“O Pai da Magareth”
CapÃtulo 9 – O Quinto Elemento
A noite seguiu tranqüila e calma. Os cobertores quentinhos e aconchegantes. Lá fora um barulhinho de chuva. Tudo propÃcio para uma maravilhosa noite de sono.
Bom, estava propÃcio, até que um grito apavorante ecoou por todo o hotel. E até que se prove o contrário, o grito foi dado pelo Pezão.
----------------------------------------Â
— Você também ouviu? — perguntei para o gordo.
— Meu estômago roncar?
— Que porra de estômago? O grito!
— Ah, ouvi sim. Não esquenta com isso não.
— Aconteceu alguma coisa. O Pezão pode estar precisando da nossa ajuda.
— Aposto que não.
— Como assim? Como você sabe?
— Conheço a minha prima, Nando. Vai por mim.
— Do que você está falando, porra?
— Os ex-namorados dela viviam machucados. Uma vez eu fiz uma pequena investigação e descobri que a Ma é sádica. Ela curte um sexo selvagem, saca? O negócio dela é fazer o outro sofrer.
Comecei a rir.
— Ah, fala sério! Você está zoando comigo.
O gordo não riu.
— É sério. E ela pega pesado, viu? Mas é claro que ela não sai por aà contando pra todo mundo. Aposto que ela também se masturba assistindo Faces da Morte.
— Acho que é mal de famÃlia então, né? Só tem biruta.
— O quê?
— Deixa pra lá.
Quando eu me preparava para dormir ... Outro grito. De novo o Pezão. Dessa vez eu desci da cama.
— Aonde você vai? — disse o gordo.
— Tem alguma coisa estranha. Vou ver o que é.
— Você que sabe. Depois não diz que eu não avisei.
Fiz sinal de positivo e deixei o quarto.
O corredor estava uma escuridão só. Procurei o maldito interruptor.
— Pezão! — disse eu, tentando dosar a altura da voz.
Nada de resposta. Nada de interruptor também. Onde é que está esta porra? O jeito foi ir tateando a parede.
Até onde eu me lembro, o quarto deles não está tão longe do nosso. Questão de alguns metros só. Acho que eu consigo chegar até lá.
— Pezão, está tudo bem aÃ? — repeti.
De repente porta deles se abre e a luz do quarto ilumina um pouco o corredor. Alguém sai do quarto rindo feito uma hiena perdida na Disneylândia.
— Margareth? — disse eu, curioso.
Ela continuou rindo, toda enrolada num lençol. Havia um certo erotismo naquela cena.
— O que você está fazendo aÃ? — disse ela, agora com o rosto um pouco mais sério.
—Â Ouvi gritos. Aconteceu alguma coisa?
Margareth olhou para dentro do quarto.
— Aconteceu alguma coisa? — disse ela, num tom irônico.
— Não! — gritou Pezão. Conheço aquele tom de voz. Ele está super mega puto. Resta saber o motivo.
— Que gritos foram aqueles, porra? — disse eu.
Margareth começou a rir novamente.
— Quer parar de rir, caralho??? — gritou Pezão. Meu, o cara está muito puto. Aconteceu alguma coisa muito séria.
Dei três passos em direção ao quarto e fiquei de frente para a porta. Pezão estava debaixo de um cobertor. Seu rosto estava pálido e ele suava muito.
— Você está péssimo, cara — disse eu.
— Que porra você está fazendo aqui, Nando? Vai dormir, caralho!
— Só volto quando eu souber o que está acontecendo aqui.
Margareth esboçou uma risada. Mas quando viu o olhar feroz de Pezão, controlou-se.
— Se você rir mais uma vez, eu juro que levanto daqui e ...
— E o quê? — disse ela, com as mãos na cintura. — Vai me bater, vai?
— Calma aÃ, gente! Porra, que diabos está acontecendo aqui?
— Conta para ele o que aconteceu! — disse Margareth para Pezão.
— Não. Volta pra cama, fecha esta porta e vamos todos esquecer esta noite.
— Esquecer? Esquecer como? O negócio continua aà preso, não continua?
Pezão fez uma cara de dor que deu até pena.
— Cala esta boca, porra! — disse ele.
— Que história é esta de negócio preso? — disse eu, puto. — Que negócio?
— Seu amigo teve a moral de enterrar um consolo no rabo — disse Margareth, tentando manter a seriedade. — Só não sei como é que ele conseguiu fazer isso!
O quê? Caà na gargalhada, é claro. Imagine quinhentas hienas nuas numa platéia de circo, todas rindo em perfeita sincronia. Imaginou? Azar o seu, não tinha nada a ver com a história.
— Sério? — disse eu.
— Sim! — respondeu Margareth. — E agora está jogando a culpa em mim!
— Não se faz de vÃtima, porra! — gritou Pezão, super irritado. — É claro que foi você, sua biscate maluca!
— Opa, biscate maluca? Biscate maluca é a tua vovozinha, sua bichona!
Ao ouvir a palavra "bichona", Pezão ficou tão puto que tentou sair da cama, mas não conseguiu. Sentiu alguma dor ou sei lá, só sei que voltou a deitar-se, fazendo cara de poucos amigos.
— Olha só o que você fez comigo, porra! E o pior é que não quer sair!
Não sei como eu não ri da situação. Devo estar amadurecendo.
— Muita hora nessa calma — disse eu, tentando apaziguar a situação — E se eu dissesse para vocês que ambos estão errados.
Eles olharam espantados para mim.
— Como assim? — disse Margareth. Ela se desconcentrou e o lençol escapuliu de uma das mãos. Vi um dos seios. Uau! Biquinho rosado, maravilhoso.
Agora eu fiquei desconcentrado.
— Continua, Nando! — disse ela. Margareth não percebeu que seu seio esquerdo estava à mostra.
— Ele está olhando para os seus peitos, porra! — gritou Pezão. — Ajeita este lençol, cacete!
— Nando, seu safado! — disse ela, rindo.
Ela arrumou o lençol. Droga!
— Então, como eu ia dizendo ... — prossegui. — Ambos estão errados. Nenhum de vocês dois enfiou o consolo no cu do Pezão.
Quase caà na gargalhada. Mas me contive.
— Para de graça, Nando — disse Pezão. — Ela sabe muito bem quem foi.
— Não fui eu, cacete!!! — disse Margareth, puta da vida.
— O que está acontecendo aqui?
Margareth e eu tomamos um puta susto. O anão surgiu do nada.
— Alguém pode me explicar? — disse ele.
— Lembra que você deu um sumiço naquela coisa? — disse eu para ele.
— Que coisa? Do que você está falando?
—Â O pinguelo, porra!
— Ah, aquela coisa. Fique sossegado, nunca mais veremos aquela coisa outra vez.
— Tem certeza? — E apontei para o Pezão.
O anão olhou para o Pezão, sem entender porra alguma.
— Não me diga que ele voltou — disse o anão, fazendo cara de poucos amigos.
Fiz sinal de positivo com a cabeça.
— Do que vocês estão falando, porra? — disse Pezão.
— Passa ele pra cá — disse o anão. — Antes que minha esposa o encontre.
— Acho que dessa vez teremos um pequeno problema — disse eu.
—Â Que problema?
— O pinguelo reapareceu num lugar ... desagradável.
—Â Onde?
— Mostra aÃ, querido — disse Margareth.
— Mostrar o caralho!!! — respondeu Pezão, vermelho de vergonha.
— Não é pra mostrar o caralho — disse eu. — Mostra o pinguelo enterrado no seu rabo.
—Â Nem a pau!
E Pezão não mostrou. De certa forma foi até um alÃvio. Não seria uma imagem muito bonita, né? O anão arranjou um pote de vaselina e Margareth voltou para o quarto, com a missão de retirar o pinguelo. A porta ficou trancada o tempo todo.
Meia hora depois, após gritos e gemidos, a porta abriu-se novamente. Margareth apareceu com o pinguelo enrolado num saco plástico.
Corri para o banheiro mais próximo e vomitei horrores. Vomitei o que tinha e o que não tinha no meu estômago. Nunca me senti tão leve em toda a minha vida.
Joguei água no rosto e saà do banheiro um pouco melhor. Não vejo a hora de desabar na cama e dormir até o fim dos tempos. Por hoje chega!
Assim que saà do banheiro, Pezão entrou correndo e fechou a porta com violência.
— Como você sabia da história do pinguelo? — disse Margareth, do nada. Tomei um puta susto.
— Caralho, de onde você saiu?
—Â Desculpa se te assustei.
— Tudo bem — Bocejei. — Olha, posso contar tudo pela manhã? Estou super cansado.
— Não. Tem que ser agora! Tenho que dar uma satisfação para ele, né? — Margareth apontou para a porta do banheiro. — O coitado está apavorado.
— Ele continua achando que foi você?
—Â Acho que sim.
— Coloque-se no lugar dele. Até eu pensaria.
— Eu sei. Mas se não fui eu, e não foi ele. Quem foi então? Como é que aquele consolo foi aparecer no cu dele?
De repente ouvi a voz do gordo, vindo do nosso quarto. Parece estar conversando com alguém.
— Seu primo fala durante o sono? — perguntei para Margareth.
— Que eu saiba, não.
— Então com quem ele está conversando? Pezão está no banheiro e nós estamos aqui.
— A anã deve estar lá no quarto. Ela gostou muito dele.
— E conhecendo seu primo, ele também gostou dela.
— O quê?
— Deixa pra lá.
Do outro lado, ouvimos passos na escada. Era justamente a anã, vindo com uma bandeja cheia de biscoitos e um copo de chocolate quente.
— Cadê o outro rapaz? — disse ela, sorrindo para nós. — Meu marido me disse que ele não está passando muito bem e resolvi trazer uns biscoitinhos.
— A senhora é mesmo um anjo — disse Margareth. — Ele está tomando um banho quente e logo estará melhor.
—Â O que ele tem?
Margareth olhou para mim. Arregalei os olhos e fiz sinal de negativo. Ela voltou a olhar para anã e respondeu calmamente:
— Um pouco de febre, só isso.
—Â Pobrezinho.
Enquanto isso, lá no quarto, o gordo continuava a tagarelar. Mas com quem? Só restou o anão.
— A senhora poderia me dizer onde está o seu marido, dona? — disse eu.
— Está lá na cozinha resolvendo um problema de goteira. Esta chuvarada toda sempre traz alguns probleminhas, não é?
— A senhora tem certeza absoluta que ele está lá?
— Sim, tenho, acabei de falar com ele enquanto preparava os biscoitos. Por quê?
Olhei para o meu quarto novamente. Margareth também. Depois olhamos um para o outro, assustados.
O gordo peçonhento está conversando com quem?