“A Garota dos Cabelos Verdes”
CapÃtulo 7 – A Vingança de Murphy
— Carolina, está tudo bem aÃ? Estamos preocupados com você.
Nada. Nenhuma resposta. Caroline pulou da cama e aproximou-se da porta também.
— Sai daÃ, sua mocoronga! — ela gritou para a irmã, mas olhava e sorria pra mim. — Eu já estou quase dando a terceira e você ainda está na primeira!
Silêncio.Â
O semblante de Caroline mudou totalmente, ela ficou séria.
— Eu não falei? — disse Pezão. — Aconteceu alguma coisa com a biscate.
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Caroline ficou uma fera com o Pezão.
— Biscate? Quem você está chamando de biscate?
— Sua irmã, mas serve pra você também.
— Biscate é a lambisgóia da sua mãe.
— Mina, analisa comigo, você está pelada num motel de quinta categoria com dois caras de cueca. Se você não é uma biscate então quem é?
Putz! Caroline até pulou de raiva. Ouvi seus dentes rangerem. Ela deu um salto e partiu pra cima do Pezão. Detalhe: peladinha inha inha.
—Â Seu filho da puta!
Mas antes que ela fizesse alguma coisa eu a segurei por trás. Calma, sem sacanagem.
— Me solta, Nando! — ela gritou, debatendo-se toda. — Deixa eu mostrar pra este babaca quem é a biscate!
Pezão arregalou os olhos, passou a mão sobre a cueca e disse:
— Puta merda, eu estou ficando de pau duro. Deixa ela vir, Nando!
Pra ser sincero eu também fiquei de pau duro, mas pra não irritá-la ainda mais eu fiquei quieto.
— Calma aà vocês dois!!! — falei. — Meu, temos algo mais importante pra resolver, vocês não acham?
Caroline virou o rosto e olhou para a porta do banheiro. Depois olhou triste para mim.
— O que será que aconteceu com ela? — disse Caroline no meu ouvido.
— Vista-se — falei, acariciando seus cabelos verdes. — , vou pedir a chave do banheiro. Lá na portaria eles devem ter.
Enquanto Caroline vestia sua roupa eu disquei para a portaria do motel. Uma voz rouca e sexy atendeu:
— Boa noite, em que posso ajudar?
— Você tem aà as chaves dos banheiros de todos os quartos, certo?
— Acho que sim, por quê?
— Porra ... "Acha" que sim? Tem ou não tem?
— Calma aÃ, moço, não precisa ficar nervoso. Eu vou verificar com a gerente.
— Tudo bem. Mas rápido, é uma emergência!
—Â O que houve?
—Â Minha ... namorada (quando eu disse isso a Caroline me olhou feio) entrou para tomar uma ducha e ficou presa no banheiro.
— Mas então é fácil de resolver, moço. Pede pra ela girar a maçaneta.
Putz!!! É uma toupeira ou não é?
— Meu, é por isso que você trabalha num motel.
— O que você quis dizer com isso, hein?
— Nada. Por favor, eu preciso urgentemente da chave do banheiro! O número do quarto é ... — Caroline olhou o chaveiro pendurado na porta e me passou o número: — dezoito.
— Vou ver o que dá pra fazer.
E bateu o telefone na minha cara. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa...
— Que papo foi aquele de "minha namorada" ? — disse Caroline, com as mãos na cintura e os olhos fixos nos meus.
— Que foi? Vai ficar com ciúme agora?
—Â Vou!
— Meu, eu não sabia o que dizer ... ficaria meio estranho se eu dissesse: "ei, a irmã da mina que eu acabei de comer está presa no banheiro, você tem a chave?".
— Isso aqui é um motel, Nando, eles estão acostumados com isso.
Bom, isso é verdade. E do nada ela me abraçou e me deu um beijo.
— Fiquei com ciúme — ela disse.
Pezão caiu na gargalhada, depois disse:
— Xiiiiiiiiii, Nando, isso aà tem nome: pica que fica. Fodeu.
Putz, a mina ficou irada. Tive de segurá-la novamente. Pena que desta vez ela estava vestida. E eu ainda de cueca. Vesti-me também.
Tentamos contato com Carolina outra vez, mas não obtivemos sucesso. Lá dentro do banheiro continuava tudo quieto, pra não dizer assustador. O que será que aconteceu?
Minutos depois alguém bate na porta do quarto.
— Abre aÃ, eu trouxe a chave do banheiro! — gritou uma voz lá de fora, a mesma voz rouca e sexy. Será que a Daniela Ciccarelli largou do Ronaldinho pra vir trabalhar como faxineira e telefonista de motel?
Abri a porta e dei de cara com dois vultos na escuridão.
— Que rapidez, hein! — falei em tom irônico.
— Nando, é você? — putz! Conheço esta voz de algum lugar.
E as duas entraram no quarto. Nenhuma delas era a Daniela Ciccarelli, é claro. Uma era feia que dava até arrepios, a outra era nada mais nada menos que ...
— Quanto tempo, Joana.
Sim, caros amigos, ela mesma, a sumida Joana fofoqueira. Lembram dela? Mas que diabos ela está fazendo aqui no motel? Larga do meu pé, chulé!
—Â Surpreso?Â
— Um pouco. O que faz aqui?
— Eu trabalho aqui, meu filho.
— Está progredindo, hein! Faxineira de motel? Que bosta.
— Não sou faxineira, sou a gerente.
Putz!!! Imaginem só isso, a mina mais fofoqueira que eu já conheci trabalha num dos motéis mais freqüentados da cidade. Vai prestar ou não?
Caroline entrou no meio:
— Vocês vão ficar de conversinha ou vão abrir a porta do banheiro?
Não sei, mas senti mais ciúme do que preocupação com a irmã.
— Ela tem razão — disse Joana. — , abre a porta, Severina.
—Â Sim, senhora.
Putz!!! Severina? Caralho, de sexy a mina só tem a voz mesmo. Nem o nome a gente aproveita.
Acho que só agora Joana percebeu que o Pezão estava no quarto.
— Eu já devia imaginar — disse ela. — , Nando e seu fiel escudeiro.Â
— Fiel escudeiro o caralho! — e Pezão botou a mão sobre a cueca e lhe fez um gesto obsceno.
— Estavam fazendo uma surubinha? — disse Joana.
— Não é da sua con ...
— Está aberta — disse Severina, afastando-se da porta.
Caroline girou a maçaneta e abriu a porta. Logo de cara fomos golpeados com uma imagem nada agradável, havia uma enorme poça de sangue. Caroline começou a chorar. Severina fez o sinal da cruz duas vezes. Entramos no banheiro e a situação ficou ainda pior. O corpo de Carolina estava caÃdo no chão. O que mais me chocou foi a quantidade enorme de sangue. Lembrei-me da gravação que fizemos para o Linha Direta fajuto. A diferença é que lá não era sangue de verdade, mas aqui sim.Â
Pobre Caroline, desmaiou nos meus braços. Joana correu para a portaria do motel e chamou uma ambulância urgente.
Fomos todos para o pronto-socorro. A ambulância saiu em disparada. Nós três fomos logo atrás no carro do Pezão. Fui sentado no banco de trás com Caroline. Meu, ela me abraçava com tanta força que até me doÃam os ossos. Pobre Caroline. Tremia tanto. Soluçava de forma tão desesperada que partia o meu coração.
— Minha irmã não pode morrer, Nando! — ela repetia isso sem parar.
— Ela não vai morrer, meu anjo, fique calma.
E eu acariciava carinhosamente seus cabelos verdes horrÃveis.
— A gente ... briga muito, sabe? — prosseguiu Caroline, entre soluços. — Mas a gente ... se adora. Quando ... ela se mudou daqui eu ... chorei meses e meses. Sempre fomos ... muito apegadas.
— Ela vai ficar bem, pode apostar.
Mas Pezão tinha de abrir a boca, não é? Olha só o que o filho da puta teve a coragem de dizer:
— Sei não, gente. Vocês não viram a quantidade de sangue? Foi foda.
Putz!!! Caroline ficou ainda pior, coitada.
— Cala esta boca, Pezão! — gritei e dei-lhe um cascudo.
Quando chegamos ao pronto-socorro e abriram a porta de trás da ambulância, vi o corpo de Carolina coberto por um lençol todo manchado de sangue. Isso não está me cheirando muito bem.
— Por que eles estão demorando tanto pra tirar minha irmã da ambulância? — disse Caroline, seus olhos estavam arregalados.
O médico que acompanhava Carolina na ambulância veio em nossa direção.
— Não, não, não — repetiu Caroline — ... por favor, não ...
E saÃmos do carro. O médico estava a uns 6 metros de nós. Caroline deu um pique até ele.
— Sinto muito — disse o médico. — , sua irmã sofreu traumatismo cranioencefálico e não resistiu.
E Caroline desmaiou novamente. Desta vez o médico a segurou.
Puta merda, que noite terrÃvel. Os pais de Caroline fizeram um puta escândalo no pronto-socorro, queriam bater em nós dois. Depois a polÃcia apareceu pra nos interrogar. Fomos suspeitos de assassinar a Carolina, é mole ou querem mais? Sim, tem mais, depois da polÃcia ainda tive de agüentar um puta sermão dos meus pais. Minha mãe ficou uma fera quando descobriu que eu tinha ido pro motel ao invés de ter saÃdo para comprar o presente de aniversário dela.
Mas o pior de tudo vocês ainda não sabem, após aquela noite eu acabei me apaixonando pela Caroline. Sim, caros amigos, os filhos da puta também se apaixonam, não é? Não sei explicar, só sei que me apaixonei. Mas vocês sabem como eu sou um rapaz sortudo, não sabem? Então ... os pais dela não podem me ver nem pintado de ouro, eles me odeiam de morte. Ainda me lembro da primeira vez que eu liguei na casa dela após aquela terrÃvel noite. O pai da mina atendeu e me disse o seguinte: "Escuta aqui, seu filhinho de papai, seu nojento de uma figa, se algum dia você colocar a fuça aqui no meu portão outra vez eu meto um revólver no seu rabo e vou enfiar tanta bala que nem sua mãe vai reconhecer o seu corpo no hospital".
Viram só? O sogrão me ama ... hehehe. Eu dou sorte pra sogro, né? Lembram do Hitler?
Bom, com este pequenino obstáculo eu fui obrigado a me distanciar do meu amor. E sofri, viu? Sofri pra caralho. Eu acordava pensando na Caroline. Almoçava pensando naqueles cabelos verdes medonhos, mas ao mesmo tempo tão lindos. Jantava lembrando do jeitinho fofo como ela dizia o meu nome. Ia dormir e me lembrava do seu bafo de cebola, tão nojento e tão excitante ao mesmo tempo. O amor é lindo.
O tempo foi passando e o meu amor por Caroline ... não. Maldita mina dos cabelos verdes. Será que foi feitiço? Putz grila.
Depois de dois meses eu já estava até me conformando, mas foi aà que algo mágico aconteceu.