As Aventuras de Nando & Pezão

“Uma Aventura na Madrugada”

Capítulo 1 – Preciso de um Favor

Joguei cocô na cruz.

Não, é pouco. Acho que joguei cocô, depois ainda mijei, dei uma cusparada ... e pra finalizar ainda joguei um CD do É o Tchan!

Fala sério. O que eu fiz para atrair tanta urucubaca pro meu lado?

Será que meus pais fizeram pacto com o capeta?

Será que foi alguma promessa não cumprida?

Será que fizeram alguma macumba pra mim?

Será que descobriram que vou ser o próximo anticristo e resolveram me sacanear?

Será que eu comi cocô quando era criança?

Sei lá, eu só sei que a morte da Caroline caiu como uma bomba. Eu ainda não sei o que vai ser da minha vida. Quanto mais eu tento esquecê-la mais eu lembro dela. E o pior de tudo, se analisarmos bem ... a culpa da morte é praticamente minha. Bom, é claro que o imbecil do Podrão tem mais culpa do que eu, mas ...

Nem no enterro dela eu pude ir. Acreditam? Os pais dela me matariam, né? Foda.

Ah, e falando nos pais ... eles se mudaram daqui; não suportaram a barra. Não é para menos, né? Acho que se fosse comigo eu também teria feito a mesma coisa. Ou teria me jogado de uma ponte, sei lá. Perder duas filhas assim não deve ser moleza.

Porra, galera, ultimamente eu tenho andado tão deprê. Vocês sabem que o verbo "foder" é comigo mesmo, estou sempre me fodendo. Mas desta vez o filho da puta do Murphy pegou pesado. Desta vez ele se superou.

Acordo todo dia me perguntando quando vou voltar a sorrir feito uma hiena usando fio-dental. Será que jamais vou voltar ao normal? Putz ...

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmm!!!!

Ah, fala sério. Meu, são ... duas horas da madrugada. Será que é o cuzão?

— Alô.

— Caralho, Nando, pode encomendar o caixão. Voz de morto, puta merda.

Preciso dizer quem é?

— Pezão, deixa eu te falar uma coisa.

— Fala.

— Enfia o dedão no cu e assopra, porra!!!

— Ah, agora sim, melhorou. Agora parece que tem alguém vivo na linha.

— São duas horas da madrugada, seu bosta! Caiu da cama ou o quê?

— Vamos ver se você adivinha onde estou.

— Sei lá onde você está! Estou me lixando pra ...

Duas buzinadas curtas lá fora. Putz! 

— Ouviu? — perguntou ele, rindo feito uma hiena fazendo tratamento de canal.

— O que você está fazendo no meu portão uma hora dessa?

— Preciso de um favor.

— Favor? Seu porra, você lembra o que disse pra mim na última vez em que eu lhe pedi um favor? Lembra?

— Nem lembro.

— Mas eu lembro.

E bati o telefone na cara do filho da puta. Ah, vai tomar no cu! Vocês lembram, né? Se o cuzão tivesse feito aquele favor talvez a Caroline ....

Fom! Fom! Fom! Fom!

Maldito Pezão do caralho. Vai acordar a vizinhança toda.

Opa, parou. Tomara que ele tenha desistido e ...

Trimmmmmmmmmmm!!!

Atendi o telefone, puto da vida.

— Meu, o que você quer, porra???

— Só preciso de um favor.

— Pezão, que tipo de favor eu poderia lhe fazer uma hora dessa? Depois da morte da Carolina você começou a dar o cu?

— Nando, eu já estou super atrasado, você vai me ajudar ou não?

Eu juro que a vontade maior era mandá-lo pra puta que pariu, mas a curiosidade acabou vencendo.

— Desembucha logo, porra! Que favor é este? Não é nada sexual, é?

— Claro que é.

— O quê? Nem brinca com isso, cara! Se agora você dá ré no quibe é problema seu! Eu não quero ...

— Não é isso, porra! Ré no quibe o caralho! Está me estranhando?

— Mas então o que você quer?

— Lembra da Maria Rita?

— Aquela biscate que você catava de vez em quando?

— Isso. A mina está a perigo, precisa dar urgente.

— E daí? Mulher quando quer dar arranja alguém num estalar de dedos.

— Se ela estalou os dedos eu não sei, só sei que ela usou os dedos para me ligar.

Puta merda, que mau gosto do caramba. A mina está louca pra liberar a perseguida e liga para o maior filho da puta da cidade. Agora eu pergunto: dá pra entender a cabeça de uma mulher?

— Meu, e você está esperando o quê? Vai lá, porra!

— Eu preciso que você vá comigo até a casa dela.

Como é que é? Eu ouvi bem? Pezão me convidando para um ménage à trois? 

— Pezão, eu não estou com cabeça pra isso. Até agradeço, mas ...

— Seu porra, não estou convidando você pra nada, se liga!

— Não? Mas então você precisa de mim pra fazer o quê? Esqueceu como é que se trepa? É fácil, você pega ...

— Eu só preciso que você traga o meu carro de volta. Só isso.

— Não entendi.

Pezão começou a perder a paciência.

— Meu, veste uma roupa e vem aqui me ajudar, porra!!! Se bem que você me enrolou tanto que a mina já deve ter apagado o fogo no cu com um pinto de borracha!!! Puta merda.

Foda-se. Estou precisando mesmo sair deste quarto. Não agüento mais ficar aqui rolando de um lado para o outro pensando na morte da Caroline. Bola pra frente, né? A fila anda.

Vesti uma camiseta, coloquei uma calça jeans e calcei um tênis velho. Pronto. É por isso que é bom ser macho. Se eu fosse mulher estaria procurando uma blusinha que combinasse com a calça e depois levaria mais duas horas para pentear os cabelos de acordo com o modelito.

Mesmo assim ...

— Caralho — gritou Pezão, parado em frente ao portão de casa. — , tudo isso só pra colocar uma calça jeans?

Mostrei aquele famoso dedo.

— O que eu vou levar nessa? — perguntei, enquanto abria o portão.

Pezão voltou para o carro. Estava uma pilha de nervos. Acho que era medo da mina ligar para um outro trouxa. Na verdade somos todos uns trouxas. Se a gente quer trepar precisa dar um duro danado. Quero dizer, pra catar uma mina descente. Biscate não conta. Já a mulherada, não. Basta um telefonema e um trouxa sai correndo no meio da madrugada para apagar seu fogo na bacurinha. Eu não tenho moral pra falar nada porque já fui um destes trouxas. E pra falar a verdade eu adorava ser um trouxa. Fala sério, qual o cara não gostaria de bancar o trouxa com uma ruiva gostosa como a Ana Paula? Paulinha, como eu a chamava, era uma gostosa de 36 anos que eu conheci num show punk. Recém-divorciada, Paulinha tinha um fogo na periquita como poucas vezes eu vi na minha vida. Aquilo sim era mulher com M maiúsculo. Ela me ligava às quatro da madruga e eu saía de casa, de bicicleta, pelas ruas da cidade, pedalando feito um doido. Quando eu chegava no apartamento dela quase não tinha fôlego pra dizer um "oi", mas depois .... aaaaaooooo .... o bicho pegava. Ah, e como pegava! Bons tempos. Que pena que Paulinha voltou para o Rio de Janeiro. Aposto que neste exato momento tem um maluco pedalando feito um doido pra chegar até o apartamento dela. Putz, que inveja!

— Meu, custa ajudar seu amigo? — resmungou Pezão, já sentado diante do volante.

— Seu bosta, quando sou eu que preciso você caga e anda.

Entrei no carro e Pezão saiu fritando borracha, como sempre.

Ah, só pra vocês se situarem no tempo, hoje é uma quinta-feira. Início de quinta-feira, melhor dizendo. O relógio do meu celular marca 2h34m.

— Que papo é este de trazer seu carro de volta? — perguntei, afinal.

— O pai dela vai viajar bem cedinho.

— E daí?

— Se liga, se o pai dela vê o meu carro parado lá em frente ele me mata. O pai dela é amigo da minha mãe, o velho conhece o meu carro.

— Simples, pega a mina e leva para o motel.

— Não dá, ela precisa estar em casa pra fazer o café da manhã para o pai. Depois que a esposa morreu o cara só toma o café feito pela filha. Coisa de gente fresca.

— Putz, mas não dava pra esperar o pai viajar?

— Tesão é tesão, quando bate é foda. Você ainda lembra dela?

— Lembro que ela era gostosa. Mas dava pra todo mundo também.

— Não era bem assim. Pra você ela não deu.

— Porque eu nunca tentei nada.

— Sei, sei.

Falei a verdade mesmo. Ou melhor, quase. Tive oportunidade de catar a Maria Rita sim. Ainda me lembro como se fosse ontem. Festinha de Halloween no colégio. Ela vestida de bruxa, eu com uma máscara de lobisomem, tosca pra caralho. Ela usava uma saia preta bem curta, muito provocante, e juro que estava sem calcinha aquela noite, pois no final do baile ela sentou no banquinho do corredor e vi uma pá de gente rachando o bico e apontando em sua direção. Também vi amigos meus correndo para o banheiro após o episódio. Cambada de punheteiro dos infernos!

Na hora de ir embora pegamos carona no mesmo carro. Maria Rita estava pra lá de Bagdá, estava chamando urubu de meu loiro. Estava mais fácil que roubar pirulito de criança retardada. Mas na hora H acabei desistindo. Bom, não desisti, eu fui obrigado a desistir. No meio do caminho o filho da puta do hot-dog começou a fazer efeito. Quase caguei na calça. Faltou muito pouco. Maldito hot-dog dos infernos!!! Daquele dia em diante prometi nunca mais comer esta maldita porcaria.

Pezão parou o carro.

— É aqui — disse ele, olhando para um lindo casarão.

O bairro onde paramos é um dos mais chiques da cidade. Só magnata mora por estas bandas. Prefeito, dono de comércio e o caralho a quatro.

— Caralho, tem certeza que ela mora por aqui? É a mesma Maria Rita da época do colégio?

Pezão pegou o celular e discou um número. Depois respondeu:

— O pai dela fez uns investimentos naquele bagulho de bolsa de valores e tal. O cara se deu bem.

— Puta merda, o cara deve estar cagando dinh....

— Sou eu — disse Pezão, ao celular — , sim, estou aqui em frente ao seu portão. Desce! Está bem, eu espero, beijão nesta boca gostosa.

E desligou o aparelho, com um puta sorriso nos lábios. Filho da puta.

— Há quanto tempo vocês estão se encontrando? — perguntei.

— Desde a semana passada. Mas como descobriu?

— Você pediu pra ela descer. Como você poderia saber disso se não conhecesse a casa?

— Esta foi boa. Gostei.

Silêncio. Não havia uma alma viva na rua.

— E o lance da barata? — disse Pezão, com um sorriso meio sarcástico nos lábios.

— O que tem?

— Você acreditou mesmo naquilo?

— Como assim? Do que você está falando? Comeu cocô?

— Eu quero dizer, meio estranha aquela história, você não acha?

— Porra, é estranha, mas aconteceu. Eu vi a tatuagem, cara, estava a coisa mais real que eu já vi em toda a minha vida.

— Pra mim foi assassinato.

— Assassinato? Meu, não viaja.

— A mãe já devia estar meio sacuda com a mina e aproveitou a oportunidade.

— Meu, cala esta boca. Você comeu cocô quando era criança, Pezão.

— Só estou dando a minha opinião.

— Enrola sua opinião e enfia no cu.

Os olhos de Pezão arregalaram-se. Era Maria Rita que surgia do outro lado do enorme portão de ferro. Por um instante pensei que Pezão ia gozar na cueca.

— Não quero ver um arranhão, falou? — disse Pezão, chacoalhando a chave do carro na minha direção.

— Vou bater esta porra no primeiro poste que eu encontrar, beleja?

Pezão ficou branco.

— Meu, nem brinca. Arranco seu saco fora.

E quando ele deixou a chave cair na minha palma senti algo revirar o meu estômago. O barulho foi tão alto que até o Pezão ouviu.

— Caralho, tem um Demônio da Tasmânia aí dentro.

E peidei, daqueles peidos rasgadores, daqueles que saem até estrelas do seu cu. Pezão saiu do carro feito um ninja. Nunca vi alguém tão rápido na minha vida. E logo em seguida fui obrigado a deixar o carro também. O cheiro ficou insuportável.

— Vai tomar no seu cu, Nando! Quer cagar caga em casa, meu!

Maria Rita estava meio impaciente, ao portão.

— Fala baixo!!! — sussurrou ela, fazendo gestos com as mãos.

Meu, fala sério, a Maria Rita está ainda mais gostosa! Será que foi a grana que o pai dela ganhou? Será que ficar rico deixa a gente mais gostoso? Ah, com dinheiro dá pra pagar academia, comprar produtos de beleza, fazer plástica e o escambau, né? Mas não creio que seja o caso dela. Só sei que a mina está uma delícia. Mudou a cor dos cabelos, ficou morena, ela era loirinha. Gostei mais dela assim, ficou meio parecida com aquela atriz ... acho que o nome é Letícia Sabatella, ou algo assim. Resumindo, ficou show. E o melhor de tudo, está com um baby-doll rosa ... ui ui ui!!! Loucura, loucura, loucura!!!

Ela abriu o portão e Pezão entrou sorrateiramente, como se o pai estivesse por perto e pudesse ouvi-lo. Ao entrar ele passou a mão na bunda da mina e não vou descrever o resto porque está bem óbvio. Só faltou engolir a mina.

Quando Maria Rita se preparava para trancar o portão senti outra fisgada no estômago. Agora era definitivo, eu precisava de uma privada.

— Espera! Preciso de um banheiro, urgente!!!

Nem preciso dizer que Pezão ficou irado comigo, né?

— Vai cagar na tua casa, porra! Lá não tem banheiro?

— É urgente! Vou fazer na calça!

— Vamos, ele está de sacanagem comigo, aposto que é brincadei ...

E soltei outro daqueles peidos rasgadores. O barulho foi tão alto e a rua estava tão quieta, o som ecoou pelo bairro. Garanto que acordei um ou outro cachorro vira-lata.

Entrei em pânico.

— Meu, é sério, só preciso de um banheiro!

Maria Rita estava tão irritada quanto Pezão, mas abriu o portão para mim. E disse:

— Se for brincadeira eu mato você, viu? E o barulho foi tão alto que pode ter acordado o meu pai, merda!!!

Entrei me contorcendo todo. Caralho, não me lembro de uma dor de barriga tão feia assim. Acho que a última vez que isso me aconteceu foi naquela noite do show do Rappa. Bom, melhor eu nem lembrar. Malditas formigas dos infernos! Porra, você ri porque não foi com você.

— Não é brincadeira — respondi. — a coisa está feia, muito feia.

E peidei outra vez. Eles olharam sérios para mim, não sei se estavam com nojo ou ódio. Talvez um pouco de cada.