As Aventuras de Nando & Pezão

“Chiquinho Vesgo - O Esquartejador ”

Capítulo 2 – O Amor é Lindo

— Eu imagino. Posso contar com sua colaboração?

— Não sei.

— É claro que você receberá um cachê do programa.

— Opa, demorou! Tô dentro. Quando começamos?

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Meu, não estou acreditando! Eu vou trabalhar para a Globo! Putz grila, eu sou foda. Quando o Pezão souber ele vai se matar de inveja e....

Triiiiiiiiiiiiiiiiiimm!!!!

Falando no diabo...

— Fala, Pezão dos infernos!!!

— Porra, que animação é esta? Ganhou na Loteria? Espera, não precisa nem me dizer .... quando você atende o telefone com esta voz é porque você comeu alguém. Porra, conta pra mim! Foi aquela loirinha de toquinha vermelha? Meu, a mina era muito feia, parecia até a ....

— Lelê?

— Porra, justamente! Parecia a Lelê.

— Você está ficando cego, Pezão. A loirinha era até bonitinha, mas eu não catei.

— Mas quem você comeu então?

— Puta merda, Pezão! Cala esta boca e me deixa contar um bagulho muito louco que acabou de me acontecer. Você não vai acreditar.

— Fala.

— Sabe o programa Linha Direta?

— Um programinha tosco que mostra umas historinhas toscas com gente tosca?

— Este mesmo.

— O que tem?

— Vão contar a história do Chiquinho.

— Qual Chiquinho?

— Porra, Pezão, acorda! O Chiquinho Vesgo!

— Caraaaaaaaaaaaaaaaaalho!!! É mesmo? Que doido!

— O produtor do programa me ligou. Querem que eu dê umas dicas para o ator que vai interpretar o papel do Chico.

— Porra, pior que você imitava o cara direitinho. Mas como descobriram?

— Ah, sei lá! Globo é Globo, né? Os caras devem ter feito uma pesquisa fodida.

— Vão te pagar alguma coisa?

— Opa, é claro! Você acha que eu ia fazer de graça? Aqui, ó!

— Filho da puta.

Hahahaha.... eu sabia que o maldito ia ficar com inveja.

— Acho que esta semana eles chegam aqui na cidade para começar a gravar o programa. Porra, o Chico vai ficar famoso.

— Será que ela ainda está vivo?

— Eu acho que não. Você acredita que semana passada eu sonhei com ele?

— Hmmmmmmm.... sei, sei. Quem deu a bundinha? Ele ou você?

— Vai se foder, cara! Sonhei que estávamos jogando futebol lá no campinho.

— Vivo ou não, depois do programa vão acabar achando o filho da mãe.

— Verdade.

Desliguei o telefone e antes que eu saísse do quarto.....

Triiiiiiiiiiimmmmmm!!!!

— O que foi? — atendi.

— Cara, eu liguei pra contar um negócio e acabei me esquecendo.

— Porra, não vá me dizer que seu pau está enfeitiçado novamente!

— Não, não é isso.

— O que foi então?

— Não sei o que está acontecendo comigo. Lembra daquela moreninha baixinha que eu fiquei trocando idéia ontem?

— Acho que sei, e daí?

— Então, cara, eu não consigo tirar a mina da cabeça.

— De qual cabeça? A de cima ou a de baixo?

— Eu acho que das duas. Eu estou com a voz dela na minha mente até agora. Não estou entendendo o que é isso.

— Pezão.

— Fala.

— Enfia o dedo no cu e assovia!!!

— Assoviar? Não era pra assoprar?

— Assoprar é fácil demais, qualquer um faz. Pezão, seu bosta, você não percebeu o que está acontecendo?

— Não, eu estou me sentindo tão estranho.

— Pezão, seu merda, você está ... a p a i x o n a d o !!!!

— O quê ????????

Caralho, nunca vi o Pezão levar um susto tão grande.

— É isso mesmo que eu falei, você está apaixonado.

— Apaixonado o caramba! Isso é coisa de boiola!

— Quem disse? Meu, isso é a coisa mais natural do mundo! Todo mundo se apaixona algum dia na vida. Isso nunca te aconteceu antes?

— Que eu saiba, não! Puta merda, que bosta! Será mesmo?

— Você está sentindo uma puta vontade de estar agarradinho com ela, não está? Está sentindo saudade do perfume, do jeito dela falar, do olhar, do sorriso ......

— Pára com isso, porra! Já entendi, já entendi. 

— Ahá!!! Acertei, não acertei?

Pezão bateu o telefone na minha cara. Filho da puta.

Meu, por esta eu não esperava, Pezão está xonado!!! Hahahaha..... será possível? Os filhos da puta também amam? Será?

No dia seguinte recebi uma nova ligação do produtor do programa, ele me ligou pra avisar que toda a equipe chegará dentro de dois dias. Tomaz e os atores ficarão hospedados na Pousada Marimar. Fui convocado a comparecer ao local no sábado, onde iremos ensaiar algumas cenas para o programa.

Porra, querem emprego mais fácil do que este? Será o dinheiro mais fácil que já ganhei em toda a minha vida. Bom, pra falar a verdade a mesada era mais fácil, né? Hehe.

No final da tarde resolvi passar na casa do Pezão pra trocar umas idéias .... e lá estava ele no maior agarra-agarra com a moreninha. Bom, não sou eu que vou ficar segurando vela, né? Achei melhor dar meia-volta e.....

— Ei, Nando!!! — gritou Pezão. — Volta aqui, cara!!!

Agora consegui ver o rosto da mina, até que ela é bonitinha. Aproximei-me do casal de pombinhos. Hahaha..... se eu falo isso perto do Pezão ele me chuta o saco.

— Oi, tudo bem? — Cumprimentei.

— Tudo. — disse a moreninha.

Ela é baixinha, acho que não chega a 1 metro e meio de altura. Pezão e eu somos altos, a pobrezinha vai ficar com torcicolo se quiser manter uma conversa com nós dois.

— Esta é a Rosabela. — disse Pezão.

— Mas todo mundo me chama de Bel.

— Muito prazer, Bel. O Pezão já tinha me falado de você.

— É mesmo? Falou bem ou mal?

Pezão começou a gesticular pra mim, fazendo sinal pra eu ficar quieto.

— Falou bem, fique tranqüila.

— Ela deu um beijo na bochecha do Pezão.

Hahahaha..... Pezão namorando ... hahaha... ti cuti-cuti !!!!

— O Pezinho é um amor de pessoa. — disse ela, abraçando o Pezão. — Nem acredito que eu encontrei uma pessoa tão boa como ele.

Como é que é???????????? PEZINHO? PESSOA TÃO BOA??? Eu ouvi direito? Hahahahaha .... Será que ela está falando da mesma pessoa que foi capaz de fazer cocô na gaveta da mesa da nossa professora na quarta-série ???

Galera, eu tive um ataque de risos, não consegui segurar. Eu comecei a rir feito uma hiena com caganeira no mato.

Pezão ficou puto e me deu um soco no braço. Filho da puta.

— Não liga pra ele, Bel. O Nando é meio retardado, de vez em quando ele tem estes ataques de riso. É doença.

— É verdade, eu tenho uma doença rara, a Síndrome do Riso Preso.

— É mesmo? Eu nunca ouvi falar.

— Minha mãe me contou que quando eu era criança ela me levou ao zoológico e fui mordido por uma hiena. 

— Credo! Ai, coitadinho!

— Pois é, fui contaminado por esta doença terrível.

Eu olhava para o Pezão e notava seu rosto ficar cada vez mais vermelho de raiva. As veias saltavam da sua testa.

— Você não tem mais nada pra fazer, Nando? — disse Pezão.

— Ai, Pezinho, não fala assim com o seu amigo!

— Ele tem razão, — falei. — eu vou pra casa praticar minhas imitações.

— Imitações? — perguntou ela, com os olhos esbugalhados. — Quem você imita?

Pezão estava prestes a explodir de raiva. Resolvi me mandar.

— Outro dia eu conto. Preciso ir. Bom namoro aí pra vocês. — Olhei para o Pezão e falei: — Estou feliz por você, mano, a Bel é gente boa.

— Obrigadinha. — disse ela.

A menina é tão pequenininha que mais parece um chaveirinho Pokemon. Mas eu gostei dela, bem que ela podia mudar o Pezão, deixá-lo menos filho da puta. Será que ela consegue? Acho difícil. É mais provável o Pezão fazer uma lavagem cerebral na menina. Pobrezinha.

Preciso praticar as imitações, afinal de contas faz 3 anos que eu não as executo. Eu tinha 15 anos quando tudo aquilo aconteceu. Chico era o mais velho da turma, acho que tinha 18 ou 19 anos, não me lembro exatamente. Ás vezes eu me perguntou se foi realmente o Chico quem cometeu aquelas barbaridades todas. Ah, sei lá, todo mundo tem um lado bom e um lado ruim, né? Ele deve ter reprimido tão bem seu lado ruim durante toda a vida e de repente soltou tudo de uma vez só. Pobre Chico. Isso já me aconteceu uma vez, a diferença é que não era maldade, mas gases. Fiquei com um peido preso por tanto tempo que no dia em que eu o libertei ... nem eu consegui ficar perto. Pelo menos eu não matei ninguém por causa disso. Bom, acho que não.

Corri pro meu quarto e comecei as imitações diante do espelho. A imitação que eu mais gostava de fazer era a do seu jeito de andar. Ele costumava jogar a cabeça pra frente e para trás. Meu, era muito esquisito e engraçado.

— Você ficou maluco, meu filho?

Hã? Mãe?

— Há quanto tempo a senhora está aí, mãe?

— Acabei de entrar. Mas o que você está fazendo?

— Estou praticando umas imitações, mãe.

— Nando, você está tomando maconha?

— O quê? Maconha? Mãe, não viaja. E pra começar, maconha não se toma, a gente....

— Ai meu Jesus amado!!! O que foi que eu fiz pra merecer isso?

— Mãe, não viaja!!! Eu nunca mexi com droga nenhuma!!!

— Não mente pra sua mãe, filho!

— É sério, mãe! Eu estou apenas imitando uma pessoa. 

— Quem?

— Lembra do Chiquinho?

— Aquele moleque vesgo que andava com vocês?

— O próprio.

— Espera um momento, não foi ele que .... ai, Nando!!! Não me diga que ele voltou pra cá!!! Você lembra muito bem o que ele fez com aquelas moças e....

— Calma, mãe. Ele não voltou. O negócio é o seguinte, vão fazer um programa sobre os assassinatos que ele cometeu.

— Credo em cruz. Mas não entendi o que tudo isso tem a ver com você.

— Eu vou ensinar o ator a se comportar igual ao Chico. Vou trabalhar pra Globo, mãe!

— Nossa, é mesmo? Ai, Nando, um menino bonito assim como você vai acabar na novela das 8 um dia, eu sempre falei isso para as minhas amigas e.....

— Menos, mãe, menos!!! Não viaja. Eu só vou dar umas dicas para o ator, só isso.

— E daí? Tem muita gente famosa que começou assim também e....

Putz! Ninguém merece.... Mãe tem hora que viaja na batatinha.

Sábado.

Já passava das 3 horas da tarde quando recebi o telefonema do produtor. Ele e um grupo de atores já estavam na pousada.

Aqui vou eu. O que a gente não faz pra ganhar uns trocados, né?

Antes que eu conseguisse sair de casa minha mãe me abordou na cozinha....

— Você já vai?

— Sim, o produtor do programa me ligou.

— Ai, Nando, pega autógrafo de todo mundo pra mim, hein!

— Mãe, eu acho que a senhora nunca assistiu o Linha Direta, né? Não é novela!!!

— Nossa, é assim que você fala com a sua mãe?

— Desculpa, mãe. Eu estou um pouco nervoso, só isso.

Bem que eu já desconfiava, o endereço da pousada não me era estranho. Ela fica de frente para o Bar do Gordo. Porra, quanto tempo eu não vejo meu velho e gorduroso amigo Gordo.

Parei em frente ao bar e ele demorou pra me reconhecer, ficou me olhando meio desconfiado. Tomei a iniciativa.

— Beleja, Gordo?

— Porra, Nando, é você? Quanto tempo!

— Verdade, como vão as coisas?

— Ah, a mesma bosta de sempre!

Todos os fregueses do bar olharam para ele. Na verdade eram apenas 2 bêbados sentados no canto do bar, mas percebi uma certa insatisfação em seus olhares.

— Preciso ir, Gordo, a gente se fala.

O Gordo fez sinal de jóia e voltou a fazer o que sempre faz, nada.

Entrei na pousada, toquei a sineta e esperei um pouco. Logo em seguida o recepcionista apareceu.

— Em que posso ajudá-lo?

— Eu procuro o Sr. Tomaz.

— Ah, sim, o pessoal do plim-plim.

— Quem?

— Venha por aqui, eles estão lhe esperando. Você deve ser o Fernando, certo?

— Quem? Ah, sim, sou eu.

Putz! Preciso me acostumar com o meu nome. Ás vezes eu até esqueço.

O recepcionista me levou até as escadas e me ensinou o caminho até o quarto número onze, onde Tomaz e os atores estão hospedados.

Bati na porta duas vezes. Um homem alto, vestindo calça jeans e camiseta pólo azul-marinho apareceu pra me atender.

— Fernando? — disse ele.

— Onde? Ah, sim, muito prazer. Pode me chamar de Nando.

— Eu sou o Tomaz, nós conversamos pelo telefone. Entre, Nando, eu estava esperando por você.

Entrei e de repente vi um rapaz correndo pela sala. Seu rosto estava tão pálido quanto o da menina bruxa.

— Sai da frente! Sai da frente! — repetia o rapaz do rosto branco.

— Outra vez, Jonas? — perguntou Tomaz, com uma cara preocupada.

O rapaz desapareceu pelo corredor e de repente ouvi um barulho de porta batendo.

— O que ele tem? — perguntei.

— O coitado está passando mal desde o almoço. De meia em meia hora ele corre para o banheiro. Deve ter comido algo que não lhe fez bem.

Putz!!! Será que eles comeram o que eu estou pensando e ONDE eu estou pensando?

— Só por curiosidade, onde vocês almoçaram?

— Aqui no barzinho da frente.

— No Bar do Gordo?

— Sim.

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Fodeu!!! Coitado do cara, é bom ele pegar a coroa, porque vai passar um longo tempo sentado no trono.

— Ele é um dos atores?

— Era justamente isso que eu ia lhe dizer agora. Nando, era ele quem iria interpretar o Chico.

— Sacanagem, justamente o papel principal no bagulho.

— Exatamente. Olha só que situação complicada.

— E você já tem um substituto? Se eu conheço bem aquela cara branca que ele fez... o coitado vai ficar preso na privada uns 2 dias, no mínimo.

— Este é o problema, Nando. Eu não trouxe ator substituto e agora já está em cima da hora pra gente gravar o programa.

— Putz, e agora?

— Então, eu estava pensando .... você não quer atuar no lugar dele?

— Eu ?????? Santa Pixirica!!!!!!!