As Aventuras de Nando & Pezão

“O Pai da Magareth”

Capítulo 13 – Uma Surpresa

Porra, tem alguma coisa cheirando mal. E juro que não peidei.

De repente o grandão encarou Jezebel ... ou Mirabel, sei lá.

— Não te conheço de algum lugar?

— Não — a voz era da Jezebel. Ufa, a biscatinha adormeceu.

Caí pra dentro. Jezebel ficou parada na porta, meio assustada.

— Você não vai me largar sozinho neste lugar, vai? — falei.

— Acho melhor esperar aqui fora. Este lugar me dá arrepios.

— Deixa de bobeira. Vem comigo, por favor.

Ela ficou indecisa, dava para ver nos olhos dela. Mas por fim ela acabou cedendo.

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— Que cara é esta? — perguntei baixinho para ela.

Ela fez sinal para que eu me aproximasse. Fiz o que ela me pediu.

— Tenho medo que se recordem de mim.

— Por quê?

— Bom, você já percebeu que não estou completamente ... curada.

— Fica fria. Não vou deixar que nada lhe aconteça.

E Jezebel me deu um beijo. Infelizmente na bochecha.

Se o hospício era macabro por fora, por dentro consegue ser pior. E frio. Parecia que havíamos entrado numa câmara frigorífica. Puta merda, como é frio!

— Por que faz tanto frio aqui? — perguntei.

— O diretor gosta que fique assim.

— Diretor?

— Sim, o Sr. Vandella, diretor do hospício.

— Ah, ta. E isso ajuda na recuperação dos malucos?

O grandalhão não respondeu, apenas deu de ombros.

Percorremos um corredor enorme até chegarmos numa sala com paredes altas. Uma gorda sentada atrás de um balcão velho me encarava com olhos curiosos. Aparentemente estamos na recepção. Se bem que eu nunca vi uma recepção tão longe da porta de entrada. Lugar esquisito da porra.

— Aguardem aqui — disse o enfermeiro gigante. — Vou preparar a papelada.

E o homem deixou a sala. A gorda continuava me encarando. Pensando melhor, acho que ela está encarando a Jezebel, não eu.

— A Silvia Popovic gostou de você.

Jezebel fez cara de quem não entendeu porra alguma.

— Silvia Popô o quê?

— A gorda ali.

— Você a conhece?

— Não.

— Então como sabe o nome dela?

Comecei a rir sozinho.

— Deixa pra lá. Foi uma piada.

— Nossa, não foi muito boa.

De repente a gorda nos pegou de surpresa, dizendo:

— Te conheço de algum lugar.

— Quem, eu? — perguntei. Mas eu sabia que ela estava falando da Jezebel.

— Não, a moça — disse a gorda.

Olhei para a coitada da Jezebel, ela estava suando frio.

— Não, senhora. Nunca te vi mais gorda.

Putz!!! Comecei a rir feito um maluco no hospício. A gorda ficou chocada. Jezebel não sabia onde enfiar a cara.

— Perdão, senhora! Não falei por querer, eu .. eu ...

Tocou o telefone na mesa da gorda. Ela atendeu, com uma cara emburrada que só vendo.

— Recepção: Carlete falando. O quê? Mas não é possível! Qual o número do quarto? Sim, entendi, já estou indo agora mesmo!

E a gorda colocou o telefone no gancho, com força. Parecia bem assustada. Ela sacudiu as banhas atrás do balcão e saiu ... correndo. Ou pelo menos tentou.

— Não saiam daqui! — disse ela, com uma voz trêmula — Eu volto já.

Balançamos as cabeças afirmativamente em sincronia.

— Nossa, o que será que houve? — perguntou Jezebel.

— Devem ter acabado as guloseimas da cozinha.

— Também foi uma piada?

— Deixa pra lá.

Porra, vai tomar no cu! Quando o Nando faz estas observações idiotas todo mundo ri, né?

— Eu tô com frio!

Ah, não! Puta merda! Eu conheço este tom de voz. A porra da pirralha voltou.

— Eu tô com frio!

— E eu com isso?

— Eu quero chocolate quente!

Porra, vou tentar me estressar o menos possível dessa vez.

— Espera um pouco, já estão fazendo — falei, bem calmo.

— Onde?

Apontei para a porta por onde passou a gorda.

Para a minha surpresa, Mirabel saiu em disparada, abriu a porta e me deixou sozinho.

— Não! — gritei. — Volta aqui, caralho!

Puta merda, viu? E agora, o que eu faço?

— Mirabel, volta aqui!

Nada. Nem sinal dela. Porra!

Bom, o jeito é ir atrás dessa pentelha maldita. Abri a porta e vi outro corredor, idêntico ao primeiro. Mas por incrível que pareça, ainda mais gelado. Juro para vocês, dei uma baforada e saiu até fumacinha.

— Mirabel, cadê você?

Minha voz ecoou pelo corredor. Puta que pariu, que frio! É melhor eu me mexer ou vou virar picolé aqui nessa porra.

Quanto mais eu ando, mais frio fica. E pior ... nem sinal da menina-mulher.

— Mirabel!!!

De repente ouvi uma gritaria danada. Para ajudar, a luz do corredor apagou. Legal, né? Muito obrigado! Agora estou num frio da porra e na escuridão total. Eu mereço.

Só me resta uma alternativa, seguir em frente. Só espero que este frio diminua em breve, pois não vim até aqui para me transformar num sorvete de Pezão.

— Tem alguém aí? — gritei.

A gritaria diminuiu um pouco, ou ficou mais distante, sei lá.

Será que estou próximo do final do corredor? Meu, não aguento mais este frio do caralho! Meu pau deve estar do tamanho de um amendoim, todo encolhido.

— Me ajuda! — uma voz feminina sussurrou no meu ouvido.

Vou ser bem sincero com vocês, eu quase me borrei todo.

— Mirabel, é você?

Silêncio. Porra, eu juro que ouvi alguém me pedir ajuda.

— Jezebel, é você? Está tudo bem, sou eu. Não precisa ter medo.

De repente as lâmpadas do corredor começaram a piscar. Aproveitei para me situar; estou um pouco além da metade. Agora vem a parte mais estranha ... o corredor está completamente vazio!

Mas como? Eu ouvi alguém sussurrar no meu ouvido. Eu juro!

Calma, cara, fica frio. Isso aqui é um hospício, certo? Hospícios são lugares onde há muitos loucos, certo? Talvez isso seja contagioso ... e quem fica muito tempo aqui deve ficar meio lelé da cuca também, certo? Ah, sei lá!

Não vou esperar a porra da luz apagar novamente, corri para o final do corredor o mais depressa que pude. Mas faltando alguns metros a porra da luz se foi novamente.

Fica frio, relaxa. Já está quase no fim. Você vai abrir a porra da porta e vai dar de cara com a Jezebel, nua, esperando você e ... Puta merda! Estou começando a delirar. Deve ser esta porra do frio.

— Eu quero sair daqui! — caralho, é a voz da Jezebel!

— Jezebel, onde você está?

— Maurício, é você?

— Sim, mas é estranho quando me chamam assim.

— Pezão! Graças a Deus é você!

Nunca ouvi esta frase antes.

— Você está bem, gata?

— Eu não sei, está tudo escuro aqui! — e ela começou a chorar.

— Fica calma, vai dar tudo certo.

— Eu não quero morrer!

— O quê? Ninguém vai morrer, fica fria.

— Está muito quente aqui, não sei quanto tempo vou aguentar.

— Muito quente?

— Sim, insuportável! Parece uma fornalha, meu Deus!

Porra, não é possível, ela deve estar completamente maluca. Está um frio do caralho, isso sim!

Acho que finalmente cheguei ao final do corredor. A maldita porta está trancada. Dei vários murros nela.

— Me tira daqui, por favor!

— As chaves não estão na porta?

— Não, eu já verifiquei!

— As chaves também não estão do lado de cá.

Ela começou a chorar novamente.

— Fica tranquila, nós vamos dar um jeito.

— De novo não, por favor, não! — gritou ela, desesperada.

— O que foi?

— Eles estão voltando!

— Eles quem?

— Eu não sei, está escuro demais, mas tem mais gente aqui. E fedem carniça!

— Será que não dão banho nos malucos?

— Por favor, me tira daqui! Eles estão vindo!

Chutei a porta com toda força. Mas parece ser inútil.

— Por que parou? 

— Estou congelando aqui. Meu corpo todo dói.

— Congelando? Não pode ser, está um calor infernal aqui!

— Acredite, estou quase virando picolé.

— Eles estão aqui — sussurrou Jezebel. — Não vou aguentar este cheiro por muito tempo, acho que vou desmaiar.

— Jezebel, não! Aguenta firme!

Silêncio.

Porra!!! Será que ela desmaiou?

— Jezebel, fala comigo! Está tudo bem aí?

— Eu não gosto de escuro!

Era só o que me faltava. Mirabel outra vez.

— Mirabel, fica calma.

— Está fedendo aqui, eu quero sair!

— Calma, eu vou tirar você daí.

— Eu quero a minha Rola!

Porra, isso é hora de pensar em rola? Ah, ta ... é a boneca. Viajei.

— A Rola está aqui comigo, não se preocupe.

— Me larga!

— O que está acontecendo aí?

— Tem alguém me puxando. Me larga!

— Quem?

— Está muito escuro, não consigo ver! Me solta!

Porra!!! Voltei a chutar a porta com força. Tentei vários golpes, mas não vi nenhum progresso. Aos poucos a voz de Mirabel foi ficando mais distante. Até que desapareceu de vez.

— Mirabel! Mirabel!

Nenhuma resposta. Mas ouvi passos arrastados do outro lado da porta. Será uma rebelião dos malucos? Que raios está acontecendo aqui?

— Eu vou chamar a polícia, ouviram? — falei, puto.

Tirei o celular do bolso, mas não havia sinal. Puta que pariu!!! Do que adianta ter celular se esta bosta nunca funciona quando a gente precisa?

Dei meia volta e saí em disparada pelo corredor. Nem me importei com a escuridão. Não há nada para que eu tropece mesmo, foda-se. Corri tanto que me esqueci da outra porta no final do corredor. A pancada foi forte. E doeu pra caralho!

Levantei-me meio grogue. Ao girar a maçaneta e puxar a porta, a surpresa ... estava trancada.

— Fodeu.