As Aventuras de Nando & Pezão

"O Show do Rappa"

Capítulo 4 – O Show.

A fila começou a andar. Estávamos bem próximos do portão. Pezão precisava tomar uma importante decisão. Entrar e arriscar um possível conflito com o Berimbau e os guarda-costas ou perder o show.

— Porra, dá uma luz aí pra mim, mano! — gritou o Pezão pra mim.

— Não sou lâmpada, Pezão! Decide aí, cara! Você sabe muito bem que eu até te ajudaria, mas olha só o tamanho dos caras! Nem fodendo! Eu quero ver o show com as minhas próprias pernas, não estou a fim de usar muletas.

— Com tanta mina por aí e você tinha de comer justo a irmã do Berimbau? — disse Mamute, encoxando a loira. — Tu é muito burro!

— Sai fora, Mamute! Burra é esta loira aí! Como é que um pitelzinho desse tem as moral de dar pra um cara feio como você?

A loira nem deu bola. Não entendeu nada mesmo.

— Vai tomar no seu cu, cara! Pelo menos eu não fico catando tribufu em barzinho de esquina, falou? A Jurumina é mó cruzamento de urubu com elefante! Acho que nem chapado eu teria coragem de comer uma mina daquelas.

Enquanto os dois brigavam eu fiquei de olho no decote da loira. Putz! Vai ter peito assim lá em casa! Maldito Mamute do inferno. Ainda não consegui entender o que a loira viu nele. Caralho grande? Não, já tive o desprazer de ver o bilau do Mamute num vestiário. Não é tudo isso. Ah, foda-se, o que me importa isso? Se tudo der certo eu também vou sair deste show com uma gostosa. Pensamento positivo!

— Quer saber? — disse Pezão de repente. Faltavam apenas uns três metros para o portão do clube. — Foda-se! Vou entrar. 

— Issaê, mano! — Incentivei. Será que acabei de empurrar o Pezão para seus últimos minutos de vida? Hahaha ... Sei lá! Tenho certeza de que ele teria feito o mesmo por mim.

Mamute continuava encoxando a loira. Imagine só um elefante brincando com uma gazela. Imaginou? Beleza. Não está muito longe da imagem que estou vendo agora.

Passamos os cartões magnéticos pela catraca do clube.

— Esta porra aqui é falsa, cara! — gritou um dos seguranças. Nem preciso dizer que era justamente o meu cartão.

— Que isso, mano? Falso o caralho! — fiquei nervoso.

Os malditos seguranças começaram a rir.

— Brincadeira, cara. — disse o segurança, sorrindo e encarando os peitos da americana, bem atrás de mim.

Puta merda! Por quê será que nós homens adoramos fazer uma gracinha quando estamos próximos de uma mulher gostosa? Caralho! A cabeça de baixo é um perigo. A culpa é dela, tenho certeza. Bom, os peitões da americana também ajudaram um pouco.

Mamute quase ficou preso na catraca.

— Tá precisando de um regimezinho, Mamute! — disse Pezão, coçando o saco.

— Sua mãe não acha! 

Os seguranças saíram pagando pau.

— Se tu não fosse tão gordo eu te arrebentava a cara! — Pezão ficou puto.

— Fica na tua, Pezão. Berimbau vai dar um jeito em você.

Mamute passou pela catraca. Pronto. Estamos os quatro dentro do clube. Falta só passar pela revista dos seguranças e partir pro meio do salão. Vou pular muito esta noite! Não quero nem saber!

— Berimbau o caralho! — disse o Pezão. — Foda-se o Berimbau.

Quando Pezão virou o corpo deu de cara com o próprio. Berimbau. Estava com as mãos na cintura e tudo. Cara de poucos amigos. Fodeu.

— O que você falou aí? — disse o Berimbau. Apesar de atarracado a sua voz não era nada assustadora. Tipo Mike Tyson, saca?

— E... e... eu? — Putz! Nunca vi o Pezão com o cu tão apertado em suas mãos. — Eu não falei nada.

— Eu ouvi você dizer Berimbau. Nunca mais repita esta palavra aqui no clube. Entendeu?

— Mas não fui eu quem disse, foi o meu amigo... — Pezão procurou o Mamute. Putz! Acreditam que o Mamute não estava mais ali? Maldito gordo do inferno! Como é que ele conseguiu ser tão rápido assim? Ele e a loira peituda já estavam pra lá dos seguranças. Acabavam de passar pela revista. O medo faz coisas impressionantes, não concordam? — Filho da puta. — sussurrou Pezão.

— Você vem comigo. — Berimbau agarrou sua nuca e o puxou.

— Oh, mano, me larga! — e olhou pra mim. — Não vai me ajudar, Nando? Porra, faz alguma coisa!

Dei um passo a frente e dois seguranças me barraram.

— Mas que porra é esta? — eu esbravejei. — O que ele vai fazer com o meu amigo?

— Fica frio, cara. — disse um dos seguranças, o mesmo que fez a gracinha com o meu cartão. — O Berim.... quero dizer, o chefe só vai...

— Conversar com ele. — completou o outro segurança, com um sorriso meio irônico nos lábios.

Fiquei um pouco preocupado. Mas eu conheço bem o Pezão, neste momento ele já deve estar com a carteira de couro aberta subornando o pessoal. Este é o Pezão que eu conheço. Ouvi alguém me chamar. Mamute, já dentro do salão. Passei pela revista sem maiores problemas e cheguei até ele. Sobre a luz fraca os peitões da loira pareciam ainda maiores. Cara, acho que estou gamando na americana! Hahahaha.... Também, com uns airbags daqueles até você estaria babando agora.

Já estava chapado de gente no salão. Graças a Deus a bandinha sem vergonha já havia sumido do palco. Agora tem um DJ comandando o ambiente, tocando Californication. Putz! Ainda me lembro de quando eu e uns amigos fizemos uma versão pra esta música. A nossa se chama Caralho Furniqueition. Bom, nem adianta me pedir, não vou contar como era a letra. Não neste horário. Hahaha ...... Tem criança assistindo.

Mamute chegou perto do meu ouvido e gritou para que eu pudesse ouvi-lo:

— Quer saber porquê o apelido do cara é Berimbau?

Acho que foi isso que ele me perguntou. O barulho está alto demais, do jeito que eu gosto!

— Claro! — e dei risada. 

Mamute caiu na gargalhada, e deu um puta beijo na loira. Tô ficando de saco cheio deste agarramento. Preciso achar alguém depressa pra fazer isso também, porra! Não vim aqui segurar vela pro Mamute. Nunca imaginei que um dia eu ficaria segurando vela pro Mamute. Meu, no colégio o cara não comia nem as mina vesga e banguela!

— Ele não gosta deste apelido. — gritou o Mamute. — Ninguém tem coragem de falar isso na cara dele.

— Eu percebi mesmo. Mas conta logo! Por quê o apelido dele é Berimbau?

Mamute chegou perto de mim e gritou:

— Berimbau, DÁ O CU PRA NÃO GASTAR O PAU!!!

Puta merda! Eu quase me mijei nas calças! Hahahaha..... Putz grila! 

— Caralho, Mamute! Você está brincando comigo.

— É verdade, cara. O nosso amigo pisa na chapinha.

Dei mais risada ainda. "Pisa na chapinha?" Eu pensava que só eu usava esta expressão.

Lembrei do Berimbau levando o Pezão pra dentro de uma sala fechada. Não me segurei. Caí na gargalhada.

— Putz! Só o pó do Pezão! Hahahaha

— Pezão já era, Nando. A partir desta noite vai ser Pezinha, a moçoila desgarrada.

Meu, eu preciso tomar um ar! Hahahaha .... Se eu continuar a rir deste jeito vou ter um ataque cardíaco! Putz!

Mamute começa a chorar de tanto rir, e aponta pra um lugar.

— Olha só quem vem vindo ali. — diz o Mamute.

Era o Pezão. Vinha caminhando lentamente, com as pernas meio bambas. Hahaha.... Estava meio escuro por ali, mas era ele mesmo.

— Pelo menos está vivo. — eu disse, tentando conter o riso.

Pezão chegou até nós.

— E aí, o que aconteceu? — Não suportei, acabei rindo no final da frase.

Pezão estava com uma cara séria. Apenas me encarou. Não disse nada.

— Vamos ali no bar, Nando. — disse o Mamute. — Estou com fome, quero comprar uma ROSCA! — e caiu na gargalhada.

Pezão ficou puto, e desconfiou de que já sabíamos de alguma coisa.

— Porra, ouçam bem o que eu vou dizer, — Nunca vi o Pezão tão sério. Nem parecia a mesma pessoa. — se contarem o que houve aqui esta noite eu conto pra todo mundo o que aconteceu em Ubatuba. 

Opa! Nada disso. Ubatuba é caso arquivado. Tipo arquivo X. Não se comenta.

— Beleza, Pezão. — disse Mamute, sério. — Fica frio.

— Grande Pezão, fica frio. — eu disse. Afinal Ubatuba é algo que não deverá ser revelado nunca! Puta merda, não gosto nem de me lembrar. Olhei para o Mamute e disse: — Não aconteceu nada aqui, certo?

— Isso aí, Nando. — Mamute também tem problemas com o famoso incidente em Ubatuba. 

— Isso aí. Já é passado. — disse Pezão, passando a mão na bunda da loira. Maldito cara, só ele mesmo. Mamute nem percebeu. A loira fingiu que não viu nada. Hahahaha.... Se eu soubesse que a reação dela seria esta eu teria apalpado aquela bundinha faz tempo! — Uhuuuuuuu! Agora é sair catando a mulherada! — Pezão voltara ao normal.

O maldito DJ começa a tocar a música Bota Pra Mexer, do Maurício Maniéri. Putz! Alguém aí me vê uma bala pra eu matar este maldito DJ! Porra, fala sério! Depois de Californication ele emenda Maniéri? Este DJ deve ter cheirado um do bão.

— Vamos lá pegar uma. — disse Pezão, já indo em direção ao bar do clube.

— Claro, demorou! — Uhuuuuu! A noite promete!

Mamute e a loira foram para outra direção.

— A gente se tromba por aí. — disse Mamute, agarrando a bunda da loira.

— Beleja. — respondi. Meu, só eu não belisquei a bunda da americana? Porra, sacanagem!

A fila do caixa estava longa. Meu, quem será o cara que inventou a cerveja? Se algum dia você descobrir fala pra ele passar lá em casa pra gente tomar umas. Este cara foi um gênio. Devo umas quatro transas a ele. Fala sério, comer mulher bêbada é muito engraçado, e arriscado também. Lembro-me de que destas quatro, três estavam tão chapadas que nem se lembravam o que é uma camisinha. Eu ficava falando: "Espera um pouquinho, vou pegar a camisinha", e a mina respondia, aos soluços: "pega não, cara! Pega não! Pra que mais uma camisa? Você já está usando uma, vai sentir calor, cara!" hahahaha .... Eu, hein! Uma delas confundiu o câmbio do carro com o meu bilau. Este dia foi muito engraçado. Eu ainda tirando a cueca e a mina tendo seu quarto orgasmo sentada em cima do câmbio. O pior de tudo foi que eu fiquei apavorado, pois eu cheguei a pensar que tinha perdido a sensibilidade do meu pau! Hahahaha.... Eu pensava comigo: "Caralho! A mina está quase morrendo de tanto tesão e eu não tô sentindo nada! Maldita Caracu!" Hahahaha..... Histórias de bebedeira todo mundo tem, ou não tem? Fala sério, confessa. O pior é quando a gente chega em casa e encontra os pais sentados na sala te esperando. Ainda bem que isso nunca aconteceu comigo, ou eu estava tão chapado que não me lembro, sei lá. 

Quase a nossa vez no caixa, só tinha uma morena baixinha muito gata na nossa frente.

— Uma latinha de cerveja e uma de Pepsi, obrigada. — disse ela, enfiando duas notas de um Real pelo guichê.

— Tá faltando 50 centavos, mocinha. — disse o caixa, com uma cara de poucos amigos.

— Ah, quebra o galho da menina! — gritou Pezão de repente.

A moreninha olhou para trás e deu um sorriso para o Pezão. Pronto, o filho da puta já arranjou alguém. Querem apostar?

— Não sou macaco pra quebrar galho. — disse o caixa.

— Sabia que você é muito grosso? — resmungou a moreninha, pegando o dinheiro de volta.

O caixa a ignorou completamente. Pezão enfiou a mão na sua volumosa carteira e comprou três cervejas e uma Pepsi. Uma cerveja pra moreninha, outra pra mim e outra pra ele. Maldito Pezão, quando tem mulher na parada o filho da mãe parece um anjo caído do céu. O problema das minas é quando elas descobrem que ele não passa de um lobo em pele de cordeirinho.

A moreninha pegou a latinha de cerveja, abriu e tomou com gosto. Eu e Pezão ficamos espantados. Pelo menos eu nunca vi uma garota tomar cerveja com tanto gosto. Pezão já colocou a mão na cintura da moreninha e perguntou próximo ao seu ouvido:

— Então a Pepsi é para quem? Não é para o namorado, é?

— Não. — Pezão olhou pra mim e fez sinal de jóia, a moreninha não viu. — A Pepsi é para a minha amiga.

Uhuuuuuuuu! Também me dei bem!!! Uhuuuuuuuuu!

Voltamos para o salão, agora o DJ me inventa de tocar um pagode. Putz! Eu preciso saber quem é este filho da puta deste DJ. Onde ele aprendeu a tocar? Caralho! Quem se deu bem foi o Pezão, a moreninha gostosa começou a rebolar sua bundinha, jogando todo seu charme pra cima dele. E precisa? Pezão é tarado por natureza, assim como eu! Hahahaha...... O nome da moreninha é Kátia, veio ao show com a amiga Letícia. Hummm, belo nome. Espero que seja tão gata quanto a morena. Pezão botou a mão na cinturinha fina de Kátia.e começou a beijar o pescoço da morena. Após deixar uma tremenda marca de chupão no pescoço de Kátia ele se estica todo e chega até o meu ouvido e diz, com um largo sorriso entre os lábios:

— É hoje, mano! Me dei bem!

— Cadê a amiga? — perguntei.

A moreninha vira e lasca um beijo de língua no Pezão. Maldito safado filho da mãe. Agora eu me pergunto, teria a moreninha feito tudo isso se não tivesse visto a carteira gorda na mão do Pezão? Posso ser sincero? Aqui, ó! Fiz uma banana, mentalmente, é claro. 

Após um longo beijo o Pezão perguntou pra morena:

— Onde está a sua amiga? Meu amigo ali já está a perigo!

Kátia sorri e olha pra mim. 

— Você vai gostar da Lelê, ela é super legal.

Lelê? Legal? Xiiiiiiiiiii, estou sentindo cheiro de encrenca. Eu gostaria tanto de rebobinar a fita e ouvir: "Você vai adorar a minha amiga! Ela é linda e gostosa. Precisa ver os peitinhos durinhos e e bundinha empinada!" Bons sonhos, Nando. Esqueceu? Isso aqui não é filminho americano. Não é episódio de Malhação. Isso aqui é a vida, onde Vespúcias, Izildinhas, Juruminas e outros tribufus dos horrores existem. Seria a Lelê um tribufu? Seria a Lelê uma combinação de coisa-ruim com porco-espinho? Agora é tarde, vamos em frente.

— Como ela é? — é ridículo perguntar isso pra amiga. É lógico que ela nunca iria dizer que a amiga é vesga e com dentes podres. Mas agora já perguntei.

— Ah, não quero estragar a surpresa. Já estamos quase lá, espera um pouquinho. Deixei ela com o meu irmão.

Putz grila! Deve ser fubanga, a menos que o irmão dela...

— Meu irmão é o DJ que está tocando hoje. Legal, né? — ela olhou pra mim. Será que a morena lê pensamentos?

— Oh, da hora. — Putz! Sorte a dela ser uma gatinha, e se tem uma coisa que aprendi é que sempre devemos concordar com mulher bonita. Não importa o assunto, eu concordo. — Só musicão. — Putz! Esta doeu. Ainda mais com a música que o irmão dela começou a tocar: Dança da Garrafinha.

Pezão agarrou novamente a cintura da morena e lascou o linguão na sua orelha. Enquanto recebia a linguada a morena olhou pra mim e disse:

— Achei estaile a sua língua. Como é que você deixou ela desta cor?

— Produto importado da Dinamarca. — Até eu já estou começando a acreditar nesta estória.

— Só, maneiríssimo.

Já vi tudo. Esta mina é daquelas que topam transar a três. O famoso Ménage à Trois, para os tarados de plantão. Você já conhece, né? Fazer que é bom ... nada. Liga não, eu também nunca fiz. A menos que o câmbio do Pálio seja considerado uma terceira pessoa, né? Hahaha ... Bom, tudo tem uma primeira vez, certo? Uhuuuuuuuu!

Voltamos pro salão, o lugar estava mais cheio que Maracanã em dia de Flamengo X Vasco. Foi empurrão pra lá, sovaco pra cá, passada de mão ali, beliscão acolá, e tudo isso só pra chegar até o babaca do DJ, e é claro, até a Lelê. Vocês precisam ver, estou com as duas mãos fazendo figas. Tomara que a Lelê seja uma tremenda gatinha como a amiga Kátia. Tomara!

De repente o ambiente fica ainda mais escuro. A galera se agita e começa a gritar: "Rappa! Rappa! Rappa! Rappa!" Uma voz surge nos alto-falantes. A galera vai ao delírio, mas ao perceber que o dono da voz não tinha nada a ver com a banda começa uma vaia ensurdecedora. A voz no alto-falante surge novamente:

— Calma, pessoal! Calma! — repetia o cara. — Deixe-me explicar o que está acontecendo.

Olhei no relógio, já era quase 1 da madrugada. O show estava atrasado.

— O show do Rappa vai atrasar um pouco.

Mais vaia. Meus ouvidos quase estouraram.

— Calma, pessoal! Deixe-me explicar o que houve.

As vaias diminuíram.

— A banda teve um pequeno probleminha vindo pra cá. Mas está tudo bem. Só vai atrasar um pouco a entrada deles no palco, só isso.

Mais vaia. Um mais exaltado gritou:

— Sai daí, cuzão!!!

— Enquanto isso o nosso grande DJ Adbaílson vai detonar todas na pista, valeu?

Putz! DJ Adbaílson? Agora quem ficou com vontade de gritar "Sai daí, Cuzão" fui eu!

— É o meu irmão! — gritou a Kátia, arrastando Pezão pelo braço.

Porra, mina, se eu tivesse um irmão deste eu me matava com três tiros na testa. Fala sério. Enquanto isso DJ Adbaílson me coloca um CD arranhado. E tome vaia!!! Esta vaia até eu fui no embalo. To cagando e andando se a Kátia ouviu. Quem está a fim de comê-la é o Pezão mesmo, não eu. Quero dizer, a fim eu também estou, mas a preferência está com o Pezão. Maldito Pezão do inferno. Além disso eu não acho interessante meter minha boca onde o Pezão já enfiou o linguão dele, me dá arrepios só de imaginar.

Neste momento o salão está tão escuro que tive de agarrar a camisa do Pezão para não me perder deles. Larguei minha latinha de Brahma pelo chão. Estávamos próximos do local reservado para o DJ, o que indicava que também estávamos próximos de Letícia, ou Lelê para os íntimos. Só vai ter um problema: ver como ela é. A porcaria do lugar está um breu só! Bom para Pezão e Kátia, que já estão aos amassos. Mão naquilo e "coiso" na coisa. O bicho tá pegando entre os dois.

— O motel é pra outro lado! — brinquei, cutucando os dois. Kátia virou pra mim e disse:

— Wando, né?

— Meu nome? Não! É NANDO! Na verdade é Fernando, mas nem meu pai me chama assim. 

— Ah, tá. Espera um pouquinho, vou ali buscar a Lelê. Ela curte caras de aparelho, vai gostar de você.

— Mas eu não uso aparelho! — Porra! Esta mina é maluca?

— Ah, só. Ela também. Espera aí. — Antes passou a mão na bunda do Pezão. Putz! Pezão se deu bem mesmo, descolou uma biscate das boas. Bonitinha, gostosinha e o mais importante... safadinha. Tomara que a minha também seja assim.

Quando a Kátia sumiu na multidão Pezão veio pra cima de mim, com o olhar sacana de sempre.

— Meu, que coisinha! Viu só? Quando os peitinhos encostaram em mim eu fiquei com medo do zíper da minha calça não agüentar a pressão do...

— Vai se foder, Pezão! Não estou a fim de saber disso não. Sai pra lá.

— Está nervosinho por quê, mano? Ela foi buscar a amiga, meu! Deve ser um tribufu dos horrores, mas... Foda-se! Eu cataria.

— Falar é fácil, você ficou com a gostosa.

— Gostosa e biscatona mesmo! Nem imagina o que ela me falou baixinho nos meus ouvidos. Cara, me dei bem! É hoje que o Golzinho vai quebrar a suspensão!

Bom, não custa perguntar:

— Será que ela topa Ménage à Trois?

Pezão me olha com cara de maluco e:

— Homenagem pra quem?

Pra quê fui perguntar, né? A culpa foi minha. Perdão, amigo leitor.

— Deixa pra lá, Pezão.

Puta merda, como tá escuro! Nem mesmo o jogo de luzes do clube ajuda. De repente...

— Aqui está a Lelê, Wando.

— É Nando! — Porra, será que é de propósito?

— Oi, Nando. — Oloko, gostei da voz, o problema foi saber de onde vinha. Ta um breu danado. Ah, sim, um vulto. Agora melhorou um pouco.

— Oi. Letícia, né? — peguei alguma coisa, uma mão. Macia! Estou gostando.

— Pode me chamar de Lelê.

— Tudo bem, Lelê. — Beijei-lhe a face. Até aqui tudo bem, eu só queria ter a oportunidade de ver o rosto dela. Apesar das silhuetas não dá pra ver como ela é.

— Vou deixar vocês dois sozinhos. — disse Kátia. — Divirtam-se!

Sorrimos. Bom, pelo menos eu acho que a Lelê sorriu. Tentei olhar bem pra ela, deu pra notar que era mais alta que a Kátia. Cabelos compridos, talvez. Esta curiosidade está me matando!

— Você é daqui? — perguntei.

— Não, estou de férias. Moro em Curitiba. Vim passar uma semana na casa da Kátia. Somos amigas de infância.

— Só por curiosidade, quantos anos você tem?

— Tenho 18 anos, e você?

Uhuuuu! 18 aninhos! Bom sinal.

— Sou bem mais velho. — brinquei.

— É mesmo?

— Pois é, tenho 19 anos. São 12 meses a mais, sabia?

Ela sorriu. Não sei o motivo, minha piada foi horrível. Pra ajudar, o irmão da Kátia começou a tocar Ivete Sangalo. Ah, não curto, mas também não mata ninguém. Passa.

— Meu, eu amo esta música! — disse Lelê.

— É mesmo? Quer dançar?

— Sim.

Agarrei a cintura de Lelê e depois de algumas cotoveladas conseguimos encontrar um ponto razoavelmente vazio no salão. Notei que a cinturinha dela não era tão fininha quanto a da Kátia, mas... dá pro gasto.

— O que você faz? — perguntei. — Estuda? Trabalha?

— Trabalho com o meu pai durante o dia e estudo no período da noite.

Garota batalhadora. Gostei. Na verdade eu queria a biscate, mas tudo bem.

— O que o seu pai faz?

— Ele é agente funerário.

— Interessante.

Obs.: Interessante = "Eu, hein! Putz grila!"

— Eu gosto de trabalhar na funerária. Eu me dou bem com os mortos, sabe?

— Legal. — Putz! Quem é esta garota? A Mortícia da Família Addams?

— Eu falo com os mortos, sabe? Faço carinho neles. Só por quê morreram não significa que não sintam afeto. Não concorda?

— Opa, é verdade. — Putz! Alguém me tira daqui!!!

Não riam, caros leitores. Estou numa situação delicada. E se ela for uma tremenda gata? Peitinhos e bundinha empinada. Oh, alguém aí em cima, sei que nunca fui bem visto por aí, mas me ajuda! O que eu faço?

— Meu pai fala que eu levo o maior jeito com os mortos, sabe?

— Interessante.

— Você deve estar me achando uma louca, não é?

Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu? Imagina!

— Estou não, Lelê. Eu também curto estas paradas aí de gente morta. É verdade. Conhece Julio Fantasma?

— Não. É alguma banda?

Puta merda, eu preciso descobrir como é o rosto dela de qualquer jeito. Se ela for gostosa eu simplesmente ignoro tudo o que ela me disse até aqui e sigo a noite com muito beijo de língua e a famosa mão boba. Nem vou me importar se ela já transou com morto.

— Não é banda não. — e dei um sorrisinho. — Quer tomar alguma coisa?

— Ainda estou tomando. Minha Pepsi não acabou.

— Ah, ta. Mas a minha ... coca-cola já acabou. Vamos até o bar comigo?

Preciso levá-la até um local claro urgentemente!!!

— Ah, mas tem muita gente pelo caminho. Prefiro ficar aqui e...

Puxei-a delicadamente:

— Vem comigo, vai ser divertido. Te compro umas balinhas de menta. Vem.

— Tudo bem então.

Entre cotoveladas, apalpadelas daqui, beliscões dali nós fomos passando pela multidão. Em certos momentos eu nem via pra onde estava indo, mas segui em frente. Mais cedo ou mais tarde eu chego lá no bar.

— E você, estuda? — perguntou Lelê.

— Estou fazendo cursinho. Ano que vem vou prestar vestibular pra Direito.

Acho que ela não ouviu o que eu disse. Na verdade nem eu ouvi direito, o babaca do Adbaílson começou a tocar "Olha olha olha a água mineral...." O bicho pegou, meus amigos, nunca vi tanto sovaco passar diante de meus olhos como estou vendo agora. Brasileiro é foda. Não pode ouvir música de carnaval que fica louco. Precisa ver, até a galera heavy metal com camisa do Iron Maiden e Stratovarius pulando ao som da Timbalada, ou sei lá quem canta isso.

Bom, o grande momento da noite está próximo. Chegamos ao bar, onde a luz já era o mais próximo do normal. Minha mão direita agarrada à mão delicada de Lelê. Bastava apenas eu olhar para trás e vislumbrar o físico de Letícia, ou Lelê para os íntimos. Será ela uma deusa? Será ela um cruzamento de jumento com mamão papaia? Putz! É agora. Virei lentamente meu rosto em sua direção e...