“Me Perdoa, Margareth”
CapÃtulo 9 - Lar, Doce Lar
E que viagem chata, puta que pariu! Pior que isso, só jogo de golf para cegos.
Se não fosse o meu pen drive eu teria me jogado para fora do carro, é sério. Parecia que estávamos andando em cÃrculos. Eu tenho quase certeza de que passamos pelo mesmo cruzamento umas três vezes. Pezão garantiu que não.
Margareth ligava de hora em hora para saber se ainda estávamos vivos. Fofa!
Numa dessas ligações ela me perguntou se eu catei a tia dela. Respondi que não, mas ela continuou insistindo, até que o Pezão se irritou e tomou o celular das minhas mãos.
— Ele não tá com moral pra isso não, Ma! — disse ele com o celular colado ao rosto, rindo alto e dirigindo com apenas a mão esquerda. Se com as duas mãos no volante ele já é um perigo, imagine com apenas uma! — Não viaja! O Nando não tá pegando nem sarampo.
Não consegui ouvir o que a Margareth disse em resposta, mas escorreram lágrimas dos olhos do Pezão, de tanto que ele ria. Cuzão.
— Tudo bem então — continuou ele. — , se o Nando catou a sua tia … — ele olhou para mim com ar de deboche. — … vou dirigindo até a sua casa apenas de calcinha e sutiã.
E agora, conto ou não conto? Não, agora não, se eu contar agora ele vai pensar que estou zoando, só para ele ter que pagar o mico.
Eles ficaram naquela … “Ah, desliga você. Não, desliga você.” por um tempo, até que eu peguei a porra do celular e desliguei por eles. Que fofo! Que nojo!
Pezão ficou olhando puto para mim, putinho.
— Tá com invejinha? — disse ele. — Cara, eu não tenho culpa se você tá sem sorte com a mulherada.
Eu abri a boca para contar que catei a gostosa da Henrietta, mas no último segundo decidi ficar calado. Deixa que a Margareth vai descobrir tudo e contar para ele, aà eu vou estar lá para exigir que ele cumpra com a palavra, vai dirigir até Minas Gerais de calcinha e sutiã. Ah, vai, nem que eu tenha que roubar uma calcinha furada da Dona Mirtes.
E a porra do tempo não passa!!!
Tentei me manter alerta o máximo que pude, mas acabei cochilando.
Só acordei duas horas depois com uns empurrões nada delicados do Pezão. Estávamos parados no estacionamento de um daqueles restaurantes de beira de estrada.
— Obrigado pelo companheirismo — disse Pezão, abrindo a boca de sono. — Tá com fome?
— Não muita.
Pezão jogou a chave do carro no meu colo.
— Agora é a sua vez — disse ele. — Vem comigo, eu te pago uma jarra inteira de café. Se você dormir de novo eu te mato.
— Pezão, se eu dormir, a estrada mata nós dois, não se preocupe.
Ele ficou me olhando, irritado. Mas não disse nada, saiu e foi caminhando em direção à entrada do restaurante, feito um zumbi. Ele tá só o caco. Se eu não assumir o volante voltaremos pra casa em lindos caixões de madeira. Cruzes, deu até calafrios.
IncrÃvel como estes restaurantes tem uma vida ativa 24 horas por dia, o lugar estava lotado. Mas tinha mais gente comprando óculos escuros do Paraguai do que comida, talvez seja para esconder as olheiras. Nunca vi tanta gente com cara de sono.
Bem acordados mesmo só os funcionários, que disposição às 3 da madruga!
Pedi um copo grande de café e um misto quente na chapa, Pezão pediu Coca-Cola e uma empada-monstro de palmito. Sentamos numa mesinha qualquer. Pezão não parava de me encarar.
— O que foi? — perguntei, aquilo estava me incomodando. — Eu sei que eu sou lindo.
— Você vai contar a porra do seu plano ou não?
— Ah, sim, o plano! Eu acabei de sonhar com isso, sabia?
— Meu, como você ronca!
— Eu nunca ouvi.
Eu achei graça, Pezão não, ficou me olhando com cara de pouquÃssimos amigos.
— Já falaram que você é chato pra cacete? — disse ele. — Desembucha, porra!
— Tá certo, o negócio é o seguinte: você vai ter que catar a biscate mais uma vez.
— O quê? Você comeu bosta? Nem a pau, Juvenal!
Pezão falou tão alto que chamou a atenção de outras mesas próximas. Fiz sinal para ele pegar leve.
— Diz pra ela que você quer uma trepada de despedida. Se ela é tão vadia quanto você diz, ela vai topar.
— Aà a gente dá um cacete nela, né?
— Não, porra! Você vai dar alguma coisa pra ela apagar.
Pezão arregalou os olhos e finalmente sorriu.
— Vamos matar a piranha? — disse ele empolgado. — Massa!
— Porra, Pezão, você é mais devagar que o cágado da minha tia Jandira. Quando eu disse “apagar” eu quis dizer dormir, seu animal!
— Ah, tá, mas pra quê?
— Quer que eu desenhe com canetinhas da Hello Kitty? Enquanto ela dorme você pega celular dela e deleta todas as fotos que você encontrar. Molezinha.
Pezão ficou me olhando com admiração.
— Até que não é um plano tão ruim assim — disse ele, e tomou o resto do refrigerante num gole único.
— É perfeito, não?
— Perfeito não é, e se ela mandou as fotos para mais alguém?
Verdade. Eu não tinha pensado nisso.
Ela também pode ter descarregado as fotos num computador, mas acho que não, quem é que faz isso hoje em dia, né? Bom, quer plano infalÃvel procure o MacGyver (vulgo Magaiver). O meu é esse e foda-se.
— Entra no WhatsApp dela e descobre — falei. — , dá pra saber se ela enviou para alguém. Eu acho meio difÃcil, pois as fotos ficaram muito bizarras, ela está com a cara toda borrada e você … — comecei a rir feito uma hiena que peidou e culpou o irmão caçula — … parece um defunto fresco.
Ele mostrou aquele dedo do meio para mim.
Pedi outro copo de café, quero chegar em casa vivo.
— O que você disse para a biscate, afinal de contas? — perguntei.
— Como assim?
— Quanto ela te chantageou, você simplesmente topou? Disse que vai dar o iPhone para ela e pronto?
— Na hora eu fiquei tão apavorado que não consegui pensar em outra resposta.
— E disse quando?
— Ela exigiu que fosse hoje. Tentei explicar para a piranha que eu estava bem longe, em outro estado, mas ela achou que fosse caô meu. Ela quer o meu celular hoje, ou manda todas as fotos para a Margareth. Piranha fodida dos infernos!
— Calma. Será que tá muito tarde para você ligar para ela?
— Sei lá, ela deve estar em algum motel tirando selfies com algum trouxa.
Dei risada, e tomei um longo gole de café.
— Pode rir — disse ele, envergonhado. — Eu reconheço que fui um trouxa. De todas as idiotices que eu já fiz, esta foi a maior de todas, com certeza.
Ah, não foi, mas não foi mesmo! E nós sabemos disso, né? Já contei da vez em que ele fritou um cocô e ofereceu para a irmã? Ela quaaaaaase comeu, pensando que era um kibe, mas o pirralho a salvou no último segundo. Meu, parecia MMA, voaram pernas e braços para todos os lados. A Maura sempre teve as mãos pesadas, ela bate feito homem, e vocês lembram que ela é quase isso mesmo. Mas pior do que os hematomas, Pezão ficou sem a mesada da mama por quase 2 meses, isso sim doeu nele.
Pezão pegou o celular.
— Vai ligar agora? — perguntei.
— Foda-se, vou ligar — respondeu ele, já discando. — Antes que eu desista.
Chamou por uns 20 segundos, ela atendeu.
— Te acordei? — disse Pezão num tom bem amistoso. Falso! — Eu estou voltando pra casa. E te avisei que estava viajando. Avisei sim, mas você não acreditou em mim. Sim, o nosso acordo está de pé. Mas … eu estava lembrando daquela noite no motel, foi bom demais. Será que podemos repetir a dose? O que você acha, hein? Meu, você é muito gostosa, eu preciso de mais uma noite como aquela, nunca ninguém me chupou daquele jeito. Ah, sei lá, daquele jeito que você fez, nunca vi nada igual. Você tem as manhas. Com a minha namorada não é a mesma coisa, ela é meio careta, tão sem graça! Eu sei, eu sei, você topa? O iPhone? Eu compro outro, sou rico. Fiquei puto sim, mas já passou. Foi uma ótima desculpa para voltar para casa. E aÃ, vamos curtir mais uma noite como aquela? Vamos? Legal, show de bola! Como é que é? Você tá de folga hoje? Porra, melhor ainda! Certo, mas onde eu te pego então? Ahã, certo, eu sei onde fica. Pode repetir o número? Meia nove? Hummmm, gostei do número. É, né? Safada! Eu te ligo quando estiver chegando então. Legal, gata, até mais tarde. Tchau!
Pezão desligou o celular, abriu um sorriso sacana e fez sinal de positivo.
— Caralho, foi bem mais fácil do que eu imaginava — disse ele. — Nossa, eu devo ter mandado muito bem naquele motel, ela me disse cada coisa. Mas eu não consigo me lembrar de porra nenhuma, nada, branco total.
— Você passou mel no bilau? — falei, uma velhinha que passava olhou torto para mim.
— Parece que passei — respondeu ele, guardando o celular no bolso. — , bastou eu começar a namorar sério, a mulherada tá arreganhando geral para mim. Você sabe, antes da Margareth eu não estava com essa bola toda.
Não mesmo.
Mas essa teoria é comprovada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts: sempre que estamos apaixonados, as tentações simplesmente despencam do céu e brotam da terra, é batata! Aposto que vocês, nobres leitores, já passaram ou passam por isso.
Voltamos para o carro.
Pezão se encolheu todo lá no banco de trás, de ladinho, como um mendigo na calçada. Deu um peido longo (que mais parecia uma corneta desafinada) e simplesmente desmaiou.
Somente quando o cheiro de palmito estragado evaporou totalmente eu me sentei diante do volante. Respirei fundo, fiz o sinal da cruz, sacudi os braços, estalei os dedos e liguei o carro.
Para competir de igual para igual com o barulho dos roncos (e peidos) do Pezão, coloquei o pen drive para tocar uma seleção das melhores do Iron Maiden.
Wasted Years tocando, aà sim.
Engatei a ré e deixamos o restaurante. Só para constar, não queimei os pneus.
Saudade da Bel. Se ela tivesse vindo, essa porra de viagem não seria esse inferno de monotonia do caralho. Acho que o café me despertou de verdade, mas também me deixou irritado, sei lá. Não costumo tomar café, principalmente nesta quantidade absurda que eu acabei de tomar. Espero que não me faça mal.
Quem já dirigiu de madrugada, com o banco do carona vazio, sabe como é chato pra caralho. Puta que pariu, e com alguém roncando e peidando no banco traseiro, pior ainda.
Apesar do café ter me deixado ligadão na primeira hora, o efeito foi passando aos poucos. Eu queria poder dizer que não pesquei, mas não posso, acho que pesquei pra cacete. Teve um momento em que eu quase enfiei o carro num barranco, mas o meu anjo da guarda estava fazendo hora extra, eu acho.
Pessoal, papo sério agora, jamais dirijam cansados, é foda.
Não dá para confiar no anjo da guarda sempre. Vai saber o que ele está fazendo, né? Os pobres coitados devem cochilar e tirar férias também, né? Não podemos arriscar.
Entre uma pescada e outra eu fui levando.
Quando Pezão acordou já estava claro lá fora, a linha do horizonte exibia um degradê alaranjado e o sol estava louco para dar as caras. Nunca vi uma imagem tão linda, quero dizer, tirando os seios da Henrietta. Meu, que seios eram aqueles? Bruxaria?
— Estamos vivos? — perguntou Pezão, tirando remela dos olhos.
— Opa! Só por Deus, mas estamos.
Não sei como, mas Pezão conseguiu pular para o banco do carona. O carro é lindão e o caralho, mas é bem apertado.
— A Margareth ligou? — perguntou ele, após um bocejo que parecia não ter fim.
— Não. Acho que não. Pelo menos não ouvi o seu celular tocar, e o meu também não tocou. A coitada deve ter dormido em cima do celular.
Ele balançou a cabeça, estava quase dormindo outra vez.
— Não me deixe aqui falando sozinho, porra! — reclamei, cutucando o braço dele.
— Viu como é ruim pra caralho dirigir com alguém roncando?
— E você peidou pra cacete também.
— Só eu? Você não peida, né? Acha que seu cu veio de enfeite? Vai se foder, você peidou pra caralho também! E você tem um gato morto aà dentro, puta que pariu.
Nossa, que discussão intelectual!
O mais importante é que estamos quase chegando.
— Preciso de um banho, urgente — falei.
— Com certeza. Eu até pensei que estávamos no seu Opala nojento.
Eu ia discutir novamente, mas achei melhor ficar calado, curtindo o visual, o sol subindo pelas montanhas e o céu mudando de cor. Pezão também não disse mais nada pelo resto da viagem, parecia tenso, preocupado.
Enfim, chegamos, e vivos! Lar, doce lar.
Parei o carro no meio-fio e falei para o Pezão, num tom apaziguador:
— Cara, fica tranquilo, vai dar tudo certo.
— Você vai me ajudar, né?
— A minha parte eu já fiz.
— E se algo der errado?
— Só depende de você.
Ele ficou me olhando com olhos desesperados. Quaaaaase senti pena, só que não.
Ah, foda-se! Estou com sono, cansado e vazando cecê por todos os poros do corpo. Não estou em condições fÃsicas nem mentais de fazer mais nada por ninguém. Fechei para balanço, por hoje chega.
— Posso, pelo menos, ficar na tua casa? — disse ele. — Está muito cedo, minha mãe ainda não foi para o escritório, e não estou com saco para ouvir sermão, não agora.
Para ser bem sincero eu queria ficar sozinho, mas não tive coragem de dizer não.
Entramos.
Pezão ficou na sala, deitado no sofá.
Eu corri para o banheiro. Tomei um banho de 35 minutos. Que delÃcia, saà do chuveiro outra pessoa. Mesmo assim era uma pessoa necessitada de umas boas horas de sono.
Quando passei pela sala, rumo ao meu quarto, Pezão estava conversando com a Margareth pelo celular.
— … assim que eu resolver tudo o que tenho para resolver eu pego a estrada outra vez. — dizia ele. — Sim, fica tranquila, vou descansar e dormir um pouco. Eu sei, pode deixar! Tá bom, se cuida! Ah, boa sorte na entrevista de emprego. OK. Eu também te amo. Tchau.
Te amo? Hora de erguer a plaquinha “Eu Já Sabia”.
Ele desligou o celular e desviou o olhar, meio sem graça.
— Tá com vergonha do quê? — perguntei. — Cara, dizer “eu te amo” não é crime federal ou admitir que tem herpes genital, todo mundo já amou alguém pelo menos 1 vez na vida. Relaxa! É até legal da sua parte, demonstra que você tem coração, apesar de tudo.
— Mas eu só falo isso para deixá-la feliz.
— Isso é amar, seu animal! Amar é querer a felicidade do outro.
— Sério? Não pode ser tão simples assim.
— Mas é — falei, rindo. — Pezão, eu vou dormir. Sinta-se em casa (só que não, o cara mora numa mansão, o banheiro da mãe dele é maior do que a minha casa, incluindo o terreno). Se quiser comer alguma coisa, fique à vontade para sair e comprar, não tem porra nenhuma na geladeira. Beleja?
Pezão fez sinal de joinha, depois mudou para aquele dedo do meio.
— Tem certeza que foi uma boa ideia sair da casa dos seus pais?
— Foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. Um dia você vai entender.
— Mas a minha casa vai ser bem maior que esta — ele olhou ao seu redor.
— Com certeza, principalmente se for patrocinada pela mamãe.
Ele fechou a cara. Aproveitei a deixa para vazar para o meu quarto.
Entrei, fechei a porta, passei o trinco e me joguei na cama. Nossa, bom demais!
Mas tudo que é bom dura pouco.
Não se passaram nem 30 segundos e Pezão bateu várias vezes na porta, tipo Sheldon na porta da Penny, em “The Big Bang Theory”. Nando. Nando. Nando. Nando.
— Como eu vou fazer para a piranha apagar? — gritou ele.
— Nos filmes tem sempre um pozinho que eles colocam nas bebidas.
— Mas onde eu compro isso?
— Sei lá, porra! Use o seu celular com Internet e pergunte ao Google!
— O plano é seu, caralho, me ajuda!
— O plano é meu, a execução é sua!
Consegui ouvir ele bufando de ódio lá fora. Porra, só falta ele querer que eu coma a piranha no lugar dele. Se bem que … eu toparia, tô precisando molhar o biscoito, urgente.
Engraçado, agora que eu posso dormir, o maldito sono parece ter me abandonado. Já mudei de posição uma dúzia de vezes, até carneirinhos eu já contei, mas nada. Merda!
Saà para tomar um copo de água. Dei de cara com o Pezão, fazendo caretas para o celular. Tapado como ele é, aposto que não conseguiu nem abrir o navegador.
— Ah, você! — disse ele, feliz em me ver. — Tô apanhando aqui (novidade!). Procurei todo tipo de pozinho no Google. Nada faz o que eu preciso. Pozinho de Pirlimpimpim não serve, né?
— Acho que não — e olhei sério para ele. — Já ouviu falar em Boa noite Cinderela?
— Filme para crianças?
— Drogas, Pezão.
— Drogas? Aà fodeu, a única droga que eu tenho em casa é a imprestável da minha irmã.
— Não consegue imaginar quem possa ter?
— O camaradinha.
— Exato. O maluco deve ter.
Peguei o celular do Pezão e pesquisei “Boa noite Cinderela”. Maldita internet, foi mais fácil do que eu imaginava. É por isso que este mundo está perdido. Se você quer fazer algo de errado e não sabe para quem perguntar, a internet responde, e com detalhes.
Anotei os nomes das substâncias, peguei as menos prejudiciais à saúde que eu encontrei. Não queremos matar a garota, né?
Liguei para o Pigmeu. Tocou, tocou, tocou, e ele finalmente atendeu.
— Zorba, é agora ou a porra da maionese vai explodir, camaradinha! — disse ele, com aquela voz arrastada de sempre. Já está mais louco que o Batman.
— Sou eu, porra! O Nando, seu camaradinha.
— Nando, que Nando?
— Eu, porra! Ubatuba. Altas aventuras. Pá.
— Ah, tá, mas eu liguei para o Zorba.
— Fui eu que te liguei, Pigmeu!
— Você ligou para o Zorba?
— Não, caralho, eu liguei para você! Eu preciso de umas paradas sinistras.
— Sério? Eu também, chama o Zorba pra mim.
— Pigmeu, você tá de zoação com a minha cara?
— Não, camaradinha, é sério, eu acabei de levar um papo cabeça com um pote de maionese Hellmann’s. Bem que eu sempre suspeitei desse nome: HELLmann’s. Hell significa inferno em latim, certo? MAN é homem, certo? Então essa maionese deve ter algo a ver com o homem do inferno, o diabo, pode crer, é sinistro pra chuchu. Mas o que eu quero saber é se você pode chamar o Zorba para mim, é meio que urgente.
— Porra, Pigmeu, assim fica difÃcil. Afinal de contas, quem é esse tal de Zorba? É algum traficante?
— O Zorba é foda, é o único cara que eu conheço que solta pum pelo pau. Chama ele aà pra mim, é meio que urgente. PeraÃ, acho que eu já falei isso. Ou não.
A minha vontade era jogar o celular na parede, mas aà me lembrei que era o iPhone do Pezão. Melhor não, né?
— Do que vocês estão falando, porra? — disse Pezão, impaciente. — Quem é Zorba?
Fiz sinal para ele se calar. Vou direto ao assunto:
— Pigmeu, onde eu consigo uns bagulhos para fazer um Boa noite Cinderela?
— Boa noite Cinderela? Essa parada é sinistra demais, camaradinha.
Disso ele entende, né? Eu devia ter começado a conversa por aÃ, teria economizado uns 100 reais do plano do Pezão. Mas … é a mamãe dele que paga mesmo, então foda-se.
— Mas eu quero algo bem leve, você tem?
— É sequestro? O Zorba tá no esquema com você?
— Não é sequestro, nada a ver. Pigmeu, você pode me ajudar ou não? Sabe me dizer onde consigo os bagulhos para eu fazer o coquetel?
— O que você vai fazer com a Cinderela? Vai meter o dedo no cu dela, é? Eu já fiz isso uma vez. A mina apagou nos meus braços. Eu fui segurar a mina para não deixar ela cair e acabei enterrando o dedo no cu dela, eu não sabia que ela estava sem calcinha, juro que não sabia. Ela virou a minha boneca e eu o ventrÃculo.
— VentrÃloquo.
— Tem certeza? Melhor perguntar para o Zorba. Chama ele pra mim, é meio que urgente. Seu número é o mesmo que o dele? Por que eu liguei para ele e você atendeu?
— Pigmeu, porra, você tem os bagulhos ou não?
— Vai enfiar o dedo no cu dela ou roubar um rim?
— Nem. O Pezão precisa apagar algumas fotos do celular dela, só isso.
Ouvi Pigmeu gargalhar do outro lado da linha. Não entendi a piada. Eu falei algo engraçado?
— Camaradinha, celular não tem foto — disse ele, rindo alto. — , essa maquininha se chama câmara.
— Câmera! Não é câmara. E em que planeta você vive, porra? Hoje dá pra fazer até sexo virtual.
Não que eu já tenha feito, mas… OK, eu já fiz. A minha ex-namorada morava no Rio de Janeiro, né? Quem já namorou ou ainda namora à distância sabe como é foda.
— Se é assim, bate uma foto do Zorba, quero ver.
— Vou perguntar mais uma vez: você tem os bagulhos ou não?
— Tenho. PeraÃ, acho que tenho. Não, não tenho. O Zorba tem. PeraÃ, acho que tem. Não, ele também não vai ter. Pergunta aà pra ele.
— Valeu.
Que puta perda de tempo, né? Na próxima vez em que eu pensar em ligar para o Pigmeu, por favor estourem os meus miolos antes, combinado?
E quando eu ia desligar, ele me diz isso:
— Se é para a Cinderela apagar por alguns minutos eu tenho uma receita sinistra pra chuchu, funciona, eu dei isso para a minha namorada no nosso primeiro encontro.
Porra, até o Pigmeu tá namorando. Vou ficar para titio mesmo.
— Você tá de zoação ou tá falando sério? — perguntei.
— Palavra de escoteiro, camaradinha. Já te contei as minhas histórias de quando eu fui escoteiro?
— Já, Pigmeu, já me contou todas.
É lógico que não, eu nem sabia que o puto do Pigmeu já foi escoteiro, mas eu tinha que cortar essa conversa logo, né?
— O Zorba adora as minhas histórias — disse ele. — Chama ele aà pra mim.
— Já sei, é meio que urgente. Vai me ensinar como apagar a Cinderela ou não?
— A minha Cinderela dormiu por 2 horas. Enfiei o dedo no cu dela também, mas no dela não foi sem querer, eu queria mesmo. Eu me amarrei nessas paradas de brincar de ventrÃculo. Você tem Fanta roxa?
— Fanta uva? Não tenho. Faz parte da receita?
— Não, só fiquei com vontade de beber. É tão bom, né?
Ninguém merece. Acho melhor desligar, essa conversa não vai dar em nada.
— Anota aÃ, camaradinha — disse ele. — Compra o vinho mais barato do supermercado, o mais barato mesmo, enche até a metade de um copo americano, joga uma pitadinha bem pequena de sal e pinga exatamente 13 gotas de Dorflex. Não brinca com esse final, tem que ser exatamente 13 gotas, nem mais, nem menos, tem que ser 13 gotas certinho, copiou? Pronto, sua Cinderela vai apagar por umas 2 horas, aà você enfia o dedão no cu dela e brinca de ventrÃculo.
Tive um ataque de risos que não parava mais, eu parecia uma hiena no show do Ary Toledo.
— É zoeira, né? — perguntei.
— Escoteiros não mentem nunca, jamais.
Será que dá para confiar? Dizem que todo maluco tem seu minuto de gênio. Vai que o Pigmeu resolveu gastar o seu minuto comigo, né?
— Valeu, camaradinha, a gente se tromba por aÃ. — me despedi.
— Com certeza. E chama o Zorba pra mim ...
É meio que urgente.
Desliguei. Chega! Minha orelha estava quase pegando fogo, puta merda.
— Queimou todos os meus créditos — disse Pezão, pegando o iPhone de volta. — Mas serviu para alguma coisa? Ele tem ou não tem os bagulhos?
— Ele me passou uma receita. Ele jurou que funciona. Palavra de escoteiro.
— Escoteiro, o Pigmeu? — Pezão riu alto, parecia uma hiena saltando de bungee jump.
— Não custa arriscar. Tem outra ideia melhor? Vai que cola!
— Você não está falando sério.
— Todos os remédios para montar o coquetel dependem de receita médica. Quem teria a coragem de receitar estas porcarias para nós dois? Então o que temos é a receita do Pigmeu. Ou é isso ou você parte para o método tradicional mesmo, enfia cachaça na lambisgoia até o cu dela começar a piscar.
— A cachaça não é uma má ideia.
Merda, eu sei que a curiosidade matou o gato, mas eu não aguentei, pedi o carro do Pezão emprestado e fui até o supermercado comprar o vinho mais vagaba que tinha. Sal eu já tenho em casa, é claro, pelo menos isso. O Dorflex eu tenho também, mas em comprimidos. O camaradinha insistiu nas 13 gotas, né? Passei na farmácia mais próxima e comprei um vidrinho. Se vou arriscar, melhor arriscar do jeito certo.
Voltei para casa e Pezão estava no celular outra vez com a Margareth. Esta melação de cueca não combina com o Pezão. Não, não é ciúme, é apenas uma observação. Enfiem os respectivos dedos nos seus cus e assoviem o hino do Japão com o capacete do Jaspion.
— Você é doido — disse Pezão ao me ver passar com as sacolinhas do supermercado e da farmácia. — Trouxe pão? Estou com fome. Não tem nem água filtrada nessa porra.
— Sal tem.
Ele ficou me olhando sem entender nada.
Fui direto para a cozinha. Pezão se despediu da namorada e veio atrás de mim.
Preparei tudo exatamente como o camaradinha falou. Na hora das 13 gotas de Dorflex a minha mão tremeu, mas contei 13 gotas. Não foram 12. Não foram 14. Pinguei exatamente 13 gotas.
Mas não tive coragem de beber. Fiquei encarando o copo sobre a mesa.
— Agora bebe, filho da puta! — disse Pezão, rindo. — Quero ver.
— Eu vou beber, calma.
— Tá esperando o quê então?
— É que vindo de quem veio, dá um pouco de medo, né?
— BEBE, PORRA!!!
Foda-se, peguei o copo, fechei os olhos e bebi tudo num gole só.
Puta merda, meu pau encolheu, encolheu até sumir.
Pegadinha do Mallandro, ráááááá! Tá louco? Nem brinca com isso.
Pezão ficou olhando para mim com cara de espanto. Acho que ele não acreditou que eu ia be...
Zzz!