“A Garota dos Cabelos Verdes”
CapÃtulo 9 – O Fogo da Paixão
Entrei no boteco e não tinha uma alma viva no lugar. Nem cliente nem funcionários. Ufa, já é alguma coisa. Entrei de fininho e encostei no balcão. Ninguém. Fui entrando cada vez mais, procurando por um banheiro. Foi quando dei de cara com uma mocinha segurando um rodo e um balde cheio de água suja.Â
— Nando, é você? — gritou a mocinha, derrubando o rodo e o balde.
A mocinha tinha os cabelos verdes como a camiseta do palmeiras. Sim, era ela, a minha amada Caroline.
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Se isso aqui fosse novela ou Hollywood nós terÃamos nos abraçado apaixonadamente e depois nos beijarÃamos feito dois pombinhos ensaboados numa noite de verão. Mas isso aqui é a vida ... então:
— Credo, como você está fedido! — disse ela, levando a mão ao nariz.
— Olha só quem fala! E você estava limpando privada. Estamos pau a pau.
Ela deu um sorrisinho maroto e me deu um puta beliscão no braço.
— Bobo! — disse ela. — Eu só estava limpando o chão. Não limpo privada. — aà ela deu uma olhada em mim de cabo a rabo. — Mas que diabos aconteceu com você?
— Vomitaram em mim, acredita?
— Acredito, você está horrÃvel.
— Não precisa humilhar, né?
Aà ela caiu na gargalhada. Parecia uma hiena com sarampo. Eu acabei rindo também. Já estou fodido mesmo, né? O jeito é rir da minha desgraça.
De repente alguém entrou no bar. Um moleque com a camiseta da Torcida Independente, do São Paulo. Caroline sorriu pra ele e disse:
— Janjão, toma conta do bar um pouquinho, preciso resolver um negócio.
— Mas aonde você vai? — disse o moleque, mal humorado. — Se o Milton chegar eu falo o quê?
— Ele vai demorar pra chegar, não se preocupe.
Caroline pegou na minha mão e me puxou para os fundos do bar. Passamos por um corredor imundo e depois por um quintal cheio de engradados de cerveja e outras tranqueiras. Paramos diante de uma portinha pintada de azul.
— Senti tanta saudade de você, Nando — ela disse olhando nos meus olhos. Senti até um arrepio.
— Eu também. Muita.
Acreditem se quiser, ela me beijou. Eu todo nojento, fedido, cheio de pedaços de banana nanica pela roupa e grudados nos meus cabelos ... eca!!! Mesmo assim ela me lascou um beijão de lÃngua. Agora sim, beijão de novela.
Depois do beijo ela sorriu pra mim e abriu a portinha azul, empurrando-a delicadamente com suas mãos.
— Que lugar é este? — perguntei.
— Entra, rápido! Tem um chuveiro pra você poder se lavar.
Chuveiro? Uhuuuuu! Nem acredito, era tudo o que eu precisava. Só de ouvir a palavra chuveiro quase gozei na cueca. Segurei o rosto de Caroline com delicadeza e lhe beijei a testa.
— Mas fala sério — disse ela, torcendo o nariz. — , isso aqui no seu cabelo é banana?
Fiz que sim com a cabeça, e completei:
—Â Nanica.
Entramos no casebre. O lugar estava escuro e cheirava mijo de cachorro. Caroline acendeu a luz e depois fechou a porta.
— O banheiro fica logo ali à direita — disse ela, apontando para o local.
Havia um monte de entulho pelo chão. Vi uns dois ratos perambulando o lugar. Não foi nada fácil chegar até o banheiro. Antes de entrar eu olhei para trás e vi Caroline procurando um lugar pra sentar. Acho que ela não tinha visto os ratos, caso contrário teria vindo junto comigo, aposto que sim.
— Psiu! — chamei-lhe a atenção. Ela olhou pra mim.
—Â O que foi?
— Muito obrigado, viu? Fico lhe devendo esta.
— Fica. Mas você estava fedido demais, não tive escolha. — depois ela caiu na gargalhada. — Bobo, estou brincando com você, oh! Agora anda rápido, se o Milton chegar e não me encontrar lá no balcão ... putz!!! Só o pó meu.
O banheiro não tinha porta, mas foda-se. Eu só tive olhos para o chuveiro. Tirei minhas roupas meladas e nojentas e fiz uma bola. A água do chuveiro saiu gelada pra caralho, mas não teve a menor importância, eu precisava de água, urgente!
Havia um pequeno teco de sabonete na pia. Não pensei duas vezes, peguei e usei para me lavar e depois lavar minhas roupas.
— Como está a água?
Era Caroline. Eu nem tinha percebido ela entrar no banheiro. Continuei esfregando o teco de sabonete na minha camisa e respondi:
— Está super gelada.
Caroline tirou a sua blusa num movimento rápido. Ela não estava usando sutiã, seus seios ficaram nus e os bicos apontavam na minha direção. DelÃcia! Ela sorriu e disse:
—Â Tem lugar pra mim aÃ?
Oooooooooooooooooooooooopa!!!! Meu, mas é claro!!!! Será que me dei bem?
Caroline desceu a saia, deu uma rebolada e depois arrancou a calcinha lentamente. Fez de propósito, só pra me provocar. Adoro isso.
Uhuuuuuu!!! Sim, acho que me dei bem!!! Será que estou sonhando? Aposto que é sonho, querem ver? Assim que ela entrar debaixo do chuveiro comigo tudo isso vai acabar. Não tenho a menor dúvida. E a gorda das bananas foi pesadelo. Escreva o que estou lhe dizendo.
— Ai que gelo!!!! — disse Caroline ao entrar em contato com a água.
Agarrei Caroline pela cintura e desci minhas mãos até sua bunda. Apertei com vontade. Agora o sonho acaba. Querem ver? Como diria o Seu Creyçon: eu agarântiu que agora acabia!
Mas não acabou.
Não era sonho.
Estava acontecendo mesmo!
Entrou pra galera das minhas melhores transas, sem dúvida. Foi com vontade, com paixão, animal, selvagem ... foi coisa de louco!!! Caroline queria fazer sem camisinha, mas eu pensei bem e achei melhor não. Por mais que eu estivesse a fim eu resisti à tentação. Saà rapidinho do chuveiro e peguei uma na minha carteira. Não sei dizer o que me excitava mais, não sei se era o fato de estarmos distantes este tempo todo, não sei se era pelo fato de podermos ser flagrados a qualquer momento, não sei explicar, só sei que o bicho pegou e parecÃamos um casal bem apaixonado. Fizemos tudo debaixo do chuveiro. Foi uma delÃcia. Nossos corpos ficaram tão quentes que a água gelada não foi empecilho. Gostaram dessa, hein! Hehehe .... Mas falando sério, foi bom. Bom? Não, foi ótimo.
— Eu já tinha até me esquecido de como sexo é gostoso — disse ela, deixando a água do chuveiro cair sobre o seu rosto.
—Â Gostoso demais.
Caroline fechou o chuveiro depressa e fez sinal pra eu fazer silêncio. Ficamos quietos e logo eu entendi o motivo de tudo aquilo. Havia vozes do lado de fora da casa.
— Onde foi que ela se meteu? — repetia uma das vozes. Era uma voz masculina e demonstrava estar muito irritado.
Caroline pegou suas roupas e começou a vesti-las numa velocidade espantosa.
— Rápido, precisamos sair daqui! — sussurrou ela.
Peguei minhas roupas e as torci com toda a força que me restava. É claro que não consegui enxugá-las o suficiente, mas não tive outra escolha. Vesti as roupas úmidas mesmo e saÃmos do banheiro sorrateiramente. Não ouvimos mais vozes do lado de fora. Bom sinal.Â
Antes de sairmos da casa Caroline olhou pelo buraco da fechadura.
— A barra está limpa. — disse ela, segurando minha mão com força. — Vamos!
Abri a porta azul e saÃmos juntos. Caroline estava um pouco nervosa.
— O Milton chegou mais cedo do que eu imaginava — disse ela. Depois enfiou a mão no bolso, tirou uma chave e colocou na minha mão. — O meu carro está parado logo ali na esquina. Você lembra dele, né?
— Claro, o Fuscão vermelho. Mas por que você está me dando a chave do seu carro?
— Nando, o Milton não pode ver você aqui comigo, você vai ter que pular o muro. Meu carro está logo ali na frente. Entra lá e me espera.
Ela falava cada vez mais depressa e nervosa. Comecei a ficar preocupado.
— Calma, meu anjo, mas tudo isso é medo do tal de Milton?
— Sim.
— Mas ele é apenas seu patrão. O máximo que poderá fazer é lhe despedir. E convenhamos, isso aqui não é trabalho pra você. A mãe do Pezão está precisando de uma secretária e ...
— Nando, o Milton não é só o meu patrão.
—Â Como assim?
— Ele é meu ... noivo.
—Â Noivo?
De repente um grito raivoso, porém distante. Era ele, Milton, bufando.
—Â Sua biscate filha da puta!!!
Meu, gelei dos pés a cabeça. Vocês não fazem idéia do tamanho do cara. Conhecem o Maguila? Então, igualzinho. Se o cara não é irmão gêmeo ... é clone. Até a voz e o sotaque são iguais.
Caroline ficou branca também. Agarrou minha mão e me puxou com força.
— Vem, corre!!! — gritou ela.
E saÃmos em disparada, desesperados.
— Mas pra onde você está me levando? — perguntei. — Não tem por onde fugirmos!
Milton veio louco atrás de nós, gritando todos os palavrões do nosso dicionário. E outros que eu nem conhecia.
— Aquele muro ali é baixinho, a gente consegue pular — disse Caroline.
Eu sempre reclamo do meu azar, não reclamo? Sempre digo que Murphy pega no meu pé que nem chulé, não digo? Então, mas desta vez finalmente eu dei sorte. Havia um pequeno amontoado de tijolos encostados no muro, e isso nos facilitou a fuga. Do outro lado do muro a altura também não era assim tão avantajada. E pra ser sincero, mesmo que fosse eu teria pulado sem pensar duas vezes. Vocês não viram o tamanho do Milton. E também não viram a expressão de ódio na sua cara feia. Corno é um perigo!!!
O Fuscão vermelho de Caroline estava logo ali pertinho. Outro fator de sorte. Devido o tamanho avantajado de Milton ele teve mais dificuldade em pular o muro. Quando conseguiu nós já havÃamos partido. Caroline saiu queimando os seus pneus carecas. Parecia até o Pezão dirigindo.Â
Ufa! Nasci outra vez. Não sou ruim de briga, vocês sabem disso, mas eu não teria a menor chance de escapar. Teria sido um massacre. Pensem bem, além do cara ser uma jamanta ... eu acabei de comer a noiva dele! Putz! Nando dando uma de Ricardão. Por esta nem eu esperava.
— Noiva? Caroline ... você ... Noiva? Noiva? — admito, eu estava um pouco histérico, além de tremer muito.
— Pois é, né? — ela nem olhou pra mim, seguiu dirigindo.
— Há quanto tempo?
— Desde a semana passada. Ou não. Eu não consigo me lembrar, você acredita?
Caroline passou por um sinal vermelho. Por muito pouco não fomos atingidos por um caminhão de refrigerantes. Não vou dizer a marca pra não fazer merchan.
— Quer que eu dirija? — perguntei.
— Não, estou bem.
— Bem? Quase fomos esmagados por um caminhão.
— Não exagera.
— Meu, você está calma demais, como consegue?
— Hoje é o melhor dia da minha vida!
— O quê?
— Você me salvou, Nando.
— Não estou entendendo.
— Claro que está. Você é o meu anjo da guarda. Caiu dos céus naquele bar imundo. Quando eu vi você pensei que estava sonhando.
— Eu também pensei. Jamais imaginei que fosse encontrar você naquele boteco fedido.
— Na verdade quando eu te vi não pensei que estava sonhando. Acho que foi justamente o contrário. Quando eu te vi eu finalmente acordei pro mundo. Meu, como eu pude ser tão cega e imbecil? Cara, eu ia me casar com alguém que eu nem sei o sobrenome? Como pode isso?
— Fala sério, hein! Você tinha comido cocô?
— Tudo culpa do meu pai. Ele que arranjou tudo. Eu estava tão triste e desapontada com tudo ... deixei me levar. E quase fiz a maior burrada da minha vida.
— A morte da sua irmã mexeu demais com você, né?
— Você nem faz idéia. Fiquei totalmente perdida. Acho que enlouqueci de vez.
E ficamos em silêncio por alguns instantes. Eu não sabia o que dizer. Até que ela recomeçou:
— Meu, estou me sentindo tão bem! Imagine uma pessoa que perde a visão por algum tempo e de repente começa a enxergar novamente. É exatamente assim que estou me sentindo.
— Que bom, fico muito feliz.
Caroline encostou o carro num movimento brusco no volante. Tirou o cinto de segurança e veio pra cima de mim como uma tigresa no cio. Acho que nos beijamos por mais de dez minutos. Foi o beijo mais longo e mais gostoso de toda a minha vida.
O mais curioso aconteceu após o beijo. Caroline não disse nada, abriu o porta-luvas, pegou um caderninho e uma caneta e começou a escrever.
— O que foi? — perguntei, curioso.
—Â A partir de hoje vou viver minha vida intensamente.
— Legal. Mas o que isso tem a ver com o caderno?
— Simples. Vou fazer uma lista das coisas que eu sempre quis fazer e nunca tive coragem ou oportunidade. Depois vou executar item por item. Vou fazer tudo o que eu sempre tive vontade, nem que eu morra fazendo.
—Â Tipo ... ?
— Número um: transar no meio da estrada.
— Opa! Comigo?
— É claro. Se você topar.
— Tô dentro! Qual o próximo item da lista?
— Número dois: fazer uma tatuagem.
— Ah, legal também, mas prefiro a número um. Qual é a próxima?
— Acelerar o máximo que eu puder!!!!!!!!!!!!!!!!
—Â Como assim?
— Olha no retrovisor que você vai entender.
Nem tive tempo. Caroline saiu queimando os pneus.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Está vendo aquele Fiat 147 preto vindo lá atrás?
Olhei com calma e o localizei. Vinha a toda velocidade. Quero dizer, tentava vir a toda velocidade, né? Afinal de contas é um Fiat 147.
— Sim, estou vendo.
— É o Milton!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
—Â Santa pixirica.