“Sangue do Meu Sangue”
CapÃtulo 5 – O AntÃdoto
Nem bem terminei a frase e Pezão peidou novamente. Se é que posso chamar aquilo de peido. E este terceiro foi tão estrondoso ou até pior que os dois primeiros. Meu, este rasgou a cueca, com certeza!!!
— Estou indo nessa, Pezão, e só volto quando você estiver melhor.
Pezão ficou furioso. Correu até o quarto do pirralho, mas já era tarde. O guri trancou a porta. De onde eu estava ainda dava para ouvir claramente as gargalhadas de hiena com catapora que o guri estava soltando lá dentro. Maldito pirralho dos infernos.
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Trrrrrrrrrrrrrrimmmmm!!!!
Caralho, tarde deste jeito só pode ser um indivÃduo. Porra, não são nem duas horas da tarde!!!
— Fala, Pezão dos infernos.
— Aqui é a Sonisvalda.
— Sony o quê?
— Sonisvalda, a galota de Alalaquala.
Meu, caà numa gargalhada descomunal, eu parecia uma hiena solta num manicômio.
— O que eu falei de tão englaçado?
— Perdão, é que eu sempre acordo de ótimo humor. Tudo me faz rir. Uma vez ligaram pra avisar que minha tia tinha morrido, nem te conto o rolo que deu.
— E o exame, vocês vão fazer ou não? Eu não agüento mais molar de favor na casa da minha amiga. É chato pla calalho.
— Imagino. — e caà na gargalhada novamente.
Porra, vocês não imaginam o quanto é difÃcil se manter sério ouvindo alguém falar feito o Cebolinha. Dá a impressão de que você está dentro de um gibi. É foda.
— Selá que eu liguei elado? Quem costuma agir assim comigo é o seu amigo MaulÃcio. Você semple me tlatou bem.
— Perdoe-me novamente. Agora falando sério, nós vamos fazer o exame. Só não marquei porque eu queria saber quando você poderá vir aqui pra fazermos juntos.
— Puxa, que ótima notÃcia!Â
— Vamos descobrir quem é o pai do Rogério.
— Não é Rogélio, é Rodligo.
— Isso aÃ. Falando nisso, quantos anos ele tem?
— Oh, cabeça de vento, acorda, ele não completou nem 3 meses ainda.
— Ah, é verdade. Dã!!!!
— Ele é lindo, aposto que vai se dar muito bem com a mulhelada quando clescer.
— Só espero que ele seja mais esperto que o pai.
—Â Como assim?
—Â Espero que ele use camisinha, porra!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
— Verdade, foi muita bulice nossa. Pense bem, podelÃamos ter contlaÃdo uma doença venélea.
— Putz, é mesmo, eu nem tinha parado pra pensar nisso.
— Mas voltando ao assunto do exame, eu esqueci de lhe dizer, não tenho glana pla pagar. Como vamos fazer?
— Não se preocupe, a gente paga.
— Calalho!!!!!! É mesmo????? Não acledito!!!!!! Você é um anjo?????
— Nem, idiota mesmo.
— Não fale assim, vocês estão agindo como homens. Estou orgulhosa de vocês.
— Acho melhor você vir logo pra cá, antes que a gente mude de idéia.
Agora quem caiu na gargalhada foi ela.
— Você é muito englaçado, Nando. Tomala que você seja o pai do ...
— Opa, opa, opa!!! Não vamos nos precipitar, ok? Façamos o exame e depois a gente fala neste assunto.
— Tudo bem, você tem razão. Olha, amanhã cedinho vou pegar o ônibus aqui em Alalaquala. Devo chegar aà por volta das 10 holas da manhã.
—Â Combinado.
— Vocês me espelam na rodoviália, certo?
Putz! Este negócio de esperar na rodoviária me trouxe tantas memórias!!! Lembram da ... Ruthinha? Lembram do primo Jaime e da fofoqueira Joana? Lembram da Lu? Caralho, acho que peguei trauma de rodoviária. Aquele lugarzinho é meio sinistro.
— Sim, esperamos por você lá.
— Só mais uma perguntinha, você se lembla de mim, certo?
—Â Pra ser sincero ...
— Calalho, homem é tudo safado mesmo!!! Come e esquece.
— E você se lembra de mim?
— Bom, eu acho que ...
— Também não lembra, né?Â
— Mas eu fiquei de costas pla você o tempo todo, né?
— É mesmo? Disso você lembra.
— É que eu adolo tlansar de quatlo.
Caà na gargalhada novamente.
— Do que está rindo agola?
— Nada, fica fria, amanhã a gente se vê na rodoviária.
— Sou gostosa, quando me ver vai se lemblar da festa do Coluja.
—Â Espero que sim.
— Até amanhã.
— Até.
Nem bem desliguei e a porra tocou novamente.
Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmm!!!!!
— Fala, Peidão dos infernos!!!!
— Peidão dos infernos o caralho!!!! Nem me fale nisso, estou com o cu rasgando de dor. Se eu pego aquele pirralho eu mato!!!! Maldita balinha da porra!
— Eu te avisei, cara.
— Eu detesto admitir, mas foi verdade, você me avisou.
— Até parece que você não conhece o seu mano.
— Aquele filho da puta ainda vai se dar muito mal na vida, ou muito bem, sei lá. Isso se eu não esganar aquele pescocinho fino de galinha que ele tem.
Ouvi um trovão pelo telefone. Bom, na verdade não era bem um trovão, mas um ...
— Caralho, Pezão!!! Você ainda não parou de peidar?
— Não, porra!!! Não acabei de dizer que estou com o cu rasgando de dor? Aquela maldita bala me fodeu. Eu vou matar aquele pentelho dos infernos.
— Nem pense nisso, você sabe muito bem que ele é o xodó da sua mãe, se você fizer isso ela mata você depois.
— Bom, isso é verdade.
— Falando na mama, acabei de conversar com a Cebolinha cover.
—Â E daÃ?
— E daà que ela virá pra cá amanhã.
— Amanhã?
— Sim, faremos esta porra deste exame de uma vez por todas.
—Â E ficaremos livres.
— Não é bem assim, afinal de contas um de nós é o pai do moleque.
— Não sei explicar, mas eu tenho certeza de que sou o pai do guri.
— Sei lá, semana passada sonhei com a ... Ruthinha. No sonho ela aparecia com uma barriga gigantesca, grávida de um filho meu.
— Se a minha mãe descobrir que é avó eu acho que ela me mata.
Outro trovão. Ainda bem que telefone não tem cheiro!!!!!!!
— Meu, parece que você tem uma corneta colada no cu. Que diabos tinha naquela bala?
— O pior é que o filho da puta não sai daquele quarto!!! Ele sabe que se sair eu pego ele de jeito e quebro todos os ossinhos. Cara, meu cu está em chamas!!!
—Â Enfia a mangueira que passa!
—Â Nando.
— O quê?
— Enfia o dedo no cu e conta até cem.
Desliguei o telefone.
Triiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmm!!!!!
Caralho!!! Mas que diabos está acontecendo? Não me deixam em paz!!! Não agüento mais atender telefone, meu ouvido está ardendo.
— O que você quer, porra??? — gritei, apertando o telefone com muita raiva.
— Calma. — não é a voz do Pezão, se eu não me engano é o pirralho.
— Cara, seu irmão está muito puto com você.
O pirralho caiu na gargalhada.
— Sério, cara, — falei. — eu acho que desta vez ele te mata. Fica esperto.
— Olha, eu queria te pedir um favor.
— Favor? Olha, eu adoro zoar com a cara do seu irmão, você sabe disso, mas ajuda o cara, ainda mais que nós vamos fazer um exame amanhã e não quero ser obrigado a agüentar o Pezão jogando bosta no ar que eu respiro.
— Então, o favor é justamente pra ajudar. Eu acho que consegui desenvolver uma outra bala pra reverter o efeito dos gases incontroláveis.
— Espera um pouco, você "acha" que conseguiu? Então você ainda não tem uma fórmula pra fazer aquilo parar?
— Mas acho que vai funcionar, só preciso da sua ajuda.
Lá vem merda. Duvidam?
— Qual é o favor? — perguntei, pensando mil e uma coisas ruins.
— Preciso de um pêlo do cu do meu irmão.
Não falei? Eu tenho um ótimo faro pra sacanagem.
— Pêlo de onde?
—Â Do cu.
— Porra, isso é um favor ou um pedido suicida?
—Â Eu preciso pra fazer a bala.
— Ah, fala sério!!!
— Estou falando, eu preciso do pêlo do cu da pessoa que chupou a bala, sem este ingrediente o bagulho não funciona. Já fiz vários testes.
— Então sinto muito, seu irmão vai ficar com o cu pegando fogo até morrer.
— Pois é.
— Porra, mas por que precisa ser eu? Você que fez a porra da bala, vai lá e pede um pêlo do cu dele! Se for pra ajudar ele vai dar numa boa.
— Nem vai. Antes ele me mata, eu nunca vi ele tão puto assim comigo. E pra ajudar minha mãe viajou. Não tenho ninguém pra me proteger dele.
— Xiiiiiiiiii, sua mãe viajou? Sujou pro seu lado então, hein!
— Sujou. Vai ajudar ou não?
—Â Nem vou.
— Grande amigo você é, hein!
— Tudo tem um limite, guri. O máximo que eu posso fazer é pedir pra ele arrancar um pêlo e jogar aà pelo vão da porta do seu quarto. Serve?
— Claro, você faria isso?
— Bom, aà não me custa nada.
— Legal. Fico no aguardo.
O pirralho desligou o telefone.
Porra, lá vou eu novamente. Não agüento mais ver telefone na minha frente. Vou pegar raiva desta merda.
Disquei para o celular do Pezão, o filho da puta atendeu.
— O que você quer?
— Fica na tua, só estou ligando pra ajudar.
— Ajudar? Cara, a única coisa que pode me ajudar neste momento seria um caminhão de gelo pra eu sentar e aliviar minha dor anal.
— Não tenho um caminhão de gelo, mas tenho a solução.
— Ah, fala sério, não venha me zoar agora, né? Estou sofrendo.
— Cala a boca e escuta, porra! Seu irmão acabou de me ligar.
— É mesmo? Meu, hoje eu pego aquele filho da puta e acabo com a raça dele.
— Calma, ele quer ajudar. Acho que ele descobriu um jeito de parar o efeito da bala.
—Â Aquele Bill Gates da porra deve estar planejando algo ainda pior.
— Nem está, cara. Senti sinceridade no pirralho.
— Xiiiiiiiiii, acho que você está metido nessa também.
— Nem estou, porra!!! Estou falando sério. Ouça, ele precisa de uma coisa pra fazer o antÃdoto.
— Não quero nem saber o que é, não vou cair nessa.
— Fica frio, cara, eu acho que o bagulho é sério. Acho que ele está arrependido do que fez, ou está com medo de você porque sabe que sua mãe viajou.
— Minha mãe viajou?
— Foi o que ele disse. Você não estava sabendo?
—Â Nem!
Putz! Lascou. Agora o pirralho está fodido. Daqui deu pra ouvir Pezão correndo até o quarto do guri. Antes um outro trovão. Cara, o cu do Pezão deve estar um regaço só.
— Abre esta porta, filho da puta!!! — gritava Pezão, sem parar.
— Pezão, me escuta!!! — comecei a gritar ao telefone, tentando fazê-lo me ouvir.
E consegui.
— O que você quer? Já falei que não vou cair nessa.
— Dá uma chance pro guri, eu acho que ele está mesmo arrependido e quer ajudar.
— Sei lá.
— Arrisca. O que pior pode acontecer?
— Muitas coisas. Meu pau pode ficar preto, roxo, azul ou até cair. Eu não duvido de mais nada. O moleque é bruxo.
— Bom, isso é verdade.
—Â Fala logo o que ele quer de mim.
— Ele disse que precisa de um pêlo do seu cu.
Pezão deu uma bicuda na porta do quarto do pirralho. A violência foi tão grande que Pezão deve ter fraturado algum dedo.
— Acha que eu vou cair nessa??? — gritou ele.
— Um só! — gritou o pirralho, do outro lado da porta.
—Â Sai fora!Â
— Pezão, arranca um pêlo aà e dá pro garoto, porra!!! Quem não arrisca não petisca.
— Se fosse com você eu queria ver se teria coragem. Você também morre de medo das bruxarias dele.
Admito, isso é verdade. O Bill Gates Júnior é foda.
— Ah, sei lá então, faça o que lhe der na cabeça. Eu estou cagando e andando.
— Vai funcionar, eu juro. — disse o pirralho.
Quando eu já ia desligar o telefone Pezão disse alguma coisa:
— Tudo bem, mas reze pra funcionar, caso contrário seu funeral será amanhã cedo. Isso se conseguirem achar todos os pedacinhos do seu corpo espalhados pela casa.