As Aventuras de Nando & Pezão

“O Pai da Magareth”

Capítulo 8 – Hora de Dormir

— Você deu sorte, seu porra — disse ele para mim. — Eu ia te acertar em cheio.

— Ia nada. Meu escudo humano ia abafar o golpe.

— Que escudo humano? — disse Margareth, com um olhar curioso. — Nando, você ia usar o coitado do anão como escudo? Isso não se faz!

— Anão porra nenhuma! Seu primo entrou na minha frente para me defender.

— Sério? Você fez isso, Tim?

— O amor é lindo — disse Pezão.

— Vai se ferrar!

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— Eu só queria me vingar por ele ter escondido o meu iPod — disse o gordinho.

— Nem encostei naquela porra de iPod, moleque!

A anã apareceu do nada, assustando a todos.

— Vocês viram o meu marido?

— Ele estava por aqui agora mesmo — respondeu Margareth.

— O que houve com você? — perguntou a anã para o Pezão.

— Levei um pequeno tombo.

— Nossa, machucou?

— Ele vai ficar bem. Algumas horas de sono e ficará novo em folha.

— Vamos jantar primeiro. O caldo de frango está pronto. Preparei umas torradinhas deliciosas também.

— Hmmmm! Acachapante! — o gordo até lambeu os beiços.

— Acacha o quê?

— Deixa pra lá, dona — disse eu.

Olha, nunca fui muito fã de frango, mas devo admitir que o cheiro vindo da cozinha está qualquer coisa de extraordinário. Meu estômago fazia tanto barulho que parecia uma orquestra desafinada tentando tocar a Quinta Sinfonia de Beethoven.

Milena nos conduziu gentilmente até a sala de jantar, impecavelmente preparada para nos receber. Ficamos todos boquiabertos com tamanha hospitalidade.

— Quantos funcionários possui o hotel? — perguntei.

— São nove, ao todo.

— Tudo aqui é tão limpinho e arrumado! — disse Margareth.

— Foi exatamente por isso que fiz a pergunta.

Milena sorriu de orelha a orelha.

— O hóspede merece, não é? — disse ela. — Este lugar pertence à minha família há gerações. Eu não posso decepcioná-los também.

— Garanto que estão orgulhosos de você — disse Margareth, colocando a mão gentilmente sobre o ombro da anã.

— Onde estão as torradinhas? — disse o gordinho peçonhento. — Adoro torradinhas com alho.

— Como sabe que preparei as torradas com alho?

O moleque deu duas cafungadas no ar.

— Reconheço este cheirinho de longe — disse ele, sorrindo feito um ex-prisioneiro que acabou de ser solto.

— Você é adorável! Algo em você me faz lembrar o meu falecido irmão.

O rosto da anã ficou triste. Margareth também percebeu.

— Quer uma ajuda para servir os pratos? — disse ela.

— Não precisa, querida.

— Não preciso. Mas eu insisto! — e ela abriu um sorriso para a anã.

Se eu confessar algo para vocês, prometem não contar nada para o Pezão? Estou começando a gostar da Margareth. Eu sei, eu sei! Ela é namorada do meu melhor amigo, mas não tenho culpa! Ela tem um sorriso encantador e ... ah, deixa pra lá! Acho que se eu me esforçar um pouco isso passa. Ou melhor, TEM que passar! Os dois estão bem juntos e seria uma tremenda sacanagem eu atrapalhar isso. Não concordam?

As duas foram para a cozinha. Restamos os três. Após um tempo, percebi que Pezão me olhava de forma estranha.

— O que foi? — disse eu.

— Eu vi muito bem o jeito que você olhou para a Margareth aquela hora.

— Que hora?

— Quando ela passou enrolada na toalha. Não se faça de bobo!

— Não viaja, cara!

— Não estou no Big Brother — disse o gordo. — , mas até eu dei uma espiadinha.

Pezão fez um cara de pouquíssimos amigos.

— Ela é sua prima, porra! — disse ele, puto. — Além de balofo é psicopata 

— Nisso eu concordo com você — falei. E olhei para o gordo. — Você tem uma tremenda cara de pervertido!

— Vocês dois precisam se decidir — retrucou o gordinho. — Tenho cara de psicopata ou de pervertido? São duas coisas bem diferentes!

— Psicopata — disse Pezão.

— Pervertido — disse eu, praticamente junto com o Pezão.

— Gerontófilo — disse o gordinho, depois.

Ficamos olhando para ele, sem entender porra nenhuma.

— Geron o quê? — disse eu.

— Gerontófilo — disse o gordinho, lentamente. — Isso eu admito.

— Significa Super Gay? — disse Pezão.

O gordinho olhou sério para ele, e disse:

— Além de cuzão é ignorante.

— Gerontófilo? — falei, coçando a cabeça e tentando não parecer tão ignorante feito o Pezão. — Bom, se um pedófilo é quem sente atração sexual por crianças ...

— Porra, então eu já sei! — disse Pezão. — Gerontófilo é quem tem atração sexual por gerentes! O balofo é bicha, eu sabia!

O gordinho balançou a cabeça negativamente, mantendo um olhar irônico para o Pezão.

— Você não passou nem perto. E tem mais, você não sabia que também existem mulheres gerentes, seu idiota?

— Mas aposto que você prefere os gerentes homens.

O moleque continuou balançando a cabeça negativamente. Vou ser honesto, até eu comecei a me sentir um idiota naquela mesa. O gordo parecia o adulto e nós as crianças.

— Para o bem da minha prima, espero que o seu pinto seja maior que o seu Q.I.

Caralho!!! O gordinho humilhou!!! Tive que me segurar para não cair da cadeira.

— Sim, ele é dez vezes maior! — retrucou Pezão.

O gordinho olhou para mim e começamos a rir feito hienas comemorando uma vitória do Brasil na Copa do Mundo de futebol. Pezão ficou puto pra caralho.

— Pelo menos eu não transo com gerentes, suas bichonas! — disse ele.

— Porra! — esbravejei. — Que diabos significa gerontófilo? Isso existe mesmo?

— Existe sim. Eu também não sabia que o nome era este. Achei no Google.

— Você tem tara por girafas ou algo do gênero? Conta aí, cacete!

O gordinho fez uma concha ao redor do meu ouvido e cochichou a resposta. Pezão, do outro lado da mesa, ficou ainda mais puto.

— São duas bichonas mesmo, olha! Agora trocam segredinhos.

Putz!!! O gordinho é doente!!!

— Então é isso que significa gerontófilo? — disse eu em voz alta, tentando irritar ainda mais o Pezão.

Milena e Margareth voltaram da cozinha; cada uma com uma panela nas mãos. O gordinho fez sinal para que eu ficasse quieto. Acho que a prima não sabe que ele é um gerontófilo. Bom, se é que isso existe mesmo, né?

Percebendo a preocupação do moleque, Pezão resolveu contra-atacar.

— Você sabia que seu primo é gerontópitus, Ma?

Margareth olhou para ele com uma cara meio esquisita, quase rindo.

— O quê?

— Gerontrópicus, sei lá! Você sabia?

— Gerontrópicus é uma espécie de vegetariano, né? — disse a anã. — Tudo bem, meus queridos! Também fiz um pouco de salada, viu?

— O Tim, vegetariano? — e Margareth caiu na gargalhada. — Aquele ali só não come as próprias mãos por que precisa delas para ... — ela ficou vermelha e parou. — Deixa pra lá.

— Porra, não é vegetariano! — disse Pezão, irritado. — Eu esqueci a palavra!

— Do que vocês estavam falando? Ouvi risos escandalosos lá da cozinha.

— Nós viemos aqui para comer ou para conversar? — disse eu, tentando colocar um fim na discussão que estava prestes a começar.

E olha que eu tinha algo a dizer para o Pezão, caso ele não parasse com as provocações. Vou deixá-los curiosos só mais um pouquinho ... Pezão, tecnicamente também já praticou gerontofilia uma vez na vida. E creio que eu também ... só um pouquinho!!!

Oh, voltem aqui!!! Nada de ficar no Google pesquisando o que é gerontofilia. Deixem para fazer isso depois, porra!!! O capítulo ainda não acabou!!!

O anão finalmente reapareceu. Milena olhou feio para o esposo.

— Eu já estava ficando preocupada!

— Não havia motivos para isso, querida. Só fui lá fora colher umas goiabas para aquela torta que você quer fazer amanhã.

Era mentira, claro. Ele havia saído para dar um fim no pinguelo assombrado.

Bom, e espero que ele tenha conseguido. Aquele negócio estava começando a me dar nos nervos.

O jantar foi maravilhoso. O tal do caldinho de frango estava uma delícia! Comi dois pratos e ainda lambi os beiços. A sobremesa foi uma torta de banana com calda caramelada. Apesar do nome soar meio gay, estava muito boa. E olha que eu nem sou muito fã de doces.

Já era tarde e precisávamos descansar. Milena e Margareth começaram a retirar os pratos. Do nada, o gordo começou a rir, praticamente sozinho. Parecia um debilóide.

— Comeu cocô, moleque? — perguntei. — Do que você está rindo?

Ele continuou rindo.

Até que de repente eu entendi o motivo das risadas. O filho-da-mãe havia colocado um para a gente cheirar. Puta merda!!! Bateu uma marola quente do meu lado que eu vou contar para vocês, quase desmaiei.

O gordinho peçonhento comeu a bandeja inteira de torradas com alho. Imaginem o estrago que isso faz!!! Meu, coitado de quem dormir no mesmo quarto que ele esta noite. Esperem um pouco, serei eu!!! Tô fodido.

Poucos segundos depois, a marola passou para o outro lado da mesa, atingindo Pezão e o anão.

— Caralho, gordo! — resmungou Pezão, colocando as mãos sobre o nariz. — Pode encomendar o caixão! Puta merda! Vai cagar no banheiro, porra!

Pensei que o anão fosse fazer cara feia e deixar a mesa, mas por fim ele acabou rindo da situação (com as mãos no nariz também, é claro).

Aproveitei que a Milena estava na cozinha com a Margareth e sussurrei algo para o anão:

— Conseguiu dar um fim naquela coisa?

Ele ajeitou-se na cadeira e sussurrou de volta:

— Sim. Espero não ver aquela coisa nojenta nunca mais.

— O que você fez? — sussurrou o gordo.

— Peguei o meu machado e o parti em centenas de pedaços. Depois queimei tudo e enterrei as cinzas.

Pezão ficou olhando assustado para nós.

— Do que vocês estão falando?

— Fala baixo, porra! — disse eu, dando uma olhada rápida para a cozinha.

— Não é nada — disse o anão. — Esquece.

— Porra, mais segredos?

Hora de dormir.

Antes de abrir a porta do quarto eu tive a sensação de que o pinguelo assombrado estaria sobre a minha cama. E ... eu estava errado. Não havia nada lá, a não ser um par de cobertores. 

A vida real é diferente, e geralmente sem graça. Ainda bem.

Mas ... se estivéssemos dentro de um filme de terror, aposto que haveria alguma coisa sobre a cama, provavelmente o corpo mumificado do anão gay. Que tal, hein? Seria bizarro. Daria um bom filme.

Bom, se o gordinho encontrar a múmia sobre a cama dele, basta ele peidar como peidou lá na sala de jantar. Não terá maiores problemas. Múmias resistem ao tempo, mas aposto que não sobreviveriam a um peido como aquele.

Já nos preparávamos para dormir, quando a luz do quarto acendeu. O gordinho e eu tomamos um puta susto.

— O que foi? — era Margareth. Ela começou a rir ao ver nossas caras de espanto. — Assustei vocês?

— Claro que não! — disse o gordo, nitidamente pálido.

Porra, eu tentando apagar a imagem dela enrolada na toalha e agora isso? Ela está com um pijama super apertado. Tão apertado que dá pra ver o contorno dos mamilos. Tive que fazer um esforço enorme para não olhar.

— Vim dar boa noite — disse ela, beijando a testa do gordinho.

— Que pijama é este? — disse ele, rindo. — Está tão apertado que se você peidar, o coitado não vai achar a saída.

Caímos na gargalhada.

— Este pijama é da Milena — sussurrou Margareth. — Eu não queria usar, mas ela praticamente me obrigou. Acho até que rasgou quando comecei a vesti-lo.

— Deve estar muito desconfortável — disse eu.

— E como!!! Mas assim que eu voltar para o meu quarto irei tirá-lo.

Putz!!! Tive uma ereção instantânea. Imaginei ela peladinha aqui do meu lado. Nossa, que delícia!!! Maldito Pezão sortudo do caralho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ela apagou a luz e deixou o quarto, mas a minha ereção durou mais uns oito minutos. Minto, durou mais.

— Nando — disse o gordo, de repente.

— Oi. Não peidou outra vez, né?

— Não, de boa. Posso te fazer uma pergunta?

— Manda.

— Você já fez sexo, né?

— Opa, muitas vezes.

— E é bom mesmo?

— É horrível, dá vontade de vomitar.

— Sério?

— Lógico que não, né? Porra, gordo! Às vezes você parece tão inteligente!

— Eu leio bastante. Mas me falta prática, sabe?

— Fica frio, a sua vez vai chegar.

Silêncio. E o gordinho recomeçou o papo.

— Uma vez quase rolou, sabe?

— Sério? Já sei, com a vizinha, a coroa.

— Como você sabe?

— Gordo, eu não leio bastante como você, mas não sou idiota!

— É, eu já percebi. Já o seu amigo é uma anta humana.

— Às vezes é mesmo.

— Eu queria que a minha prima namorasse você.

— Eu também.

— O quê? Sério? Você gosta dela?

Putz!!! Oh, boca maldita!!!

— Não, falei por brincadeira. Vamos voltar ao assunto sobre você e a vizinha. Então quase rolou?

— Sim, ela me pediu pra fazer massagem.

— Hmmmmmmm, safadinha! E você fez?

— Bom, eu ... fiz, né? Mas aí ela tirou a blusa e ...

O gordo empacou. Será que dormiu?

— Porra, continua! Está ficando quente a história.

— É meio embaraçoso o que aconteceu.

— Você gozou ao vê-la sem blusa?

— Ahã. Ela estava com um sutiã marrom. Nunca vou me esquecer daquela cena.

— Puta merda, sutiã marrom? Vai ter mau gosto assim lá na casa do caralho!

— Não fala assim!

— E daí? A história acaba desse jeito? Você não deu nem uma chupada nos peitos da velha?

— Nem. Fiquei com tanta vergonha que fui correndo pra casa.

— Porra, mais uns minutinhos e o garoto ia ficar pronto pra guerra outra vez.

— Sério? É rápido assim?

— Bom, às vezes é, às vezes nem tanto. Pinto é um negócio misterioso.

Silêncio. Pensei que o gordinho fosse me deixar em paz. Mas não.

— Posso te contar um segredo?

— Pode ser amanhã bem cedinho? Estou morrendo de sono.

— É rapidão. É sobre um pesadelo que eu costumo ter, desde aquele dia.

— Pesadelo, é? Conta aí.

— No pesadelo eu transo com ela.

— Porra, então não é pesadelo! Pesadelo foi você ter gozado na cueca.

— Espera. Não terminei de contar. Ela morre durante a transa.

— Putz!!! Então é pesadelo mesmo. Posso dormir agora?

— Tem mais. Ela morre e enterram.

— Lógico. É o que fazem quando a gente morre, gordo.

— Eu sei. Mas aí, nove meses depois, nasce o nosso filho.

— O quê? Mas como? Não enterraram a velha?

— Sim, mas o bebê nasceu e veio atrás de mim.

— Caralho!!! Até arrepiei agora.

— Desde aquele dia eu tenho este mesmo pesadelo.

— Fica frio. Talvez isso não seja um pesadelo, mas sim um aviso.

— Aviso?

— Sim. Para que você use camisinha, seu imbecil!!!

Rimos bastante. Depois ele finalmente ficou quieto.

A noite seguiu tranqüila e calma. Os cobertores quentinhos e aconchegantes. Lá fora um barulhinho de chuva. Tudo propício para uma maravilhosa noite de sono.

Bom, estava propício, até que um grito apavorante ecoou por todo o hotel. E até que se prove o contrário, o grito foi dado pelo Pezão.