“O Pai da Magareth”
CapÃtulo 4 – Monize
— Que bonitinho! — disse Monize, como se estivesse falando com um bebezinho.
— Obrigado, obrigado — disse eu, todo convencido.
— Não! — disse Monize, apontando para a escada. — Olhem, o gorduchinho! Que gracinha, gente!
Meu, juro pra vocês, eu quase caà da cadeira de tanto que eu ria.
Pobre gordinho psicótico. Tá fodido comigo.
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Acreditem se quiser, mas o moleque apareceu vestido com um shorts azul bem suspeito e, agora a melhor parte, uma camiseta Hello Kitty!!!
— Você está um perfeito MGI — disse eu, tentando parecer sério.
—Â MGI ? —Â perguntou Monize.
—Â Sim. Mais Gay? ImpossÃvel!!!
— Deixa o gordo sair do armário em paz — disse Pezão, fazendo aquela cara de filho-da-puta de sempre.
— Ah, parem com isso, vocês dois! — resmungou Margareth.
— Tudo bem, prima — disse o gordinho, calmo feito um monge. — Estou em dia com minha masculinidade. Só não sou mais homem por falta de barba.
— Tem certeza? — falei, rindo. — Esta blusinha Hello Kitty ficou uma graça e combina direitinho com sua masculinidade, viu?
— Ainda não entendi o motivo da gozação — disse Monize. — Meu sobrinho usa esta blusa e ninguém fala nada. Ele adora.
— Então seu sobrinho é uma tremenda bichona!!! — disse Pezão, e depois cortou um pedaço de lingüiça com a maior tranqüilidade, como se não tivesse dito nada.
— O quê? — Monize ficou super sem graça. Após uma encarada no gordinho, ela olhou na direção da Margareth e disse: — Será?
— Bom, Hello Kitty não é algo muito comum entre os meninos, né? Mas talvez não tenha nada a ...
— Acreditam que eu nunca reparei nisso? Mas pensando bem, ele até que leva jeito mesmo ... — E Monize fez uma careta. — Ai, caraca!!!
—Â O que foi?
— Deixa pra lá. Nada.
— Pode dizer! Está entre amigos.
—Â Acho que de certa forma a culpa foi minha.
— Bobagem. Quem é gay já nasce gay.
— Mas eu posso ter dado uma forcinha. Uma vez ele estava fuçando nas minhas gavetas e achou um ...
Antes que Monize completasse a frase, Margareth teve um ataque de risos descomunal. Todos no restaurante ficaram olhando para a nossa mesa. Quando notou os olhares, Margareth ficou vermelha feito um pimentão.
— Perdão, foi sem querer.
— Tudo bem, querida — E Monize ficou olhando para mim. — Você deve estar pensando besteiras a meu respeito, não?
— Desde a hora em que te vi — respondi, pegando a coroa totalmente de surpresa.
—Â UAU!
Nossa, os olhos da loira brilharam. Seus seios quase saltaram do decote. Aposto 1 milhão de dólares que ela ficou excitada com a resposta.
Após uma longa troca de olhares comigo, Monize virou-se para o gordinho Hello Kitty e disse:
— Você deve estar faminto, não? Vamos lá embaixo preparar um prato pra você. Enquanto você almoça irei buscar algo menos ... fru-fru. De acordo?
— Posso comer um boi — respondeu o gordo.
— Se depender da sua barriga, diria que já comeu uns três — disse eu.
Monize levantou-se e olhou para mim, dizendo:
—Â Vem com a gente.
Uhuuuuuuu!!! Nando Júnior vai se dar bem!!!
Margareth olhava para mim e sorria, balançando a cabeça para um lado e para o outro.
Monize e o gordo foram na frente. A coroa sabia que eu a observava, portanto fez questão de descer a escada rebolando cada milÃmetro do seu lindo corpo. E que belo corpo!!! Conheço muita garota de 19 anos que não chega aos pés dela. Ai que vontade de transar com ela ali mesmo, com a clientela toda do restaurante olhando para nós.Â
Por que você fez esta cara de espanto? Não posso ter fantasias, porra?
Largamos o gordinho psicopata com o prato nas mãos e Monize me arrastou para sua casa atrás do restaurante. E que casa!!!
Logo de cara uma piscina enorme. Um mergulho cairia super bem, mas o tesão era tanto que nem tivemos tempo para pensar nisso. Quando vi já estávamos na sala, seminus. Monize de calcinha preta e uma sandália no pé direito; eu de cueca e meia. Foi tudo tão rápido. Nem me lembro de como nossas roupas foram arrancadas.
Eu sei que para o público feminino isso não vai ter a menor graça, mas vou ter que contar ... os seios da Monize são os mais perfeitos que eu já vi em toda a minha vida. Fiquei hipnotizado olhando para eles.
— Gostou? São novinhos em folha!!! — disse ela, super orgulhosa.
— Sério? Silicone? Mas parecem tão ....
— Naturais? Que bom! Também, pelo preço que ... eu paguei.
Dane-se!!! Falsos ou naturais, vou cair de boca!!! E caà mesmo, com gosto. Joguei Monize no sofá, tirei sua calcinha com um puxão tão forte que ela foi parar sobre a TV de plasma. Havia tanta eletricidade no ar que deve ter saÃdo faÃsca quando me deitei ela. Suas mãos quentes passeavam pelo meu corpo e rapidamente senti minha cueca sendo jogada longe. Talvez tenha caÃdo sobre a TV de plasma também.
— Pega a camisinha — sussurrou ela no meu ouvido, ofegante.
— Onde? — respondi, após um chupão no seu pescoço.
— Você não trouxe? — ela me arranhava as costas de forma tão gostosa que quase apaguei de tanto tesão.
— Acho que tinha um par no bolso da minha calça, mas não faço a menor idéia de onde ela esteja.
Começamos a rir.
— Espera aqui — disse ela, após me morder a orelha. — Vou num pé e volto no outro.
— Tá.
Mas não foi bem assim que tudo aconteceu.
Eu não tinha relógio ou celular para marcar os minutos, mas garanto que pelo menos uns 5 minutos se passaram até o momento em que eu comecei a ouvir barulhos no portão, perto da piscina. Por um instante pensei que fosse ela. Tudo bem que seria um absurdo ela ter saÃdo por um canto e reaparecer lá no portão. Mas eu precisava pensar positivo, né?
Só que não adiantou nada. Não era ela. Era um homem. Um tiozão, de uns cinqüenta e tantos anos. Cabelos grisalhos, usa óculos escuros, vestia um terno azul-marinho daqueles que custam mais do que eu já faturei em toda a minha breve existência.
Entrei em pânico.
Me joguei por trás do sofá e me rastejei até a cozinha. A porra da porta estava trancada, fui obrigado a voltar para a sala. Tentei localizar minhas roupas, mas a única peça que consegui enxergar foi minha cueca caÃda sobre o tapete. Tarde demais, se eu tentasse pegar a cueca seria visto pelo tiozão do terno.
Só me restou uma alternativa: subir a escada que havia ao lado da porta da cozinha. Subi feito um ninja. Praticamente no final da escada encontrei Monize, vindo toda sorridente e insinuante. Quase fiquei de pau duro outra vez.
Ela nem fazia idéia de que tÃnhamos companhia.
— Mô, está em casa? — disse o homem do terno.
— Ai, caraca!!! — Monize ficou branca de repente. — Ele chegou!!!
— Quem é ele?
Monize me puxou pelo braço e me arrastou até um quartinho no fim do corredor. Por fim me respondeu, meio sem graça:
—Â Meu marido.
—Â Marido?
Puta merda!!!
— Por que você não me disse que era casada?
— Você não me perguntou, ora!
Porra!!!
— E agora? Minhas roupas estão todas lá ...
— Tem um homem morto aà com você — gritou o homem do terno, enfurecido.
Os passos da escada ficavam cada vez mais altos e assustadores. Monize fechou a porta do quartinho e pediu para que eu a trancasse. Eu a obedeci, é lógico.
Bom, acho que agora será mesmo o meu fim. Foi um prazer enorme ter compartilhado boa parte da minha vida com vocês, galera. Tudo de bom para vocês. Sobre Ubatuba, perguntem para o Pezão, OK?
— Oi, amorzão — disse Monize para o marido. Foi tão falso que nem o homem mais apaixonado do mundo acreditaria.
— Amorzão é a puta que te pariu, sua vaca!!!
É, tô morto.
—Â O que foi, meu bem?
— Pára de cena, Monize! Você acha que eu não vi aquela cueca lá na sala? E se você me disser que é minha eu quebro a tua cara!
— Claro que é sua!
E deu para ouvir o tapão que o cara deu na Monize. Putz, doeu até em mim.
— Onde está o covarde filho a puta?
— Não tem ninguém aqui. Aquela cueca caiu do baú quando a empregada levou para lavar e ...
Outro tapa. Este ainda mais violento que outro.Â
Quando Monize começou a chorar, senti um aperto tão grande no coração. Aquilo mexeu demais comigo. Decidi fazer uma loucura: abrir a porta. Fiquei frente a frente com o tiozão do terno.
— Vem bater em mim, seu covarde da porra!!! — disse eu.
Ele ficou me olhando, dos pés a cabeça. Só neste momento me dei conta de que estava totalmente nu.
— Foi com isso aà que você me traiu, Monize? Um moleque?
— Um moleque que conseguiu me deixar mais molhada do que você em todos estes anos!!!
Quando o tiozão ergueu a mão para bater nela novamente eu não deixei. Segurei o braço dele e com a minha outra mão lhe soquei o estômago. O coroa foi ao chão. Monize era um mix de satisfação e tristeza. Ela não sabia se me ajudava a fugir ou se ajudava o marido a se levantar. Seu coração estava dividido.
— Some daqui, garoto! — disse o tiozão, sentado no chão. — Se você dá valor a sua vida, some já daqui.
— Vá — disse Monize, me olhando com olhos tristes e protetores. — Prometo que nada irá lhe acontecer.
— Você teve muita sorte, moleque — disse o tiozão. — Quando você abriu aquela porta, era para eu estar armado. E hoje teria sido o seu último dia entre os vivos. Jamais se esqueça disso. Hoje você nasceu de novo, seu filho de uma puta.
— Homem que bate em mulher não tem moral alguma pra vir me dar sermão. Vá se foder.
E saÃ.
Das minhas roupas não consegui achar uma das meias e a minha camisa. Mas também não insisti muito na procura. Eu queria sumir daquela casa.
Meu celular acusava 42 ligações não atendidas. Trinta delas vindas do celular da Margareth e o restante do celular do Pezão.
Cheguei a pensar que eles haviam partido sem mim, mas para a minha sorte eu estava enganado. O carro continuava estacionado no mesmo lugar.Â
Margareth, ao me ver, desceu do carro e me deu um abraço. Até estranhei.
— Você está vivo, safado! — disse ela, sorrindo para mim.
—Â Acho que estou.
— A perua é casada, né? Quase tive um treco quando um dos garçons veio nos contar que o marido dela havia retornado mais cedo de uma viagem. Ele viu você e a perua no maior love atrás do restaurante.
— Pois é. Por muito pouco não deu bosta.
Entrei no carro. Pezão ficou me encarando.
— Comeu, pelo menos? — disse ele.
— MaurÃcio!!!!!!!!!! — gritou Margareth, fula da vida com ele.
E Pezão saiu cantando os pneus.
De repente o gordinho tirou a camisa da Hello Kitty e jogou pela janela. Suas banhas gelatinosas me fizeram rir.
— Está rindo do quê? — disse o gordo, invocado.
— Nada. É que você me lembra um amigo nosso que morreu.
— Puta merda, é verdade!!! — disse Pezão. — O Mamutão!!!
— É, ele mesmo. Saudade do bunda gorda dos infernos.
Após alguns segundos de silêncio, o gordinho solta isso:
—Â Aquela maldita camiseta estava mexendo com a minha masculinidade.
—Â Aposto que estava.
—Â Nando.
—Â Diga.
— Se eu tentar beijar você, promete me empurrar para fora do carro?
—Â Claro.
— Promete? Sem dó? Sem misericórdia? Me empurra mesmo? Até meu corpo rolar no asfalto e minhas tripas saltarem para fora?
— Prometo. E antes ainda chuto o seu saco.
— Legal. Até que você não é tão esquisito assim.
—Â Valeu.
— Vem aqui, agora me dá um beijinho.
— Sai pra lá, gordo peçonhento!!!
— Brincadeirinha!!! Brincadeirinha!!! Não me empurra pra fora do carro!!!
E todos começamos a rir feito bobos. Ou melhor, feito hienas idiotas.
A viagem prossegue.