“O Pai da Magareth”
CapÃtulo 10 – O ParaÃso
— A senhora poderia me dizer onde está o seu marido, dona? — disse eu.
— Está lá na cozinha resolvendo um problema de goteira. Esta chuvarada toda sempre traz alguns probleminhas, não é?
— A senhora tem certeza absoluta que ele está lá?
— Sim, tenho, acabei de falar com ele enquanto preparava os biscoitos. Por quê?
Olhei para o meu quarto novamente. Margareth também. Depois olhamos um para o outro, assustados.
O gordo peçonhento está conversando com quem?Â
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Porra, ou o gordinho é o cara mais corajoso que eu já vi ou, além de gostar de velhas, é chegado em espÃritos também. Será que tem algum nome pra isso? Espiritófilo?
Respirei fundo e tomei a iniciativa de entrar no quarto. Margareth ficou parada, branca feito um jato de porra.
— Não quer ver? — perguntei pra ela.
— Eu não!
Foda-se, já estou lascado mesmo. Acendi o interruptor.
O moleque estava escondido debaixo das cobertas. Ele todo, não sobrou nem um pedacinho da cabeça gorda para fora. Sussurrava alguma coisa; eu podia escutar. Mas sussurando o quê? E pra quem, porra?
Dei dois tapas no que eu acredito ser as costas dele. Ao não obter nenhuma resposta, fiquei irritado e puxei o cobertor. Putz!!! Nunca me arrependi tanto na minha vida.
— Puta que pariu, Nando! — gritou o gordo, mais vermelho que a camisa do Internacional de Porto Alegre.
O gordo estava nu. A mão esquerda no pinto e a mão direita num celular. A bunda gorda e branca me fez lembrar do falecido Mamute. Disparei num ataque de risos. Fiz tanto estardalhaço que Margareth veio ver o que estava acontecendo.
— Cruzes! E eu morrendo de preocupação, Tim! — disse ela, virando o rosto para não ver a bunda branca do primo.
Ao ver a anã se aproximar da porta do quarto, joguei as cobertas novamente sobre o gordo punheteiro.
— Preocupada por quê? — resmungou o gordo, puto da vida. — Eu só estava batendo uma, e daÃ? Não é crime, é?
— Você gasta toda a sua mesada com Tele Sexo? — disse eu, após uma breve pausa nas gargalhadas.
— Que Tele Sexo? Meu celular nem tem crédito.
— Mas nós ouvimos você conversar com alguém — disse a prima.
O gordo peçonhento fez uma puta cara de tarado. Eu já tinha um certo medo do moleque. Agora fiquei mais assustado ainda. Este gordinho vai ser um Serial Killer algum dia. Anotem aÃ.
— Foi a mãe de um amigo que me ligou. Ela tem uma voz ... maravilhosa. De vez em quando ela me liga de madrugada e ...
Notei o gordinho virando os olhos e senti uns movimentos debaixo do cobertor.
— Porra, — esbravejei. — não acredito que você ainda está batendo uma enquanto conversamos!!!
— Você me interrompeu, né?
Puta merda. Ninguém merece.Â
De repente gritos. Era o Pezão ... outra vez. Corremos todos para a porta do banheiro. Margareth estava apavorada, batendo na porta com toda a força.
— Deixa eu entrar! — repetia ela.
De dentro do banheiro nós ouvÃamos o Pezão gritar:
— O que está fazendo aqui, porra? Para com isso! Me deixa em paz!
Margareth chorava, pobrezinha. E batia na porta com o que lhe sobrava de forças.
— Tem mais alguém lá dentro? — disse a anã, bem assustada.
E o anão apareceu.
— O que está acontecendo aqui? — disse ele. — Que gritaria é essa?
Puxei o anão para um canto e sussurrei no seu ouvido:
— Acho que o seu ex-cunhado está lá dentro — apontei para o banheiro. — com o meu amigo.
O anão engoliu seco e me olhou assustado.
— Não brinque comigo, rapaz! — disse ele.
E a porta do banheiro abriu-se. Agora quem engoliu seco fui eu. Confesso que fiquei todo arrepiado, dos pés aos pentelhos do saco.
Pezão saiu, enrolado na toalha, e chorava feito um menino que apanhou no colégio. Senti pena dele.
Margareth deu-lhe um beijo na testa e depois um abraço carinhoso. Nunca vi ninguém tratar o Pezão como ela o trata.
— O que houve? — disse a anã para o Pezão. — Você está bem, querido?
Pezão balançou a cabeça negativamente.
— Eu quero ir embora da porra desse lugar — disse Pezão, com a voz meio rouca.
A anã ficou meio sem graça. O anão ficou zangado.
— Olha como você fala com a minha esposa, moleque!
— Vão se foder todos vocês, seus duendes do caralho! Por que fizeram isso comigo? Nunca fiz mal para ninguém da sua espécie, porra!
— Do que você está falando? — disse o anão. — Nós não fizemos nada com você!
— Não? Não fizeram? Então o que é isso?
Pezão afastou Margareth, deixou cair a toalha e virou-se de costas para nós. O pinguelo de borracha estava enterrado até o talo no seu cu.
Puta que pariu! Vou confessar algo para vocês. Doeu só de olhar.Â
O anão deu um pulo espetacular e parou na frente da esposa, encobrindo sua visão.
— Você ficou maluco, rapaz? — disse o anão, puto da vida.
Margareth fez um favor para todos nós e recolocou a toalha na cintura do namorado.
Pezão voltou para o seu quarto, caminhando todo torto. Deu até uma ligeira vontade de rir, mas segurei. Seria muita sacanagem da minha parte, né?
Margareth foi atrás do Pezão. Ao passar por mim, falei baixinho para ela:
— Eu e o gordo vamos esperar vocês lá embaixo.
Ela me olhou espantada.
— Esperar? Como assim? Eu quero dormir.
— A gente espera lá embaixo.
— Não estou te entendendo.
Trinta minutos depois, Pezão e Margareth desceram as escadas. Ele com cara de poucos amigos; ela praticamente dormindo em pé.
— Vamos embora dessa porra — disse Pezão.
Olhei para Margareth e falei:
—Â Entendeu agora?
Ela bocejou e depois me mostrou aquele famoso dedo.
Pezão passou pela porta e nem olhou para trás. Não fui tão rude; agradeci os anões pela hospitalidade e prometi voltar algum dia. Lógico que fui apenas simpático. Não pretendo voltar aqui nunca mais. Já imaginou se resolvem enterrar aquele negócio no meu fiofó? Nem a pau, Juvenal! No meu não! No meu ... NÃO!
O gordinho passou por mim com uma sacola cheia de biscoitos e outras guloseimas. Maldito gordo peçonhento punheteiro gerontófilo morto de fome dos infernos.
A anã derramou algumas lágrimas ao nos ver partir. Pobrezinha, senti um aperto no coração ao ver aquela cena. Fez-me lembrar da minha infância, quando Ãamos visitar meus parentes em Minas Gerais e meus avós sempre choravam quando Ãamos embora.
— Vão ficar aà ou o quê? — gritou Pezão, após três longas buzinadas.
— Já estamos indo, porra! — respondi, delicadamente.
Cai uma garoa fina e gelada. Nem faço idéia de que horas sejam.
Entramos no carro e Pezão saiu fincando. Ao passarmos novamente pela porta do hotel, ele ainda estendeu a mão esquerda para fora da janela e mostrou aquele famoso dedo para a porta.
— Malditos Frodos do caralho! — esbravejou ele. — Nunca me esquecerei o que fizeram comigo, seus filhos da puta!
— Não entendi — disse o gordo, após engolir uma bolacha recheada. — Frodos? E o que fizeram com ele?
— Deixa pra lá, guri.
De repente o gordinho começou a bater na janela do carro, apavorado.
—Â Para! Para o carro! Precisamos voltar!
— Nando — disse o Pezão, sério. — , pede pra esse pentelho filho da mãe ficar quieto ou serei obrigado a jogá-lo na estrada.
Olhei para o gordo e disse:
— Ouviu, né?
— Mas nós temos que voltar, é urgente!
— Urgente o escambau! Estou vendo que você trouxe tudo o que precisava: bolacha doce, salgada, pão, bolo e o caralho. Estou sentindo até cheiro de torta de frango nessa porra de sacola!
— O meu iPod ficou lá no hotel!
— Já Elvis, Faustão — disse Pezão.
— Eu sabia! Você deu um fim no meu iPod, né?
—Â Os gnomos do caralho roubaram.
— O quê? — disse eu, surpreso.
— Foi isso mesmo que você ouviu. Aqueles malditos duendes roubaram o iPod do gordo. Eu vi com os meus próprios olhos.
— Ah, não viaja!
— Se não acreditam em mim, foda-se! Mas eu vi o iPod dele na cintura daquele filho da mãe.
— Eu não vi nenhum iPod com eles — disse o gordo, bem sério.
— Estava com o terceiro anão.
— Que terceiro? Só havia dois.
— Só eu vi o terceiro, dentro do banheiro. Malditos duendes do caralho!
— Duendes não existem, cara — disse eu. — Eles são anões. Pessoas como nós, porém pequenos.
— Você estava dentro do banheiro comigo?
— Claro que não, né?
— Então você não viu o que eu vi, certo?
— Certo, eu não vi.
— Eles eram uma famÃlia de duendes. O terceiro usava até aquelas roupinhas gays que eles usam.
É claro que eu tive um ataque de risos, né? Tipo uma hiena assistindo o filme Banzé no Oeste.
— Você fuma maconha, né? — disse o gordinho para o Pezão, bem sério.
— Se não acreditam ou não em mim, estou cagando e andando. Eu sei o que vi.
Bom, se o Pezão está dizendo a verdade, eu não sei. Mas uma coisa é certa ... aquele lugar era bem sinistro.
Pra completar a noite, Pezão me solta essa:
— Vocês não assistiram O Senhor dos Anéis ? Duendes existem, porra!
Eu e o gordo nos olhamos e começamos a rir, é claro.
E Margareth finalmente deu o ar da graça. Pensei até que tinha morrido.
— Dá pra vocês ficarem quietos? — resmungou ela, puta da vida — Tem alguém tentando dormir, cacete!
Peguei um biscoito recheado da sacola, comi e caà no mais profundo sono. Não me lembro de ter dormido tão rápido assim em toda a minha vida.
Tive sonhos e pesadelos, dos mais incrÃveis aos mais toscos possÃveis e imagináveis. Dos sonhos eu destaco um com a Caroline, minha querida e esverdeada Caroline. Poxa, que saudade eu sinto daquela garota ... ai ai.
Entre os pesadelos, o pior de todos foi sem dúvida aquele com o Pigmeu. Estávamos eu e ele na época dos dinossauros. De repente o maluco resolve dar um daqueles seus famosos tapas num T-Rex. Aquele mesmo, dos bracinhos curtos e dentes enormes e afiados. Dos bracinhos eu lembro pouco, mas dos dentes ... puta que pariu! Por incrÃvel que pareça, sinto saudade do Pigmeu também. Só não vou suspirar. Aà já seria demais, né?
Por mais estranho que pareça, acordei com o som de pássaros. O carro estava parado debaixo de uma árvore gigantesca, vocês nem imaginam o tamanho dos troncos; era algo descomunal.
O interior do veÃculo estava cheirando cecê e frango. Quase vomitei sobre o gordo. Faltou pouco. O peçonhento roncava feito um velho com asma. Nem acredito que eu tenha dormido tão bem com um ronco alto daqueles.
Olhei para os bancos da frente; estavam vazios. Nem sinal de Pezão e Margareth. Olhei para o lado de fora e nem sinal deles também.
Desci do carro. O lugar era bonito demais para ser verdade. Cocei os olhos para ver se eu estava realmente acordado ou tendo alucinações. É, estou acordado mesmo.
Estamos num bosque, sei lá. Parece cenário de filme, nunca estive num lugar tão sossegado e bonito como este. Senti uma vontade enorme de sentar na grama fofa à minha frente. Estava tão verde que parecia ter sido pintada por computador.
Bom, tudo muito verde. Tudo muito tranqüilo. Tudo muito bonito. Mas cadê o Sr. e Sra. Smith?
— Pezão! — gritei. — Margareth! Onde vocês estão?
O gordo acordou e saiu do carro.
— Que lugar é este? — disse ele, limpando remela dos olhos.
— Ué, você não lembra do acidente?
—Â Acidente?
— Sim, acidente. Nós todos morremos e viemos parar aqui. Estamos no paraÃso.
— Ah, você está zoando comigo.
— É sério!
— Cadê a minha prima?
— Ela foi a única que sobreviveu.
—Â E o teu amigo?
— Ele foi mandado para o outro lado — e apontei para baixo.
O gordo sorriu.
— Para o inferno. Gostei da idéia.
Comecei a rir.
— Ele não é tão ruim assim, gordo.
— Não fui com a cara dele desde o começo.
— Com o tempo você se acostuma.
— A Ma não é de namorar por muito tempo. Logo ela enjoa e dá um pé nele.
— Então foram feitos um para o outro. Ele também não consegue ficar com alguém por muito tempo.
De repente ouvimos risadas. Ambos olhamos na mesma direção.
— É a minha prima.
— Foi o que eu pensei também.
Seguimos o som das risadas. Havia uma trilha pelo mato.
— Será que estão ... fornicando? — disse o gordo.
— Fornicando? Porra, gordo, de que século você é?
— Gosto dessa palavra. É ...
—Â Acachapante!
O gordo me olhou surpreso, e disse:
—Â Como adivinhou?
—Â Eu leio mentes.
— Sério? No que eu estou pensando agora?
— Fácil. Torta de chocolate.
— Puxa, você é bom mesmo.
O som das risadas ficavam cada vez mais altos. Pezão e Margareth pareciam estar se divertindo à beça. Tem um barulho bem familiar ao fundo, tipo uma cachoeira.
Não deu outra. Acertei na mosca. Eles estavam nadando num rio.
— Que acachapante, meu! — disse o gordo, correndo para pular na água.
— Sai pra lá, gordo! — resmungou Pezão.
— Por acaso você é o dono? — retrucou o gordo.
E ele caiu dentro do rio. Suas banhas jogaram água pra todos os lados, inclusive em mim.
— Porra, gorducho! — esbravejei.
— Que delÃcia! — disse o gordo, todo sorridente. — Vem você também, Nando!
Olhei para o lado e finalmente entendi o motivo do Pezão ter ficado puto com o gordo. Todas as suas roupas estão jogadas sobre um gramado ao lado do rio. O casal está totalmente nu.
Dei uma olhada sacana para eles e outra para as roupas. Eles perceberam imediatamente o que eu tinha em mente.
— Nem pense nisso, Nando! — disse Margareth, rindo.
Apertei os passos em direção às roupas e Pezão começou a nadar na mesma direção.
— Você nunca foi bom nadador, cara — falei, agora correndo.
E é claro que eu alcancei as roupas antes dele. Putz! A calcinha da Margareth é tão minúscula que mais parece de boneca. Se é que boneca usa calcinha, né? Nunca espiei pra ver. Bom, já espiei uma vez, mas ... deixa pra lá. Um dia eu conto a história toda.
— Sacanagem, Nando! — disse Margareth, rindo.
Peguei todas as peças de roupas deles e deixei mais distante. Vai ser divertido quando eles precisarem delas. E é claro que vai ser excitante ver a Margareth saindo peladinha e molhadinha do rio, né?
Nunca fui de ficar olhando namorada de amigo meu, mas como o gordinho já disse que o namoro dos dois não vai durar mesmo, não custa dar uma espiadinha nela antes de dispensar o Pezão. Ou ele dispensá-la, tanto faz.
— Você é um cuzão, sabia? — disse Pezão para mim.
— Cuzão, eu? Tem certeza que sou eu mesmo? O seu não deve ser muito pequeno, pelo tamanho do pinguelo que ...
Margareth começou a rir. Pezão ficou puto com ela.
— Isso, vamos todos rir do que me aconteceu! Vamos, você também, gordo do caralho!
— Deixa o coitadinho fora disso, seu estúpido! — retrucou Margareth.
Xiiiiiiiiiii, acho que fiz merda. Maldita hora pra fazer piada com o cu do cara.
— Calma, Pezão — disse eu. — Retiro o que disse.
— Depois de falar é fácil, né? Vai se foder!
— Ele pediu desculpas, oh! — disse Margareth, jogando água no Pezão.
—Â Isso, defende ele!
E Pezão começou a nadar para a beira do rio.
— Aonde você vai? — disse Margareth, chateada. — Volta aqui, MaurÃcio!
Pezão nem olhou para trás. Deixou o rio e saiu nu pelo gramado, pisando duro. O cara ficou puto mesmo.
— Aoooooooooooooo, bunda branca! — gritou o gordo.
— Pelo menos não é mole e gorda como a tua, Faustão!
O gordinho nem deu bola para a resposta. Mergulhou e saiu jogando água pra todos os lados.
— Volta aqui, more! — gritou Margareth, sorrindo para o namorado. — Por mim, vai! Prometo fazer aquilo que você me pediu, lembra?
Opa! Agora fiquei curioso. Pezão até deu uma olhada pra água novamente. Mas continuou caminhando em direção às suas roupas.
— Deixa quieto — gritou ele.
— Ah, você é um chato, sabia? — e Margareth mergulhou. Deu pra ver um pedaço da sua bunda.
Pezão percebeu que eu olhava pra ela.
— Você está a fim de levar um murro na cara, né? Agora entendi sua brincadeirinha idiota; era só pra ela sair pelada do lago e você ter uma imagem pra tocar punheta depois, né?
Fiz cara de surpreso.
— Lago? Isso aqui é um lago ou um rio? — fiz de propósito, só para irritá-lo.
— Não disfarça, Nando! Acha que eu sou cego, porra?
— Eu reconheço, ela é muito gostosa. E à s vezes é difÃcil desviar o olhar.
— Mas vai ter que desviar, caralho! Ela é minha!
— Mas não se faça de santo, Pezão. Você lembra muito bem de Ubatuba. Ou vai ter a cara-de-pau de dizer que já esqueceu, hein?
O rosto dele mudou totalmente. Digamos que ele baixou a bola.
— Vem pra água, Nando! — gritou Margareth. — Se ele não quer se divertir, azar o dele! A água está uma delÃcia! Vem!
Olhei para o Pezão. Ele estava com aquela cara de poucos amigos.
— Volta pra água, cara — disse eu, com sinceridade. — Ela é legal e gosta de você. Não decepciona a menina.
— Não. Se eu fizer isso, perco o controle sobre o relacionamento.
Quase ri. Mas ao vê-lo sério, perdi o clima.
— Relacionamento? Nunca ouvi você dizer esta palavra antes.
— Pois é.
— Vem pra água, Nando! — disse Margareth, outra vez.
— Já vou! — respondi.
E comecei a tirar a jaqueta, finalmente. Estava um calor dos infernos, eu não suportava mais aquele maldito moletom. Se Pezão não vai entrar na água, eu vou.
— Só uma coisinha — disse Pezão, olhando sério para mim. — , você terá que escolher entre a minha amizade e o lago.
— O quê?
— Você me ouviu. Se você entrar na água com ela eu termino nossa amizade aqui, neste exato momento.
Nunca vi o cara me olhar daquele jeito. Tirei o moletom e joguei na grama. Pezão ficou me encarando.
— O que foi? — falei, rindo.
— Você vai mesmo entrar na água?
—Â Vou, claro.
— Beleza então — ele saiu bufando, parecia um touro raivoso.
— Aonde ele pensa que vai? — gritou Margareth.
— Sei lá, o namorado é teu.
E mergulhei no rio. Ou lago, sei lá. O importante é que tem bastante água.