, e achei o seu telefone. Ela gostava muito de você, cara. Muito mesmo.

Fiquei meio sem saber o que responder. Além de bater uma certa tristeza. Pobre Caroline.

— Que bom — eu disse, com a voz um pouco alterada.

— Eu preciso ser rápido, ninguém sabe que estou no telefone. Se me pegam eu serei castigado.

— Seus pais me odeiam, não é?

— Meus pais morreram, Nando. Não tenho mais ninguém. Eu estou num orfanato.

— Como é que é?

— Nando, eu preciso ir, acho que me descobriram. Eu só liguei pra avisar que você será o próximo.

— Próximo? Do que você está falando? 

— A minha madrasta matou as minhas irmãs e o meu pai. Ela também tentou me matar, mas consegui escapar. E sei que você também está na lista dela.

— Caralho, guri, isso é hora de passar trote?

— Não é trote, Nando! — O guri estava com a voz trêmula. — Eu só liguei pra você por causa da minha querida irmã. Ontem sonhei com ela. No sonho ela me pedia para avisar sobre o perigo que você está correndo.

— Meu, mas isso é loucura!!! Não pode ...

De repente gritos no outro lado da linha. Vozes adultas mandavam o guri desligar o telefone. Mas antes de obedecê-los ele ainda achou tempo para me dizer isso:

— Fica esperto, Nando! Minha madrasta está solta e quer te pegar.

Tum! Tum! Tum! A ligação caiu.

Caralho!!! Mas que diabos foi isso? Será que foi trote? Porra, mas não pode ter sido trote, foi real demais. Tão real que estou até tremendo. Putz, meu coração está quase passando pela minha garganta. Sinistro!

Meu, vamos supor que o moleque tenha dito a verdade ... quem é esta madrasta? Será a mãe da Caroline? Bom, o moleque disse que a madrasta matou as irmãs e depois o pai dele, certo? Todos nós sabemos que Caroline morreu a vassouradas pela própria mãe, certo? Mas o moleque disse que a madrasta matou as "duas" irmãs. Mas Carolina morreu dentro do banheiro do motel, não foi? Não tinha mais ninguém com ela, certo? Porra, agora já não estou entendendo mais nada. E por que ela estaria atrás de mim? O que foi que eu fiz pra ela? 

Este maldito telefonema deu um nó no meu cérebro.

Porra, justo agora que eu estava começando a apagar o trauma da Caroline. Droga!

Querem saber de uma coisa? Eu vou sair pra dar uma volta. Se eu ficar aqui no meu quarto pensando nisso eu vou enlouquecer. 

Isso mesmo, preciso sair daqui.

Vou aproveitar e pegar os meus CD's que eu emprestei há séculos para o filho da puta do Pezão. Mato duas coelhinhas com uma pintada só.

Passei pela cozinha e minha mãe percebeu algo de diferente em mim. Afinal de contas, mãe é mãe.

— Que cara é esta, filho? Parece que viu um fantasma.

Se eu contar a respeito do telefonema serão dois preocupados. Melhor eu ficar quieto.

— Nem vi, mãe.

Lavei bem o rosto e saí de casa. Nem peguei bicicleta nem nada, saí a pé mesmo. Pezão nem mora tão longe assim.

Mas a cada esquina que surgia eu imaginava a maldita velha segurando uma faca e me ameaçando. Maldito trote do caralho, aquilo mexeu comigo. Ninguém merece, viu?

No meio do caminho vi uma dupla que vocês conhecem bem. Não, não é Zezé de Camargo e Luciano, porra!!!

— Olha lá o camaradinha — disse Pigmeu, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

Ao seu lado, o bom e velho Zoinho. Este apenas fez sinal de positivo ao me ver.

— Beleja? — eu disse, aproximando-me dos dois.

— Cadê a sua mãe gostosona?

— Porra, Pigmeu, se liga!!!

Zoinho me olhou estranho.

— Que história é esta? O Pigmeu conhece a sua mãe?

— Conhece porra nenhuma. O maluco só viaja. Nem é da minha mãe que ele está falando.

Pigmeu colocou a mão no ombro do Zoinho, arregalou aqueles olhos vermelhos e disse algo no ouvido dele:

— Não fala nada pro camaradinha, mas estruparam a mãe dele bem na minha frente.

Zoinho começou a rir. Não resisti e acabei rindo também.

— Fica frio, Pigmeu — respondeu Zoinho no mesmo tom — , não vou contar nada pro camaradinha Nando.

Ninguém merece amigos como estes. Fala sério.

— O que vocês fazem por aqui? — perguntei.

Zoinho ergueu a camisa e vi uma revista Playboy enfiada por dentro da calça. Putz, o cara não muda mesmo. Será que ainda tem espaço na casa dele pra tanta revista?

— Ficou sabendo que a professorinha das Chiquititas saiu peladinha? — e apontou para a revista. — Acabei de comprar.

De repente Pigmeu deu um murrão no estômago do Zoinho. Putz! Doeu até em mim.

— Caralho, Pigmeu!!! — gritou Zoinho, contorcendo-se em dores. — Vai se foder, meu!!!

— Tinha uma joaninha deste tamanho — e Pigmeu abriu os braços para exemplificar. — subindo pela sua barriga.

Zoinho ficou ainda mais puto.

— Eu vou mostrar o tamanho da joaninha pra você, seu cheirador do caralho!

Precisei segurá-lo, caso contrário eu não sei o que seria do Pigmeu. Bom, mas pelo menos desta vez ele não ia apanhar de mulher, né?

Acalmados os ânimos eu deixei os malucos para trás e segui meu caminho até a casa do Pezão. De certa forma a companhia dos dois me fez bem, acabei esquecendo um pouco aquela história maluca do telefonema.

Nem precisei tocar a campainha. A empregada estava regando as plantas no jardim e me viu.

— O coisa-ruim está aí? — perguntei.

— Está sim — respondeu ela, rindo e fazendo sinal positivo com a cabeça. — Entra.

Caralho, até que esta empregada nova é bem ajeitadinha. A coitada já deve estar sendo assediada pelo Pezão, com certeza. Daqui alguns dias pede demissão, como todas as outras.

Fui caminhando pelo jardim e encarando as pernas da empregada. Olhar não tira pedaço, né? De repente ela me flagrou.

— Vocês não prestam mesmo — disse ela, balançando a cabeça para um lado e para o outro.

Sorri e segui meu caminho. Pezão apareceu na janela do seu quarto e me viu.

— Quem morreu? — perguntou ele.

Putz! Acabei lembrando do maldito telefonema. Mas nem vou tocar no assunto, não agora.

— Vim pegar os meus CD's.

— Que CD's ?

— Seu bosta, mês passado você foi lá em casa e pegou uns 10 CD's emprestados.

— Nem me lembro.

— Mas eu lembro.

Passei pela garagem e o carro do Pezão continua com os mesmos amassados e arranhões deixados pelo pai da Maria Rita. Estranho, Pezão trata o carro como se fosse um filho. Acho que desta vez a mamãe não quis bancar o conserto. 

Bom, estou cagando e andando. Eu só quero os meus CD's.

Entrei pela porta da cozinha e dei de cara com a mãe do Pezão. Ela me olhou torto, como nunca fizera até hoje.

— O senhor por aqui? — disse ela num tom irônico.

Senhor? Xiiiiiii, a coisa está preta mesmo. Geralmente ela me chama de Fernandinho.

— Tudo bem com a senhora?

— Comigo? Ah, comigo está tudo muito bem — e mordeu uma torrada.

— Que bom. Se me dá licença, eu vou subir para falar com o figura.

Quando eu ia passando pela porta, indo em direção à sala, ela abriu a boca outra vez:

— Pense muito bem antes de fazer brincadeirinhas na frente da polícia, viu?

Parei e virei em sua direção novamente, respondendo:

— Eu já pedi desculpas, sei que pisei na bola.

Ela ficou me encarando por alguns segundos.

— Não pense que livrei somente a pele do Maurício, livrei a sua também.

— Obrigado.

E quando eu ia retornar meu caminho para a sala ela me interrompeu novamente:

— Só mais uma coisa.

— Sim, senhora.

— A próxima vez que aquela peste resolver se engraçar pro lado da filha do Manoel eu quero ficar sabendo imediatamente.

— Filha do Manoel?

— Esqueci o nome dela, acho que é Rita alguma coisa.

— Ah, a Maria Rita.

— Justamente. Maria Rita. O pai dela é um cliente que eu não posso perder de jeito nenhum. E a filha dele é intocável.

Intocável? Esta foi boa. Quase gargalhei, mas me segurei. Não há nada naquela biscate que já não tenham tocado, isso eu garanto.

— Se eu puder ajudar — respondi sério.

— Pode e deve. Se você souber que o Maurício anda se engraçando pro lado dela eu quero ser avisada imediatamente. Faria isso por mim?

— Claro, pode deixar.

E finalmente ela abriu um sorriso. Não é por nada não, mas a mãe do Pezão dá um belo caldo, viu? Loucura, loucura, loucura.

Só não fiz uma cara muito contente pra ela não suspeitar de nada, né? Hahaha ... Mas deu vontade de dizer: "Fica fria, quem está comendo a filha do seu cliente sou eu".

— Obrigada ... Fernandinho.

Hmmmm. Senti um tom meio estranho neste "Fernandinho" ou foi só impressão minha? Bom, só eu posso responder, né? Só eu que ouvi. Dãããããã!!!

E finalmente consegui chegar até a maldita sala. Meu, fala sério esta casa, eu posso trabalhar a minha vida inteirinha e jamais vou conseguir comprar uma mansão como esta. Olha só o tamanho daquela TV! Caralho, imagine um filme pornô num bagulho daqueles! Zoinho ia pirar. Quantas polegadas será que tem aquilo? Maldito Pezão sortudo dos infernos. E o que dá mais raiva é que ele nem liga. Bom, não liga porque já acostumou, é claro. Quero ver o dia em que ele ficar sem grana, aí é que o bicho vai pegar. Não concordam?

Subi as escadas e passei pelo quarto do pirralho. Putz, quanto tempo não vejo o moleque. Lá está ele, sentado diante do computador, tão concentrado no monitor que nem me viu.

— E aí, Bill Gates Júnior, beleja?

O coitado tomou um puta susto. Pulou da cadeira.

— Fala, Nando, tudo jóia?

— Tudo.

— Fiquei sabendo o que você fez com o meu irmão.

— Pois é.

— Eu quase me caguei de tanto rir, cara. Você é foda.

Comecei a rir.

— Eu queria estar lá pra ver a cara dele — completou ele.

— Com uma câmera, de preferência.

— Claro, com certeza.

E o pirralho riu feito uma hiena com nudofobia. Porra, também não sabe o que é nudofobia? Meu, e você ainda acha que vai passar no vestibular assim? Hahaha ... sonha!!!

Deixei o pirralho com o seu computador e fui em direção ao quarto do filho da puta.

Bati 2 vezes na porta. Na terceira batida ele me atendeu. Abriu a porta e já veio me empurrando e me xingando de tudo quanto é nome.

— Meu, mas que porra de amigo é você? — disse ele, apontando o dedo pra mim.

— O que foi que eu fiz?

Não estou entendendo, ele já tinha esquecido tudo. Eu, hein!

— Você sabe muito bem o que foi que você fez — prosseguiu me acusando.

— Não sei.

— Sabe sim, e fez quatro vezes!!! Filho da puta!!!

Putz! Agora caiu a ficha. Já sei do que ele está falando: Maria Rita.

— Como você descobriu? — perguntei.

— A biscate acabou de me contar pelo celular.

— Porra, Pezão, o que você queria que eu fizesse? Estávamos presos dentro do quarto dela, a mina com tesão, eu não tive escolha. Peru pra dentro, velho! Não tinha outra solução.

Pezão me olhou torto.

— Você é um belo de um cuzão mesmo, sabia?

— Você teria feito a mesma coisa.

— Ah, isso eu aposto que não.

Mas é muito filho da puta, não é? Vocês também não acham que ele teria feito a mesma coisa? É claro que sim!

E de repente Pezão começou a rir. Até voltou para o quarto.

— Do que está rindo? Comeu cocô?

E ele continuou rindo. Como é que pode isso? Agora há pouco estava prestes a me socar a mão, agora ri feito uma hiena com pulgas.

— Meu, como é que você me paga um micão desses? Fala sério, Nando!

Hã?

— Do que você está falando, porra?

— A mina tirou o maior sarro com a sua cara, brother.

— Quem?

— A Maria Rita, caralho!!! Acorda!!!

— Nas quatro vezes em que eu fiz ela gozar gostoso não vi ela tirar sarro nenhum com a minha cara.

— Você não lava o cu?

— Do que você está falando?

— A mina me contou que você estava com uma puta freada de bicicleta na cueca!!!

Biscate dedo-duro dos infernos.